O termo dismenorreia é derivado do grego e significa fluxo menstrual difícil. As estimativas sugerem que cerca de 25 a 50% das mulheres adultas e cerca de 75% das adolescentes sentem dor durante a menstruação e 5 a 20% das mulheres sentem uma dor grave que as impedem de prosseguir com suas atividades habituais, ocasionando altos índices de absenteísmo ao trabalho e à escola.
É uma síndrome caracterizada por um ou mais sintomas que se manifestam no período pré e perimenstrual. O termo “tensão pré-menstrual” descreve amplamente os sintomas físicos e emocionais que ocorrem antes do período menstrual. Dentre os sintomas, labilidade emocional, sensação de inabilidade, choro, propensão a crises de raiva, distensão na região hipogástrica e nas mamas e alterações do sono são comumente relatados durante o período que precede a menstruação. Os sintomas podem ser extremamente severos, gerando agressividade e perda de controle. Podem ter início um dia até duas semanas antes do período menstrual.
A dor tipo cólica habitualmente inicia no abdômen inferior e, ocasionalmente, é descrita como dor ou peso no hipogástrio, podendo irradiar-se para a região lombar e face interna das coxas Geralmente é mais intensa no primeiro dia da menstruação e, em mais de cinquenta por cento dos casos, é acompanhada por outros sintomas como náuseas, vômitos, palidez, mastalgias, cefaleia, vertigem e sensação de frio.
Quanto à sua etiologia, a dismenorreia pode ser classificada como primária ou funcional, e secundária ou orgânica.
Dismenorreia primária
A forma primária se caracteriza por não apresentar causa orgânica que a justifique e é o tipo mais comumente diagnosticado entre as adolescentes. Coincide com o início dos ciclos ovulatórios e regulares, o que costuma ocorrer com maior frequência cerca de dois anos após a menarca. A maioria das adolescentes apresenta uma menarca indolor, iniciando com algum desconforto meses ou anos após a primeira menstruação. A partir dos primeiros episódios de cólicas, a frequência eleva-se continuamente, alcançando um pico máximo por volta de 20 anos de idade e diminui a partir daí. .De modo geral, a dismenorreia primária costuma iniciar no primeiro dia do fluxo menstrual, ou imediatamente a este e apresentar duração de poucas horas a alguns dias.
Dismenorreia secundária
A forma secundária compreende cerca de cinco por cento das dismenorreias, onde existe uma causa orgânica para a dor. Nestes casos, a dor pode se apresentar de modo atípico imediatamente a partir da menarca ou numa idade mais avançada. A dor associada à dismenorreia secundária depende da causa básica. Dentre as causas de dismenorreia secundária com origem ginecológica, as mais comuns são: inflamações pélvicas, varizes pélvicas, tumores pélvicos, adenomiose, endometriose, pólipos, miomas, uso de DIU, cistos ovarianos, estenose cervical e malformações congênitas do trato genito-urinário.
Uma abordagem terapêutica adequada deve considerar o tratamento durante a crise e, também, nos intervalos entre elas. O manejo das crises possui uma conotação paliativa e de emergência na qual se recomenda repouso, analgesia, antiespasmódicos, calor local e até ansiolíticos em casos selecionados. O tratamento fora das crises visa à cura da paciente, sendo profilático na dismenorreia primária através do uso de anti-inflamatórios e de anticoncepcionais orais, e terapêutico nos casos orgânicos, sendo direcionado à patologia de base. Os anti-inflamatórios não esteroides constituem a primeira escolha na terapêutica da dismenorreia primária e seu mecanismo de ação envolve a redução da síntese de prostaglandinas, bem como uma ação analgésica central. Os contraceptivos hormonais orais diminuem a dismenorreia por sua ação anovulatória, bem como promovendo hipoplasia endometrial, diminuindo o fluxo menstrual e reduzindo os níveis de prostaglandinas. É necessário atentar para os efeitos indesejados dos anovulatórios, como cefaleia, náuseas, alterações do fluxo, aumento de peso, acne, alterações do humor e diminuição da libido e risco aumentado de trombose. Da mesma forma o uso indiscriminado de anti-inflamatórios pode ocasionar reações medicamentosas graves além de sangramento digestivo e insuficiência renal.
Acupuntura para tratamento de dismenorreia
Para a Medicina Tradicional Chinesa, os quadros de dismenorreia primária podem ser devidos a múltiplos fatores, quais sejam emocionais (raiva, frustração, estresse, ressentimento), climáticos (frio e umidade excessivos), alimentares (gorduras, doces, derivados do leite de vaca), deficiências constitucionais e doenças prolongadas na infância. Ainda que nas últimas revisões bibliográficas não tenham sido encontradas fortes evidências da eficácia do tratamento (pela carência de estudos controlados), o método tem sido empregado com sucesso, tanto para o alívio das cólicas como para o alívio dos sintomas secundários (cefaleia, irritabilidade, náuseas e outros) nos casos de dismenorreia primária.
Nos casos da dismenorreia secundária, ou seja, quando há uma causa orgânica diagnosticada, os sintomas podem ser amenizados dependendo do estágio evolutivo da doença, mas é imprescindível que o tratamento convencional seja instituído, principalmente nos casos cirúrgicos.
O tratamento tipicamente consiste no emprego de sessões uma a duas vezes na semana, e a escolha de pontos varia de acordo com o diagnóstico sindrômico e o período do ciclo menstrual. De uma forma geral, o tratamento é feito inicialmente durante três ciclos menstruais para que se possa fazer uma avaliação geral, e as dores podem desaparecer logo no primeiro ciclo ou gradativamente nos ciclos seguintes.
A grande vantagem deste tipo de tratamento, além de ser um método pouco invasivo, natural e sem efeitos secundários, é o fato de ter em conta a “raiz” do problema e o resultado prolongar-se muito para além do tratamento em si. Dessa forma, a paciente que inicia o tratamento com acupuntura pode observar progressiva melhora dos sintomas dolorosos, além da regularização do ciclo menstrual e da melhora do humor. Não é incomum a paciente chegar ao consultório e dizer que a tensão pré menstrual sumiu e que ela pode finalmente executar as atividades diárias sem dificuldade.
Autora: Lourdes Soares
fonte: PEBMED