LENITA RIBEIRO PASSOS
LUDEMILA ROBERTA SILVA CAPARELLI
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN
A acupuntura chegou ao Japão no início do século V, junto com a cultura e a tecnologia, importada da China. Inicialmente, grande parte do conhecimento médico veio através da Coréia, quando imigrantes coreanos fixaram-se no Japão no período formativo do estado japonês. Alguns imigrantes tinham conhecimento especializado em acupuntura e medicina herbária. No século VI, o Japão convidou estudiosos de várias áreas, incluindo medicina, para visitar o país. Estudiosos coreanos vieram educar o povo japonês, sendo que alguns se estabeleceram permanentemente, dando início a uma renomada linhagem de médicos (YOSHIKAWA, 1995).
No século VII, o governo japonês fez contato direto com a China e foram enviados estudiosos e sacerdotes para aprender a cultura chinesa. Durante esse período, muitos textos médicos foram copiados e trazidos para o Japão, sendo aplicado o mais rápido possível. A prática de enviar emissários para a China parou na metade do século IX, e a medicina oriental no Japão iniciou daí um curso independente de desenvolvimento (YOSHIKAWA, 1995).
Segundo Kobayashi et al, 2010, a MTC incluía as cinco técnicas: medicina herbal, acupuntura, moxabustão, tao-yin, e massagem, e através dos anos, as características naturais do Japão transformaram essas medicinas em modalidades que eram unicamente japonesas. No ano 1701, foi promulgado o primeiro sistema legal escrito no Japão, o código Taihô. Estabeleceu-se um departamento oficial de acupuntura e moxabustão, designando também os três graus de professor, terapeuta e estudante de acupuntura (KOBAYASHI et al, 2010).
No período a seguir, era Nara, todos os aspectos da medicina oriental foram promovidos e praticados. Nos períodos anteriores, os monges budistas estavam envolvidos no estudo e prática da acupuntura e medicina herbária. Na era de Nara, o sistema de ensino médico e especialização levaram à redução do número de monges terapeutas. O primeiro texto médico foi compilado em 1984 pelo médico Tamba Yassunari (YASUI, 2010).
A partir do século XII, o controle da família imperial caiu e novamente foram estabelecidas relações comerciais com a China, e após três séculos de isolamento relativo, novas idéias médicas chegaram ao Japão. Os monges budistas voltaram a exercer importante papel como terapeutas e levavam cuidados médicos à população em geral. Durante esse período a prática da moxabustão tornou-se popular, pois alguns tratamentos eram realizados nos templos budistas, como parte da prática religiosa (YASUI, 2010).
No final do século XVI, o caos político e social instalou-se no Japão, e estudiosos importavam textos da China e compilaram muitos textos japoneses sobre acupuntura. Após a reunificação do Japão e a restauração da ordem social, acupunturistas proeminentes estabeleceram escolas de acupuntura. Entre os séculos XVI e XVII, surgiram três abordagens da medicina no Japão, representadas pela escola Gosei, Koho e Rampo. Cada escola de pensamento combateu e influenciaram outras até o final do século XIX. A escola Gosei, fundada por Manase Dosan, tinha forte influência da medicina chinesa. (VIGOUROOX, 2008)
Segundo Vigouroox (2008), até esse período, a tradição de ensino era feita através do ensinamento do discípulo pelo seu mestre, ou pai ensinando a prática para o filho mais velho. Entretanto, após Dosan estabelecer sua escola médica, a facilidade de treinar grupos de estudantes começou a aparecer. A escola Koho inspirou-se na revivificação dos conceitos da Discussão de Desordens Induzidas por Frio, rejeitando as ideias, mas novas da medicina chinesa.
Acupuntura com uso de um tubo-guia. Sua escola tornou-se uma das mais influentes do Japão Oriental e substituiu as outras porque conseguiu o patrocínio do governo nas escolas para cegos. Ele popularizou a acupuntura e a moxabustão, edificando as estruturas ensinadas por Manase. Sem modificar os conceitos básicos da medicina oriental, ele introduziu novos métodos e aperfeiçoou as técnicas existentes. Também durante o século XVII, foram introduzidas as agulhas para acupuntura de prata e ouro pela primeira vez no Japão (KOBAYASHI et al, 2010).
