por Lourdes Soares
A paralisia facial periférica é uma patologia frequente na prática médica, que acomete indivíduos de todas as idades e ambos os sexos. Caracteriza-se pela diminuição ou abolição, temporária ou não, das funções do nervo facial em sua porção periférica, resultando clinicamente em assimetria facial, com diminuição da mímica, alterações da sensibilidade, diminuição da secreção salivar e lacrimal e alterações gustativas e auditivas do lado afetado.
O paciente apresenta apagamento do sulco nasogeniano, das rugas da fronte, piscamento lento, diminuído e incompleto, assim como desvio da comissura labial para o lado são. A tentativa de fechamento ocular resulta em lagoftalmo e o sinal de Bell (desvio do globo ocular para cima). A bochecha não infla completamente e o paciente tem dificuldade de reter líquidos na boca. A deglutição e a fala podem estar afetadas.
A forma mais comum é de causa idiopática/incerta, embora possa ser atribuída a infecções virais inespecíficas, processos inflamatórios, exposição ao frio e causas psicossomáticas. De início súbito, tem evolução favorável, com recuperação completa em até 80% dos casos. Para o tratamento estão indicados o uso de corticoide e drogas antivirais.
É necessário investigar outras etiologias que necessitam de tratamento específico, como infecções bacterianas, traumas, tumores, intoxicações e doenças metabólicas. Um correto diagnóstico etiológico faz-se necessário para determinar o tratamento e diminuir a incidência de sequelas, que pode chegar a 30% dos casos.
Além do tratamento específico, outras medidas são importantes para promover a recuperação o mais rápido possível, visto que o quadro clínico gera muita apreensão e transtornos físicos e emocionais ao paciente, impedindo suas atividades diárias. Os cuidados oculares são de extrema importância dado o fechamento ocular incompleto e a insuficiente secreção lacrimal, para prevenir a ceratoconjuntivite e a ulceração da córnea. A fisioterapia atua para restabelecer o tônus e promover o alongamento da musculatura facial, prevenindo contraturas e sincinesias.
A fonoterapia está indicada sempre que houver alterações de fala, da mímica facial, da mastigação e da deglutição. Não se deve também esquecer o suporte psicológico ao paciente desde o diagnóstico até a recuperação. O tratamento da paralisia facial periférica com acupuntura é aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para a medicina tradicional chinesa, paralisia facial se deriva de uma obstrução na circulação de Energia e Sangue nos meridianos que se estendem pela região facial devido à invasão dos fatores patógenos e exógenos de Vento e Frio.
Na paralisia de Bell, considera-se que o tratamento com acupuntura aumenta a excitabilidade do nervo facial, diminui o processo inflamatório, melhora a contração muscular, a circulação sanguínea e a nutrição tecidual, auxilia na dispersão do ciclo espasmo – dor, pois promove analgesia e relaxamento muscular, e inibe os reflexos patológicos que resultam em sincinesias. Na prática clínica, costumamos iniciar o tratamento o mais precoce possível e preconizamos sessões duas vezes por semana com pontos sistêmicos e locais até a recuperação, e os resultados podem ser vistos logo após a primeira sessão.
Para isso, é necessário que os colegas médicos referenciem o paciente para o acupunturiatra logo após o diagnóstico. Vários estudos têm demonstrado a eficácia do tratamento, tanto para agilizar a recuperação quanto para diminuir a incidência de sequelas, e verificamos que quanto mais precoce é iniciado o tratamento melhor é o resultado.
Entretanto, as duas revisões Cochrane (publicadas em 2004 e em 2010) não puderam validar a eficácia do tratamento pois consideraram os estudos existentes de baixa qualidade metodológica. Em verdade, o tratamento é individualizado e baseado em princípios da Medicina Tradicional Chinesa e no diagnóstico sindrômico de cada paciente, o que dificulta a padronização da prescrição de pontos e a seleção dos grupos.
Além disso, o processo de recuperação da paralisia facial periférica depende do tipo de lesão, da extensão dos danos e da colaboração do paciente. Mais estudos fazem-se necessários para que se consiga levantar evidências científicas e corroborar os resultados.
fonte: PEBMED