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Síndrome de obstrução dolorosa (bi) no ombro e seu tratamento com cataplasma de artemísia

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DELANGE DE FÁTIMA BARUFALDI
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN

Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a Síndrome de Obstrução Dolorosa é também denominada Síndrome Bi , Bi é o ideograma chinês que significa obstrução. Sendo assim, Síndrome de Obstrução Dolorosa indica dor, sensibilidade ou formigamento dos músculos, tendões e juntas, devido à invasão externa de vento, frio ou umidade, é provavelmente a mais universal de todas as doenças, afetando praticamente todos os indivíduos em algum momento da vida, em todas as partes do mundo. Proveniente de exposição a fatores climáticos é provavelmente uma das mais antigas aflições da espécie humana. (MACIOCCIA, 1996).

É uma aflição apenas dos canais, não dos órgãos internos. Corresponde na MTC ao quadro clínico de dor músculo-esquelético crônica. A principal manifestação clínica é a dor, à qual podem se associar sensações de peso, de parestesia, impotência funcional de estruturas músculo esqueléticas (tendões, músculos, ossos e articulações), assim como aumento de volume articular e da temperatura do local. (POLLONI, 2013).

A invasão do fator patogênico exógeno provoca a obstrução da energia e do sangue, que ocasiona as síndromes dolorosas, intumescimentos e sensação de peso nos membros e nas articulações, que se tornam difíceis de estender e flexionar. Este conjunto de sintomas é denominado de síndrome Bi, sendo observada na febre reumática, na artrite e nas nevralgias (CHONGHUO, 1993).

Cronicidade

Em condições crônicas então, a Sindrome Bi pode se apresentar de modo continuamente progressivo ou intermitente. Em geral sua evolução é lenta, e em alguns casos pode ocorrer um quadro inicial de sudorese, febre, sede, dor e edema de faringe, e desconforto generalizado, como a dor que ocorre na gripe comum. (vento- frio). Para a maioria dos pacientes, o início da doença é mal definido, a dor é migratória ou é persistentemente localizada, ou se apresenta como dor em agulhada, ou com sensação de parestesia, ou com edema. Ainda, segundo Macioccia (1996), outro fator importante na Síndrome de Obstrução Dolorosa crônica é a deficiência do fígado e dos rins. É essa deficiência que permite a retenção da mucosidade e a estase de Sangue. O sangue do fígado nutre os tendões; quando o Fígado é deficiente, os tendões não são nutridos, gerando dor e rigidez das juntas(articulações). Os Rins nutrem os ossos e quando os Rins são deficientes, os ossos são destituídos de nutrição, permitindo com que a Mucosidade se acumule nas juntas (articulações), na forma de inchaços. Segundo Polloni (2013): “os fatores que podem estar presentes nos quadros crônicos da Síndrome de Obstrução Dolorosa são os seguintes:

I- Deficiência geral de Qi e sangue, que predispõe o corpo a invasões de fatores patogênicos externos.

II- Formação de mucosidade nas juntas na forma de inchaço, devido a transformação inadequada dos Fluidos Corpóreos.

III- Estase de sangue, devido a longa permanência de obstrução na circulação de sangue, causada por fatores patogênicos externos e por mucosidade.

IV- Deficiência do fígado e dos rins gerando má- nutrição dos tendões e dos ossos; o primeiro causando dor e rigidez e o segundo contribuindo para o assentamento da mucosidade nas juntas”.

A queixa da obstrução dolorosa no ombro

Etiologia

Os agentes etiológicos mais presentes são:

Frio: Invasão dos meridianos do ombro por frio exterior. Este é o fator etiológico mais comum. O frio contrai os músculos e tendões, causando dor e rigidez. O clima chuvoso e úmido pode agravar a dor. A invasão de Frio gera estagnação de Qi nos meridianos do ombro, e se não for expelido, essa estagnação se tornará crônica causando dor e predispondo os meridianos a futuras invasões de frio, estabelecendo dessa forma um círculo vicioso. Os meridianos ficando predispostos ao frio serão invadidos e assim recomeça o ciclo.

Excesso de trabalho ou de exercício: A superutilização do ombro no esporte ou em uma atividade de trabalho causa uma estagnação de Qi no ombro com o passar do tempo.

Acidente: os acidentes leves causam Estagnação de Qi e os graves causam estase local de Sangue. Acidentes ocorridos no passado podem predispor a articulação do ombro (ou qualquer outra) a uma invasão futura de Frio.

Problema na vesícula Biliar: Este é um caso mais raro, mas pode haver uma Umidade calor na vesícula biliar que afeta os Meridianos do Intestino Delgado e da Vesícula Biliar no ombro causando dor.

