#vemprocetn

Estudo de caso comparativo de tratamento ocidental e oriental para a síndrome da obstrução dolorosa e inflamação do tendão supra-espinhal (síndrome bi)

< voltar

ROSANE CRISTINA MEIRELLES DE SÁ

Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN

Síndrome Bi ou Síndrome de Obstrução Dolorosa é o termo que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) utiliza para indicar dor, sensibilidade ou formigamento dos músculos, tendões e juntas, devido a invasão externa de vento, frio ou umidade, é provavelmente a mais universal de todas as dores, afetando praticamente todos os indivíduos em algum momento da vida, em todas as partes do mundo. O quadro clínico de dor músculo esquelética crônica, onde a principal manifestação é a dor acompanhada da sensibilidade, sensações de peso e parestesia é amplamente conhecida. Ambas, dor e sensibilidade, são provocadas pela obstrução da circulação da energia e sangue nos canais pelos fatores patogênicos externos.

Já a medicina Ocidental utiliza frequentemente o termo “Tendinite” para descrever dor no local do tendão, acompanhada por aumento de volume, calor e eritema. No entanto, alguns distúrbios tendíneos não apresentam células inflamatórias agudas no exame histológico, apesar de haver rupturas das fibras, desorganização do colágeno, hiperplasia vascular e proliferação de fibroblastos. Há propostas de que esse tipo de lesão, sem alterações inflamatórias, tenha a denominação de tendinose, como afirma Lopes (2009).

O Músculo manguito rotador é formado pelas terminações tendíneas de quatro músculos, dos quais três se inserem na grande tuberosidade do úmero (supra-espinhal, infra- espinhal e redondo menor); o outro, o subescapular, não é palpável (Lopes, 2009).

Tanto na medicina Ocidental quanto na MTC, na anamnese, devem-se estudar todos os sinais e sintomas que possam estar associados ao quadro clínico articular. A evolução das queixas clínicas também ajuda a melhor firmar o diagnóstico, podendo ser intermitente, crônico, aditivo ou migratório; a duração do quadro articular é fundamental para estabelecer alguns diagnósticos, assim sendo um diagnóstico preciso e precoce do reconhecimento do padrão articular é fato decisivo para o diagnóstico e conduta e caracteriza-se por:

– presença ou não de inflamação (calor, rubor, tumor); – número de articulações afetadas;?- topografia;

– forma de instalação: aditiva (simultânea); migratória; intermitente;

– cronologia: aguda (duas semanas), prolongada (duas a cinco semanas) ou crônicas (> cinco semanas);

– fatores de melhora e piora: repouso, postura, movimento, duração no dia e noite;?- fatores concomitantes como, por exemplo, febre, alteração de pele e mucosas (Nunes et al, 2010).

A síndrome do impacto é a causa mais comum de dor em ombros, como descreve Lopes (2009), sendo primariamente acometimento de tendões, embora tardiamente possa ocorrer comprometimento de bursas e calcificações. Clinicamente, a dor surge durante o movimento ativo de abdução do braço, em especial entre 60 e 120°. Em pacientes jovens, a dor pode ser mais intensa, observando-se depósitos calcários à radiografia, que podem romper para o interior da bursa subacromial. Na apresentação crônica da síndrome do impacto, a dor é menos localizada, referida na região deltoideana, exacerbada aos movimentos de abdução e rotação interna. Abdução passiva do braço é relativamente bem tolerada, mas a dor é agravada à movimentação ativa contra resistência. As causas da síndrome do manguito rotador são múltiplas, destacando-se o trauma pelo excesso de uso, especialmente nos movimentos repetitivos de erguer os braços acima da cabeça, determinando impacto do manguito contra acrômio, e as inflamatórias, como a artrite reumatoide. Outros fatores etiológicos são presença de osteófitos na articulação acromioclavicular, insuficiência vascular e atrofia muscular. Exame ultrassonográfico do ombro pode auxiliar no diagnóstico de lesões tendíneas, junto com a radiografia, exame útil para identificar calcificações e osteófitos. O tratamento pode ser feito com drogas anti-inflamatórias, aplicação de gelo local, uso de ultrassom e injeção de corticoide na bursa subdeltóide.