No início do século XIX, a medicina holandesa tornou-se largamente aceita e muitos livros holandeses já tinham sido traduzidos para o japonês. O número de japoneses, tanto acupunturistas como médicos, tentando estudar medicina através desses livros aumentou e espalhou-se a ideia de aceitação da medicina holandesa, enquanto diminuía as ideias de medicina chinesa (KOBAYASHI et al, 2010).
Phillipp Franz Von Siebold visitou o Japão como médico coma Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1823. Ele já conhecia o tratamento por acupuntura no Japão e estava impressionado por suas observações sobre o tratamento atual de acupuntura. Após retornar para Holanda, ele introduziu a acupuntura japonesa, bem como a geografia, história, cultura e tradição do Japão. Assim como a cultura japonesa atraiu o interesse de Siebold, a medicina holandesa despertou o interesse de médicos japoneses após ter ensinado a medicina holandesa nas escolas privadas e tratado pacientes (KOBAYASHI et al, 2010).
Em 1868 o sistema de governo baseado nos samurais da era Edo entrou em colapso, e o novo governo da era Meiji estava ansioso em aceitar rapidamente a cultura ocidental e permitir que o Japão ganhasse uma boa posição no mundo. Neste processo, negaram a cultura tradicional japonesa, considerando-a fora de moda. O sistema médico não foi exceção a esse tipo de pensamento, e o novo governo considerou a medicina tradicional japonesa, incluindo a acupuntura, como antiquada e desnecessária. Decidiram aceitar a medicina ocidental e estabeleceram um sistema de exame para qualificação dos praticantes, que é o fundamento dos exames atuais que fornecem as licenças para práticas médicas. A educação, exames e posição da medicina tradicional japonesa e chinesa foram negados e as medicinas ocidentais formaram uma política única pondo fim a uma era que durou 1200 anos desde 1701, quando Itsu-rei foi promulgada e os acupunturistas eram aprovados e mantinham a mesma posição como doutores (YOSHIKAWA,1995).
Sob o antigo sistema de pequenas classes privadas e aprendizagem que estava instalado no Japão pré-guerra, era difícil garantir o nível de treinamento dos acupunturistas. Não era incomum estarem focados em ideias antigas e experiências limitadas. No entanto, em 1920 alguns acupunturistas talentosos, que eram exceção à regra, iniciaram um movimento revolucionário que levou a uma rápida modernização e sistematização da acupuntura japonesa e moxabustão durante os anos de 1930 e 1940 (YOSHIKAWA, 1995).
Segundo Yoshikawa (1995), durante a primeira metade do século XX, pesquisas e experimentos foram conduzidos com os parâmetros da medicina ocidental. Kinosuke Miura descobriu que a terapia com acupuntura e moxabustão aumentava a circulação sanguínea. Michio Goto conduziu pesquisas a respeito da conformidade entre os pontos dos meridianos da acupuntura e as zonas relativas no crânio. Influenciados pelas práticas médicas ocidentais, experimentos e pesquisas em acupuntura-moxabustão foram realizados em animais. A existência dos meridianos foi ignorada no tratamento de doenças individuais, na medida em que os diagnósticos por métodos da medicina ocidental se tornaram populares, e esse tipo de tratamento foi praticado por Yamamoto Shingo, Tatsui Bunryu e Yamazaki Ryosai. Algumas das maiores descobertas feitas durante esse período foram: o aumento na contagem da contagem de linfócitos e eritrócitos (Seikoku Aochi, Shimetaro Hara, Joichi Nagatoya, Hideji Fujii, Bunjiro Terada); aumento do número de complementos e anticorpos (Seikoku Aochi, Kaoru Tokieda); mudanças na alcalose em ossos e corrente sanguúinea (Hisashi Kurzumi e Shigemoto Mizuno); aumento do peristaltismo intestinal (Michio Goto); e aceleração das funções hepáticas (Kazuo Komai). Estudos farmacológicos relatados por Masaru Osawa indicaram que esses resultados ocorreram como resultado da formação da histotoxina após a administração da moxabustão. Hidezumaru Ishikawa relatou que experimentos realizados em animais provaram que o mecanismo da acupuntura – moxabustão era comandado pelo sistema nervoso autônomo (YOSHIKAWA, 1995).