Problema no Intestino Grosso: Este é um outro caso raro de acontecer. O Intestino Grosso estando comprometido pode causar dor ao longo do seu Meridiano que passa pelo ombro, se externalizando o problema do órgão.

Tratamento na dor crônica
No tratamento da dor crônica do ombro os pontos distais são menos estimulados que os pontos distais da dor aguda e a escolha dos pontos dependem do meridiano envolvido. Depois são aplicados os pontos locais que são os mesmos do caso agudo. Mesmo que o paciente não sinta dor na região do meridiano do Intestino Delgado eles devem ser utilizados mediante a sensibilidade à pressão.

Foi demonstrado anteriormente que a Síndrome Bi de Ombro do tipo Frio gera estagnação de Qi nos meridianos do ombro e para expeli-lo é indicado o uso de Moxa. Moxa é confeccionada com a erva Artemísia Vulgaris

Artemísia: Ação e forma de aplicação
Pelos processos de estudo da ciência Ocidental, onde a planta é dissecada e reduzida aos seus aspectos elementares, a Artemísia foi identificada como pertencente à família das Asteraceae (Compositae) e ao gênero Artemisia. A família Asteraceae (Compositae) é uma das maiores famílias de plantas florescentes no mundo. O grupo sistemático compreende cerca de 25.000 espécies sendo constituídos de ervas, arbustos, trepadeiras e raramente árvores, representando cerca de 10% das espécies vegetais do planeta.

Dentre os vários gêneros, destacam-se também as Artemisias. O gênero Artemísia é um dos mais distribuídos da família Asteraceae. Ele consiste de cerca de 500 espécies de ervas e arbustos distribuídos em todo o mundo. O gênero também é conhecido pela sua produção de compostos aromáticos, portanto, a investigação tem-se centrado na composição química dos metabólitos voláteis secundários obtidos a partir de várias espécies de Artemísia.

Artemísia annua L. é uma planta nativa da China e tem sido usada por 2.000 anos como erva medicinal contra febre e problemas digestivos.
Segundo a MTC, Polloni (2012) nos diz que: “A Artemísia possui sabor amargo e picante, produz calor penetrante e sua natureza é Yang. Por isso serve para tratar deficiência de Yang, evita o colapso e o seu calor promove a eliminação de frio e umidade removendo, assim a obstrução dos Canais de Energia e regula a circulação de Qi e Xue (direciona o Qi e o Xue para cima ou para baixo) e conseqüentemente melhora o funcionamento dos órgãos e vísceras. Atua nos canais do Pulmão, Fígado, Baço e Rim”.

Moxa ou Moxabustão
De história milenar, originária do norte da China, moxabustão – ? – jiu (pinyin) significa, literalmente, “longo tempo de aplicação do fogo”, é uma espécie de acupuntura térmica, feita pela combustão da erva Artemisia sinensis e Artemisia vulgaris. É uma técnica terapêutica da MTC. Acredita-se que seja anterior à acupuntura.

A moxabustão trata e previne doenças através da aplicação de calor em pontos e/ou certos regiões do corpo humano. A combustão da Artemísia tem a propriedade de aquecer profundamente. A aplicação do calor produzido pela moxa nos pontos ou meridianos de acupuntura, remove bloqueios de energia que obstruem o seu fluxo pelos meridianos, eliminando a umidade e o frio que promovem disfunções no organismo.

O efeito do calor ou radiação infravermelha se soma a energia yang do corpo potencializando esse aspecto (yang) da energia (Qi) podendo inclusive ser conduzido até o seu extremo, ou seja, a transformação no aspecto oposto da energia (yin). O calor de um dia quente pode ser amenizado com xícara de chá.

Na patologia chinesa as doenças reumáticas são classificadas como doenças do frio, da tristeza e da umidade. O frio patogênico tem características Yin e consome o Qi Yang. Predomina no inverno assim como as doenças do frio.

Pode ser causado por contração e estagnação ou por exposição ao frio após transpirar, ou ser apanhado pelo vento e chuva.

Modalidades de aplicação da Artemísia para uso externo

Existem várias modalidades de aplicação externa das ervas como : compressas, banhos, cataplasmas. Neste estudo usaremos a cataplasma.
As cataplasmas atuam na medida em que os princípios ativos das plantas penetram através da pele, estimulando assim os tecidos e órgãos subjacentes. Por serem geralmente frias, aplicam-se de preferência sobre inflamações em geral. Feridas de difícil cicatrização e doloridas, contusões agudas.