Na visão da MTC, quando ocorre invasão de fatores patogênicos no corpo a imunidade do indivíduo está em baixa. Eventualmente invasões de repetição de fatores patogênicos externos pode levar á condições de doenças crônicas, como mencionado por Kaufman (1999). É importante relatar que na Síndrome de Obstrução Dolorosa crônica um fator importante é a deficiência do fígado e dos rins, essa deficiência gera a retenção da mucosidade e a estase de sangue. O sangue do fígado nutre os tendões, assim o fígado deficiente, os tendões não são nutridos, o que gera dor e rigidez nas articulações. Os rins nutrem os ossos, e quando deficientes, os ossos são destituídos de nutrição, e assim acumulam mucosidade nas articulações, onde gera inchaço (Macioccia, 1996).

Para Kaufman (1999), as categorias principais da Síndrome de Obstrução Dolorosa são causadas por: vento, frio e umidade. Quando o yin do fígado e o yin do rim, insuficientes, não restringem a energia yang do fígado, que em excesso ascende, o que forma o vento. Na insuficiência do yin do rim, a água não nutre a madeira, o que provoca um excesso do yang do fígado. A sensação de adormecimento dos quatro membros, a rigidez articular, a contratura dos tendões e ligamentos e os tiques; ocorre que o sangue e o yin insuficientes não nutrem os vasos e os tendões, o que leva uma falta de coordenação entre os movimentos da energia e do sangue nos meridianos e nos colaterais. Sendo assim a Síndrome da Obstrução Dolorosa é uma desordem que resulta da obstrução dos meridianos, lentidão de Qi e a circulação de Xue após a invasão do vento, frio, umidade ou calor patogênico sendo caracterizada pela dor intensa e demais sintomas relatados. Ocorre principalmente nos canais de conexão e musculares, entre a pele e canais principais.

Para MTC o tratamento tem como princípio:?Remoção dos fatores exogenous; Desobstrução do meridiano afetado;?Promoção da livre circulação do Qi e Xue; Fortalecimento do Qi e do Xue.

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia foi desenvolvida através de pesquisa e estudo comparativo de caso clínico, na concepção do tratamento da Medicina Tradicional Chinesa x Medicina Ocidental.

Na Medicina Ocidental, o método utilizado foi através de exames radiológicos, sessões de fisioterapias e medicamentos via oral e injetável.

Na Medicina Tradicional Chinesa, o método utilizado foi Acupuntura Sistêmica, onde a estimulação foi feita com agulhas (0,25 x 30).

TRATAMENTOS UTILIZADOS

I – Medicina Ocidental (método convencional)

– Finalidade

Ataca a doença ou os agentes microbianos, através de medicações que atuam nas reações químicas celulares.

– Princípio?Promover analgesia, e o equilíbrio do organismo.

II – Acupuntura (Método Sistêmico)
– Finalidade

Equilibrar as funções orgânicas, dando condições ao organismo para combater as doenças, utilizando suas técnicas, e desta forma, reestabelecendo o equilíbrio e a saúde.

– Princípio?Promove a analgesia, e restabelece as funções orgânicas, físicas e mentais.

COLETA DE DADOS

I- Medicina Ocidental (Convencional)

Devido à dor intensa, paciente procurou cuidados de profissional especializado, médico ortopedista. Após anamnese e exame clínico, onde ficou constatado através de movimentos e relato do paciente, a presença de dor e sensibilidade nos músculos e articulações do OE. Solicitação de exames especializados:

Realizada com as técnicas de fast spin – eco e gradiente – eco.

Conclusão:?. Transição craniovertebral sem anormalidades;?. Elementos dos arcos posteriores íntegros;?. Articulações interapofisárias regulares;?. Medula espinhal de calibre e intensidade de sinais habituais; . Planos musculoadiposos paravertebrais conservados.