O interesse nos meridianos da medicina orientais quase esquecidos foi reavivado e Sorei Yanagita, Sodo Okabe, Keiri Inoue e Shinichiro Takeyama criaram os. Métodos de tratamento dos meridianos. De acordo com Yasui (2010), durante a II Guerra Mundial, a escassez de suprimentos tanto no Japão como nas áreas de conflito, levou a uma demanda crescente pelo tratamento por acupuntura e moxabustão, pois não necessitava de drogas como parte no processo de tratamento (YASUI, 2010).
A acupuntura e a moxabustão foram incluídas na categoria de questionáveis, justificada por procedimentos de desinfecção inadequados, métodos de tratamentos bárbaros e falta de um sistema educacional estabelecido. O governo japonês, preso entre a necessidade de trabalhar com o GHQ e a necessidade de responder aos envolvidos com acupuntura e moxabustão, concluiu que necessitava de uma reforma legislativa que provesse base ao sistema acupunturista. Após o final da II Guerra, o professor Ishikawa e outros acupunturistas famosos conseguiram demonstrar aos membros do Ministério da Saúde e Bem Estar à segurança e a eficácia do tratamento com acupuntura, demonstrando dados de anos de pesquisa em acupuntura e suas bases científicas (YASUI, 2010).
Durante esse período, o GHQ tentou proibir que os deficientes visuais praticassem acupuntura e moxabustão no Japão, considerando-os supostamente incapazes e perigosos para praticar procedimentos médicos, pois não conheciam nenhum outro país no mundo em que os deficientes visuais tivessem essa função. Porém, essa categoria tinha um poder político surpreendente, e a Ordem de Proibição da Acupuntura e Moxabustão encontrou uma forte resistência. O primeiro passo para a reforma legislativa foi à reeducação dos acupunturistas através de um curso rápido com duração de quinze dias, onde instrutores foram treinados para segui-la comandar os “cursos rápidos de reeducação” que seriam oferecidos nas cidades e províncias do país (YASUI, 2010).
Dr. Shirota negou a autoridade absoluta da teoria médica tradicional, propôs que a medição da resistência elétrica poderia ser usada para detectar os pontos de acupuntura que eram responsivos em doenças específicas, e em seguida tratar a doença pela estimulação desses pontos com acupuntura e moxabustão. Avanços em eletrofisiologia contribuíram para essa teoria, mas a aplicação dos meridianos teve que esperar até a descoberta de Yoshio Nakatani em 1950 que resultou no desenvolvimento da acupuntura estilo Ryodoraku. Paralelamente a esses novos estudos, grupos de acupunturistas que estavam interessados na terapia pelos meridianos, continuaram suas pesquisas, produzindo vários volumes de resultados para provara existência dos meridianos (YASUI, 2010).
Estilos E Características Da Acupuntura Japonesa
Segundo Fratkin (1999), a acupuntura japonesa é atualmente um amplo leque de escolas e abordagens técnicas. Existem cem associações diferentes no Japão, mantida por leais, senão faccionários, praticantes pós-graduados. Cerca de vinte porcento segue Keiraku Chiryo, a escola de terapia clássica dos meridianos. Esta abordagem inclui os seguidores de Kodo Fukushima (a escola Toyo Hari) e Denmai Shudo. Outros vinte porcento seguem o estilo Rempo ou acupuntura científica, que se baseia na seleção de pontos sem a teoria dos meridianos. Os outros sessenta porcento incluem associações menores que seguem os ensinamentos de vários mestres tais como Manaka, Sawada, Akabane, Nagano e outros. A medicina tradicional chinesa também tem uma pequena, mas fiel classe de seguidores no Japão (FRATKIN, 1999).
