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Tratamento fisioterapêutico associado à acupuntura: revisão de literatura

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MARCELA ZAMPRONIO ALVES
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN

A síndrome do impacto do ombro (SIO) está entre as enfermidades que mais provoca afastamento ao trabalho. A medicina ocidental aponta alguns fatores de predisposição e agravamento da SIO como a configuração anatômica dos ossos do complexo do ombro, postura e atividade laboral e tem seu tratamento baseado em alívio da dor e retorno da função do membro através de medicamentos e fisioterapia, modalidade que ainda promove discussão sobre qual seria o melhor protocolo de tratamento. Para a medicina chinesa a SIO tem causas diversas, desde uma simples invasão de fator patogênico até um desequilíbrio energético dos zang fu que promove deficiência energética e sintomas de dor e fraqueza como os observados na SIO. Uma revisão de estudos sobre a utilização da acupuntura como opção no tratamento do ombro doloroso evidencia melhora no quadro álgico, melhora na função do ombro e diminuição do uso de analgésicos recomendando esta modalidade terapêutica como adjuvante no tratamento da SIO.

Sun et al (2001), em seu trabalho com 35 pacientes portadores de ombro congelado (apresentavam sintomas de dor e restrição de movimento há mais de um mês e menos de um ano) divididos em dois grupos que realizaram exercícios e exercícios mais acupuntura. Foram realizadas 12 sessões de fisioterapia com alongamentos de rotadores externos e internos, adução e flexão, além de um programa para casa para os dois grupos. O grupo de acupuntura realizou 12 sessões de acupuntura com a punção do ponto Zhongping. O estudo verificou que houve significativa melhora no tratamento do ombro congelado nos quesitos dor, amplitude de movimento e funcionalidade quando o tratamento fisioterapêutico foi associado à acupuntura, com a melhora se mantendo após 20 semanas do tratamento.

Vas et al (2008) realizou um estudo com 425 pacientes portadores de síndrome do impacto subacromial crônica (há mais de 3 meses) divididos em 2 grupos. No primeiro grupo a fisioterapia convencional foi associada à utilização de apenas um ponto de acupuntura (E38 homolateral), no segundo grupo (controle) foi utilizado um placebo (aparelho de TENS desligado) e o mesmo tratamento fisioterapêutico que consistia de calor superficial (5 minutos), exercícios de reposicionamento da cabeça do úmero ativos e passivos, controle de escapula (10 minutos) e crioteapia (10 minutos). Foram realizadas 15 sessões de fisioterapia e três sessões de acupuntura ou placebo. Após as três semanas de tratamento os pacientes que realizaram a acupuntura associada à fisioterapia apresentaram melhores resultados que o grupo controle em relação à queixa de dor e consumo de analgésicos, esses resultados se mantiveram após um ano. Os autores recomendam o uso da acupuntura associado à fisioterapia.

Lathia et al (2009) dividiu 31 pacientes com queixa de dor (tendinites ou osteoartrite) em ombro há mais de 8 semanas em 3 grupos nos quais foi aplicada acupuntura individualizada, um protocolo fixo de 7 pontos de acupuntura e placebo duas vezes por semana por seis semanas. Os dois primeiros grupos apresentaram melhora em relação ao terceiro, mas não foi verificada diferença entre a acupuntura individualizada e o uso do protocolo geral concluindo que a acupuntura é um tratamento eficiente e o uso de um protocolo fixo facilitaria o tratamento e futuras pesquisas.

Johansson (2005) comparou o uso da acupuntura com o uso do ultrassom, ambos acompanhados de um programa de exercícios caseiros, foi realizado neste estudo um protocolo de 10 sessões utilizando cinco pontos de acupuntura (IG4, IG14, IG15, TA14 e P1), o ultrassom foi utilizado na potência de 1 W/cm² por 10 sessões. Os exercícios caseiros no primeiro momento visaram restaurar o movimento do ombro e no segundo momento fortalecer o manguito rotador. Os resultados demonstraram que a acupuntura associada a exercícios realizados em casa foi mais efetiva que o uso do ultrassom e se manteve superior até um ano após o tratamento.

Em seu trabalho, Guerra (2003) efetuou o tratamento apenas com acupuntura em 201 pacientes com lesões de tecidos moles do ombro, com prevalência de tendinite do manguito rotador. Foram utilizados pontos locais como o IG15, TA14, pontos distantes como E36, E38, VB34 e Zhongping, utilizou-se moxa local, eletroacupuntura e auriculoterapia. O estudo obteve resolução completa da dor e limitação de amplitude de movimento em aproximadamente 60% dos casos e melhoria notável sem queixas nas atividades diárias dos pacientes em aproximadamente 34% dos casos, com essa melhora acontecendo em poucas sessões, a maioria de 1 a 3 sessões, realizadas uma vez ao mês.

Dentro da fisioterapia convencional ainda não há um consenso sobre qual o melhor protocolo de tratamento, Sakata (2003) em seu estudo de revisão verificou resultados contraditórios referentes à eficiência do tratamento com laserterapia, criticou os métodos utilizados nos estudos com eletroterapia classificando-os como inconclusivos e relatou evidências de que o tratamento por ultrassom seria ineficaz. Recomendou, no entanto exercícios para flexibilidade e força muscular.