Modo de preparo:
A) aplicar as ervas frescas e bem limpas diretamente sobre as partes afetadas. Repetir a operação com ervas frescas aproximadamente 20 minutos após.
B) aplicar as ervas frescas, bem limpas e amassadas até adquirir uma consistência pastosa) diretamente sobre a pele ou envoltas em tecido macio e fino. Repetir a operação com ervas frescas aproximadamente 20 minutos após.
c) Na falta de ervas frescas, envolver as ervas secas em tecido macio e fino, costurar em volta fazendo um saquinho, mergulhar em água quente, espremer e aplicar sobre as partes afetadas; em seguida cobrir com um pano de lã ou de tecido mais grosso e deixar atuar por 20 ou 30 minutos.
Observações: no preparo das cataplasmas devem se usar de preferência instrumentos de madeira para evitar contato das ervas com metais. (Caribé,1991).
Neste trabalho foi aplicada a erva colhida fresca, amassada e aderida sobre o ponto como indicado no item B, para fixar sobre o ponto foi utilizado o micropore e deixada por dois ou três dias. Foi feita uma adaptação da cataplasma. No lugar de colocar pano e trocar a cada 20 minutos, foi deixado no lugar da dor e aquecida por 20 minutos, depois o paciente ficou com a erva fixada pelo tempo acima referido.

METODOLOGIA
A metodologia utilizada é composta do estudo de um recurso terapêutico sobre uma patologia, associado ao estudo de um caso clínico na visão da Medicina Ocidental e da Medicina Tradicional Chinesa.

Caso Clínico
Homem de 60 anos apresenta dor na articulação do ombro esquerdo há 10 meses. Relata que apareceu essa dor realizando exercício na barra fixa. Apresenta dor ao movimento de lateralidade acima da altura do ombro (Flexão), de levantamento do braço na posição anterior para o alto da cabeça (abdução), isto é, na mesma posição para alcançar a barra fixa e também quando torce o braço para trás, nas costas, (rotação interna com o braço junto ao corpo). Apresenta dor à pressão no músculo deltóide em vários pontos Ashi que coincidem ou não com os pontos do Intestino Delgado e Triplo Aquecedor. Relata que estava suado e o tempo estava fresco e nublado quando se exercitava.

Materiais
Os materiais utilizados foram:
-Artemísia na sua forma natural, verde, colhida na hora do tratamento.
– Para fixar a Artemísia nos pontos: esparadrapo micropore da marca 3M da cor bege escuro.
-Touca térmica adaptada para o ombro.

Ficou estabelecido como tratamento, a colocação de Artemísia em forma de cataplasma nos pontos Ashi aderida com Micropore e colocação da touca térmica como fonte de calor.

O paciente relata o nível da dor de 1 a 10 realizando três tipos de movimentos com o braço, antes e após a colocação da cataplasma de Artemísia com a touca térmica. Ficou combinado que o paciente iria ficar com a fonte de calor até o tempo que suportasse, 20 minutos no máximo. Após esse tempo a cataplasma permaneceria por dois ou três dias, quando então seria retirada.

Os três tipos de movimentos realizados para avaliar o nível de dor, antes e depois da colocação da cataplasma com calor foram:
1-rotação interna com o braço junto ao corpo
2-elevação
3-flexão

Dia 05 /10 – antes da colocação nível de dor=5 nos três movimentos antes de colocar Artemísia nos pontos Ashi e calor. Depois de 20 minutos da colocação, realização dos três movimentos, o paciente relata que soltou a articulação e a dor está em 4.

Dia 12 /10- nível da dor nos três movimentos = 5, colocação de Artemísia com calor nos pontos Ashi . Depois de 15 minutos paciente relata que está mais solta, mas ainda dói, não sabe dizer quanto.

Dia19/10- nível da dor= 5 nos três movimentos antes de colocar Artemísia nos pontos Ashi depois de 20 minutos, paciente relata que melhorou está em 4 e mais solta nos três movimentos.

Dia 26/10- nível da dor = 5 nos três movimentos antes de colocar a Artemísia com calor nos pontos Ashi, depois de 20 minutos relata que a dor está em 4 ou menos e a articulação está mais solta. Forçamos um pouco o levantamento do braço e conseguiu mais amplitude de movimento.

Dia 01/11- nível de dor=5 somente na posição 2, nas outras posições 1 e 3, relatou não sentir dor. Após a colocação da Artemísia nos pontos Ashi, o paciente relatou que a articulação está solta e com grau 3 de dor no movimento 2.