Foram realizados cortes axiais computadorizados na coluna cervical, pela técnica multislise, orientados através de radiografia digital. Posteriormente feitas reformatações multiplanares no computador.

Conclusão:?. Aspecto normal das interpofisárias;?. Musculatura paravertebral sem alterações; .

Não foram observadas herniações.

Técnica realizada através de estudo estático e dinâmico da região do ombro.

Conclusão:?Tendinopatia no supraespinhal.

Após resultados dos exames específicos foi diagnosticado, “Tendinopatia no supraespinhal”.
Visando o alívio da dor, solicitado o repouso funcional do membro afetado, o uso de medicamentos antiinflamatórios, corticoides, administração de compressas de gelo e sessões de fisioterapia; em total se trinta sessões.

II Medicina Tradicional Chinesa (Acupuntura)

Paciente avaliada segundo normas estabelecidas pela MTC, realização de uma anamnese detalhada para identificar os desequilíbrios energéticos de acordo com sinais e sintomas apresentados, relatado a seguir:

. Queixa principal – dor no OE, região escapular e cervical, irradiações para o braço e formigamento na mão;

. Queixa secundária – insônia, irritabilidade e ansiedade. Diagnóstico Energético:

– 8 critérios (interior/exterior);

– Síndrome das substâncias fundamentais (Qi estagnado e Xue deficiente);

– Síndrome do Zang Fu (Deficiencia de yin de Rim, Deficiencia de yin de F, Deficiencia de xue de F e deficiência de Qi do B/P);

– 5 elementos (madeira/terra). A deficiência do yin da madeira gera um aumento do domínio de terra;

– Diagnóstico: Síndrome Bi Migratória;

– Tratamento (VG20, IG15, VC17, IG4, C7, VB39, BP6 e F3).

Para o tratamento inicial foram agendadas dez sessões de acupuntura sistêmica em clínica especializada, duas vezes por semana. Nas sessões com duração de trinta minutos foram utilizadas agulhas 0.25x30mm.

RESULTADOS

Segue abaixo os resultados obtidos com o tratamento da Medicina Convencional. Os resultados foram satisfatórios temporariamente, havendo necessidade da permanência do uso contínuo dos medicamentos e sessões de fisioterapia. Segundo Escalonamento da dor da OMS, após as intervenções clínicas, a dor intensa (10), regrediu para uma dor moderada (6).

Na sequência, segue os resultados obtidos com o tratamento da MTC, com técnica de acupuntura sistêmica. Ao término de dez sessões, a paciente foi reavaliada.

Os resultados apontaram um grau de eficiência excelente, na conclusão das primeiras sessões, houve retirada total dos medicamentos (antiinflamatórios e corticóides), utilizados pela paciente em período de nove meses.

O relato de melhora da queixa principal, braquialgia migratória, insônia, irritabilidade, cansaço e angústia foi evidente. Após as primeiras sessões de acupuntura, a dor intensa (10), regrediu para dor leve (2).

O tratamento segue em manutenção, quinzenalmente, com ausência de dor, e melhora na qualidade de vida da paciente.

O gráfico a seguir, mostra o estágio da dor e demais sintomas, após o tratamento com Acupuntura Sistêmica.

Sintomas antes do tratamento:?. Dor e desconforto no OE e BE;?. Dor mais intensa no período noturno;?. Comprometimento dos movimentos de flexão e abdução.

Gráfico 1: Estágio da dor e demais sintomas

, Imagem

CONCLUSÃO
O resultado obtido neste estudo, nos leva a crer que o tratamento realizado com a técnica de Acupuntura Sistêmica proporcionou redução do quadro doloroso e demais sintomas descritos em anamnese. Após as primeiras dez sessões realizadas ocorreu diferença significativa do comportamento doloroso entre as avaliações realizadas anteriormente e posteriormente ao tratamento com Acupuntura Sistêmica, com efeito de certa forma imediata.

Sugere-se novos estudos com (n) maior de pacientes, o que nos levaria a melhores resultados inerentes a qualquer intervenção.

whats app