Há 30 estilos diferentes de acupuntura japonesa. A escola de Sawada Ken está baseada no texto Nan Jing (O Clássico das Dificuldades), revivido no Japão nos anos 30. Essa terapia propõe o equilíbrio na distribuição da energia (Qi) em todos os meridianos para haver saúde. Os desequilíbrios por excesso ou deficiência de energia em um ou vários meridianos levam à doença. Sawada acreditava que para tratar o paciente com qualidade era necessário determinar os pontos pessoais de cada paciente relacionados aos seus 9problemas particulares através da palpação. Esses pontos (kori ou atsu-ten) poderiam aparecer principalmente em regiões como o abdome, costas, braços ou pernas sãos o descritos como enrijecimento considerados como bloqueios de energia Qi ou de Sangue, indicando padrão de estagnação do fluxo de energia ao longo do caminho do meridiano, estando reflexamente ligado a um órgão ou sua função. O acupunturista do estilo Sawada deve restabelecer o equilíbrio energético nos doze meridianos, através da aplicação de agulhas ou cones de moxa Okyu (CUNHA, 2010).
Segundo Fratkin (1999), apesar da diversidade de estilos, há certos traços e características que definem claramente a acupuntura japonesa. A primeira eleva a palpação como a mais importante arte de diagnóstico. Inclui o exame do pulso, abdômen, e a textura da pele dos pontos de acupuntura e caminhos dos meridianos. A palpação determina a escolha dos pontos para o tratamento, ao invés da escolha pela doença ou teoria. O diagnóstico pelo pulso originou-se na China, mas o diagnóstico através da palpação abdominal (diagnóstico do Hara) se desenvolveu no Japão. Antigos mestres do estilo japonês afirmam que o tratamento do Hara vem em primeiro lugar, pois acreditam que todos os movimentos dos cinco elementos se originam dele (CUNHA, 2010).
O estilo Ishizaka Ryu foi estabelecido no século XVII no Japão, e mostra que a coluna e área espinhal são as áreas mais importantes do corpo. Os pontos paravertebrais, Hua Tuo Jiaji , pontos do meridiano da Bexiga e fora dele são locais de alto fluxo energético de grande importância tanto na medicina oriental como ocidental. Estes pontos são muito úteis no tratamento de doenças crônicas e desequilíbrios que afetam o meridiano da Bexiga aparecendo na forma de tensão de nódulos ou cordões na musculatura para-vertebral. Muitas doenças e dores aparecem quando há um bloqueio no fluxo energético, sanguíneo ou de fluidos corpóreos, e a finalidade da acupuntura seria remover estes bloqueios e restaurar o fluxo (CUNHA, 2010).
A segunda característica da acupuntura japonesa é uma técnica de agulha única. As agulhas que são utilizadas são bem finas em relação às usadas no estilo chines de acupuntura. A maioria dos praticantes utiliza agulhas com calibre de 0,16 mm ou menos. Denmai Shudo utiliza agulhas de 0,12 mm em todo seu trabalho. Os tubos guia são geralmente utilizados, através de um toque rápido e suave (FRATKIN, 1999).
A terceira característica da acupuntura japonesa é a confirmação de que a técnica da agulha ou moxa causa uma mudança imediata e notável que é utilizada para diagnóstico: o pulso, o abdômen, ou o próprio ponto. Esta atenção permite uma escolha de menor número de pontos a serem escolhidos. Por exemplo, os praticantes da terapia dos meridianos esperam mudanças na pulsação quando há agulhamento correto. Discípulos de Matsumoto e Nagano esperam que os pontos de dor abdominal desapareçam após o correto agulhamento de pontos distantes. Quarta técnicas auxiliares são comumente empregadas para reforçar o tratamento primário. A moxa direta é aplicada geralmente em muitos pontos de acupuntura, com o tamanho de aproximadamente um fio de cabelo a metade de um grão de arroz. Outras técnicas utilizadas são agulhas intradermais, bolas de pressão, magnetos, e cabos de bombeamento de íons (FRATKIN, 1999).