Dia 09/11- nível de dor =1 na posição 1. Nos outros movimentos relatou uma fisgada de dor=1. O paciente foi instruído a fazer o movimento que originou a dor, isto é foi realizado movimento de se segurar na barra sem soltar o corpo e o paciente relatou dor=5.

Após a aplicação de calor e Artemísia nos pontos Ashi durante 15 minutos, o paciente relatou nenhuma dor nos movimentos e dor 4 no movimento de segurar na barra sem soltar o corpo.

Dia16/11- nível de dor 3 na posição 2 e dor 4 na posição 1. O paciente relatou que tomou vento frio e umidade nas costas durante a semana. No dia de hoje dirigiu tenso. Os pontos Ashi estão mais sensíveis nas costas no trajeto do meridiano do ID.

Dia 23/11- nível de dor=2 na posição 2 e 1 . Na posição 3 sentiu dor=3. Foi colocada Artemísia sem colocação de manta térmica nos pontos Ashi. Paciente relata sentir muito calor com a manta. Após 20 minutos da colocação da Artemísia sem o calor, o nível da dor é 1 em todas as posições.

Dia 30/11- nível de dor= 1 na posição 2, diz que os movimentos estão soltos e não sente mais dor nos outros movimentos. Foi colocada Artemísia nos pontos Ashi das costas sem a manta térmica e estão menos dolorosos e o ponto do ID mais sensível ainda é o ID11.

Dia 07/12- nível de dor=1 posição 2. Foi colocada Artemísia sem manta térmica nos pontos Ashi das costas. A partir deste atendimento não foi utilizado calor.

Dia 14/12- nível de dor=1 posição 2. Artemísia sem manta térmica.

Dia 21/12 não foi realizado tratamento.

Dia 28/12 não foi realizado tratamento

Dia04/01 nível de dor-1 na posição 2, foi colocado cataplasma de Artemísia nos pontos Ashi das costas sem a manta térmica e estão menos dolorosos e o ponto do ID mais sensível ainda é o ID11.

No dia13 de janeiro foi sugerido que o paciente fizesse alguns movimentos para aquecer a articulação, como rotação do ombro e após foi realizado o movimento de colocar as duas mãos no aparelho de barra fixa e também, que não se pendurasse, apenas colocasse as mãos e segurasse na barra. Os músculos do braço esquerdo apresentaram um estremecimento no início. Foi sugerida a repetição do movimento e após algumas tentativas, os músculos já se acomodaram. O paciente relatou dor=4 nesse movimento.

Dia 18 de janeiro, depois do aquecimento, o paciente realizou os movimentos de colocar as duas mãos no aparelho de barra fixa e foi sugerido que não se pendurasse, apenas colocasse as mãos e segurasse na barra. Os músculos do braço esquerdo não apresentaram um estremecimento no início. Foi solicitada a repetição do movimento e após algumas tentativas, os músculos já se acomodaram. O paciente relatou dor 2 nesse movimento.

Dia 30 de janeiro paciente relata que esteve na praia e nadando sentiu um desconforto na articulação, como se desse um estalo e se surpreendeu quando fez movimentos de braçadas e não sentiu dor nenhuma. Continua o relato dizendo que se curou na água do mar.

Dia 12 de fevereiro paciente relata que fez aquecimento com os braços e conseguiu
fazer o movimento que gerou a síndrome, isto é, conseguiu se pendurar na barra sentindo dor nível 2. Considera-se 99 % curado.

Os pontos Ashi estavam localizados no trajeto do ID em todos os atendimentos.

CONCLUSÃO
O tratamento realizado conforme as diretrizes da MTC proporcionou o alívio das dores com a eliminação do frio e produziu o relaxamento dos tendões e dos músculos quando eliminou a estagnação do Qi. Isso possibilitou que o paciente voltasse a praticar alguns exercícios físicos dentre eles a natação.

No episódio da natação no mar, quando sentiu um estalo, o ombro naturalmente voltou à sua articulação normal.

É impossível definir todas as variáveis ocorridas durante esta pesquisa. Atribui-se o sucesso da mesma ao conjunto de fatores que contribuíram para que tal ocorresse. O mar, a planta, o calor, o estado mental, emocional e energético (espiritual) do paciente e do terapeuta. O Qi, em todas as suas formas de matéria ou de energia colapsou de forma harmônica para que tudo acontecesse como aconteceu.

As coisas acontecem e não há como comprovar usando a metodologia científica clássica. A Medicina Ocidental denomina de Remissão Espontânea os episódios de doenças curadas sem uma causa comprovada.

Parafraseando o físico Eddington: Alguma coisa desconhecida está fazendo não sabemos o que…

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