Artigo baseado no TCC de pós-graduação em Acupuntura das alunas Camila Milani e Juliana M. Menezes.
A Rinite Alérgica é definida na medicina ocidental como uma inflamação da mucosa do revestimento nasal, decorrente de uma reação de hipersensibilidade, mediada por anticorpos de classe IgE, após a exposição desta mucosa aos alérgenos, principalmente os constituintes do pó domiciliar, sendo os ácaros os mais importantes. As alergias atingem cerca de 30% da população mundial, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Cerca de 40% dos brasileiros sofrem com doenças alérgicas. A RA é pouco diagnosticada porque as pessoas têm a falsa ideia de ser apenas um resfriado e não procuram assistência médica.
Além disto, a RA correlaciona-se a outras doenças; cerca de 60 a 80% dos asmáticos (Liam C, 2002) e 30% dos pacientes com eczema apresentam rinite (Ricci G, 2003); além de predispor a SAHOS (síndrome da hipopnéia obstrutiva do sono) e, sobretudo em crianças, predispõe as frequentes infecções de vias aéreas superiores, otites, perda de concentração e sonolência diurnos (Goldman L, 2001; Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, 2006).
A alta prevalência de RA, acarreta uma piora na qualidade de vida, custos do tratamento, e presença de comorbidades como a asma, sinusites e otites média, causando um enorme impacto na sociedade (Skoner DP, 2001). Além dos sintomas próprios da doença, a RA pode provocar outros efeitos que deterioram a qualidade e a atividade profissional de seu portador, como fadiga, distúrbios das habilidades cognitivas, irritação, ansiedade, depressão, desatenção e constrangimentos. A severidade varia de leve a grave debilidade. Não somente a doença, mas também a medicação pode influenciar a produtividade no trabalho. Pacientes que usam anti-histamínicos são mais suscetíveis a danos a sua saúde. O quadro clínico se caracteriza por espirros, congestão nasal, rinorreia hialina, prurido e gotejamento pela faringe posterior. Isso devido aos efeitos dos mediadores vasoativos, aos estímulos neurais e á hipersecreção das glândulas nasais (Sociedade Brasileira de alergia e imunologia, Sociedade Brasileira de otorrinolaringologia, 2000).
O tratamento ocidental baseia-se em: evitar o contato com os alérgenos, terapia medicamentosa e hipossensibilização. Evitar o contato com os alérgenos desencadeantes é frequentemente difícil quando não impossível. Os efeitos colaterais, como sonolência ou incoordenação, acompanham as terapias anti-histamínicas. A hiposenssibilização é considerada por alguns, como não necessária e inconveniente e com custo alto. O corticoide é o medicamento mais efetivo indicado para o tratamento da RA. Trata os componentes inflamatórios da doença: reduz a inflamação de células inflamatórias na superfície da mucosa nasal, reduz a permeabilidade endotelial e epitelial, aumenta o tônus vascular simpático, diminui a resposta das glândulas mucosas para estimulação colinérgica e reduz a hiperatividade nasal (www.aaaai.org/ar/working-vol2/005.asp, 2005).
A Auriculoterapia Francesa pode se apresentar como mais uma opção terapêutica, em que a substituição da medicação diminui o risco de efeitos colaterais pelo uso dessas substâncias por um período prolongado.
A Auriculoterapia Francesa trata disfunções orgânicas, promove analgesia e alivio de sintomas através de estímulos em pontos reflexos localizados na orelha externa. É uma técnica em que se usa o pavilhão auricular para efetuar estímulos reflexos sobre o Sistema Nervoso Central.
Em 1951, Paul Nogier, médico Frances recebeu em seu consultório um paciente relatando que sofria de dor ciática e já havia tentado todos os tratamentos possíveis na época sem sucesso e em uma viagem a Espanha, uma curandeira de Marselha cauterizou determinado ponto na orelha e curou essa dor ciática. Paul Nogier começou a pesquisar outros pontos da orelha para verificar a veracidade desta relação. Descobriu então essa técnica que estimula pontos, que correspondem a todos os órgãos e funções do corpo. Trabalhando com menos pontos (chamados Mestres) apresenta um efeito rápido dos sintomas. Ao efetuar a estimulação do ponto, o cérebro recebe impulsos que desencadeiam uma serie de fenômenos neurofisiológicos, relacionados a diversas áreas do corpo, produzindo por feedback (realimentação) resultados homeostáticos. O pavilhão auricular de cada pessoa apresenta forma e tamanho distintos, variando devido à raça, composição física e características individuais. Estas pequenas variações não afetam o posicionamento dos pontos auriculares, que se distribuem como um “feto” em posição cefálica, determinando os princípios gerais da representação de cada uma das partes do corpo humano no pavilhão auricular.
Este estudo foi composto por um voluntário, adulto, 25 anos, diagnosticado com Rinite Alérgica desde criança com sintomas exacerbados há mais de um ano.
Os procedimentos foram iniciados com a análise visual dos dois pavilhões auriculares para verificação de diferenças de coloração e deformidades. Após essa verificação, assepsia do pavilhão auricular de lateralidade com algodão embebido em álcool 70%, para aplicação de agulhas semipermanentes, facilitando mantê-las por mais tempo fixas no pavilhão auricular e para evitar infecções. Sabe-se que cada pessoa tem um formato de orelha diferente, sendo assim foi localizado os pontos através da sensibilidade à dor com o apalpador de pressão. As agulhas semipermanentes são descartáveis e puderam permanecer no local puncionado por até sete dias, usufruindo o tratamento durante todo esse tempo. Para este estudo, os pontos auriculares utilizados para controle e diminuição dos sintomas foram: Ponto O’; Alergia; Pulmão e Darwin.
Foram realizadas dez sessões uma vez na semana. Para localização dos pontos: apalpador de pressão e mapa auricular com a localização das regiões auriculares contendo os pontos a serem tratados segundo NOGIER (NOGIER, 2003) e apostila Cartográfica de Auriculoterapia Francesa-CETN. Para estimular os pontos: Agulhas semipermanente de implante (descartável) e para fixar as agulhas semipermanentes foi usado esparadrapo Micropore.
Observou-se que antes do tratamento o paciente relatou frequência dos sintomas alérgicos. Ao termino do estudo o paciente se submeteu a outra avaliação, onde foi relatada a melhora significativa do quadro alérgico. Durante o estudo o paciente não fez uso de nenhum fármaco para combater os sintomas.
A Auriculoterapia Francesa mostrou sua eficácia neste caso, contribuindo para diminuição da utilização de fármacos para o controle dos sintomas da RA, evitando seus efeitos colaterais.
É uma técnica bem aceita, de fácil manejo e aplicação e com ela têm-se resultados rápidos e eficientes, mas que em muitas ocasiões, é pouco considerada no controle das patologias crônicas, por ser pouco conhecida no Brasil, apesar de oficializada pela O M S, em Lyon, na França desde novembro de 1990 (NOGIER E BOUCINHAS, 2006).
Podemos considerar neste caso que a Auriculoterapia Francesa como método de tratamento foi tão eficaz quanto o corticóide nasal, com a vantagem de não causar efeito colateral.
Como o número de artigos sobre o assunto é muito escasso, não foi possível uma comparação dos resultados. Sugere-se que sejam realizados novos estudos utilizando os mesmos métodos de avaliação e com a mesma faixa etária, mas com uma amostra maior, a fim de facilitar a comparação dos resultados e a formação de um consenso quanto às repercussão das melhoras dos sintomas da RA.
Autora do Artigo: Carla Ceppo