Moreli e Vulcano (1993) preconizam o tratamento conservador da síndrome do impacto, dividindo os pacientes portadores de lesões inflamatórias no ombro em dois grupos e afirma que para o grupo de pacientes com impacto subacromial medidas de calor local são benéficas, mas a cinesioterapia com exercícios de fortalecimento muscular e alongamentos, poderia provocar o conflito das partes inflamadas contra os pontos de estenose tornando, estes exercícios, contraindicados, recomendam apenas exercícios pendulares e o uso de anti-inflamatórios. Para o segundo grupo cujo fator determinante da lesão é o esforço repetitivo recomendam cinesioterapia visando obter boa elasticidade, força e harmonia muscular.

Giordano (2000) concorda com Moreli e Vulcano (1993) quanto à opção pelo tratamento conservador e recomenda que a reabilitação do ombro deva ser realizada por um período de três a seis meses, optando-se pelo procedimento cirúrgico apenas quando o paciente não apresentar melhora com o tratamento conservador. Realizou sua pesquisa com 21 pacientes utilizando diatermia com ondas curtas, laser de baixa intensidade, eletroterapia e exercícios pendulares no início do tratamento e o fortalecimento muscular na segunda fase. O tempo médio de tratamento foi de 18 sessões com os pacientes apresentando ao final do tratamento boa melhora na amplitude de movimento de ombro, mas ainda um número considerável de queixas de dor (principalmente noturna).

Muitas críticas também são feitas sobre os estudos envolvendo técnicas de acupuntura quanto à qualidade destes estudos pela descrição de procedimentos, grupos controle variados, pequenas amostras utilizadas e acompanhamento pós-tratamento, o que acarreta diferentes resultados tanto a curto como longo prazo. Pesquisadores apontam a necessidade de ensaios clínicos com metodologia melhor elaborada (Murphy 2009; Wiley, 2008; Michener, 2004; Zhang, 2003). Entretanto pode-se observar melhora nos quesitos dor, amplitude de movimento e uso de analgésicos em todos os trabalhos em que a acupuntura foi utilizada, independente do protocolo.

A diversidade de técnicas utilizadas torna difícil a comparação, em alguns trabalhos como o de Gerra (2003) foram realizadas sessões mensalmente e poucas foram necessárias para se verificar melhora nos pacientes. Vas (2008) utilizou apenas um ponto e verificou significativa melhora em apenas três sessões, deixando uma ressalva de que um tratamento com mais pontos poderia apresentar resultados ainda melhores.

Em seu trabalho Lathia (2009) não descreve o protocolo utilizado e também o diagnóstico feito dos pacientes no caso do tratamento individualizado o que poderia ter provocado a similaridade de resultados entre os dois grupos, mesmo assim verificou melhora após o tratamento.

Existe uma grande dificuldade em conciliar as duas visões (ocidental e oriental), enquanto a medicina ocidental busca um protocolo fixo capaz de ser reproduzido para que os mesmos resultados sejam encontrados, procurando assim, o melhor tratamento para determinada afecção levando-se em conta muitas vezes somente exames, a medicina tradicional chinesa trata o indivíduo nos aspectos físico e emocional buscando seu equilíbrio interno e com o ambiente que o cerca apresentando assim diagnósticos diferentes para o mesmo problema priorizando um tratamento individualizado específico para o desequilíbrio encontrado no paciente.

No entanto algumas teorias estão em concordância, tanto a medicina ocidental como a chinesa acreditam que o excesso de uso de um membro pode causar dor, no caso da medicina ocidental este seria provocado por fadiga muscular e impactação das estruturas subacromiais, ma visão chinesa o excesso de uso de um membro pode provocar a estagnação de energia no local, evoluindo para uma estagnação de sangue o que também seria a causa de dor no ombro. o trabalho realizado em condições desfavoráveis de temperatura pode provoca uma contração maior dos músculos ou um maior recrutamento deles, que é entendido com a penetração das energias perversas de frio ou calor através da pele que pode ir se aprofundando através do canal de energia e alcançar as articulações. O estresse e a pressão competitiva, também identificadas como agravantes das DORTs (doenças osteomuscular relacionada ao trabalho) em geral, da qual a síndrome do impacto faz parte são entendidos pela medicina chinesa como debilitadores da energia do baço, que é responsável pela nutrição dos músculos e estando deficiente fará com que o individuo sinta cansaço, músculos fracos podendo até apresentar atrofia, esta deficiência também é associada à má nutrição. O fígado também possui papel importante pois está associado ao estresse, à irritação, e debilita a energia do baço.

A medicina chinesa por ser feita a milhares de anos não contava a possibilidade de exames que auxiliassem o diagnóstico por isso sua avaliação se atentava para o indivíduo e todos os sinais de desequilíbrio que seu corpo produz, sinais que hoje são ignorados pela população em geral, fazendo com que as doenças só sejam percebidas quando já se instalaram e provocaram, muitas vezes, alterações anatômicas. A medicina chinesa lida com energia e entende que a doença se desenvolve primeiramente no nível energético, como um desequilíbrio, este desequilíbrio não tratado vai se agravando e se torna material, afetando o corpo físico, muitas vezes irreversivelmente.

Outro ponto em comum entre a medicina ocidental e oriental está na prevenção da síndrome do impacto entre outras doenças, ambas concordam que a prática de atividades físicas, boa alimentação, condições de trabalho e descanso adequado são recomendáveis para a prevenção de lesões e distúrbios do organismo.

CONCLUSÃO: Apesar da dificuldade em analisar e comparar os estudos que utilizam a acupuntura como opção de tratamento, pode-se observar em todos, indícios de melhora da queixa de dor no ombro, melhora no movimento do ombro e em outros a diminuição do uso de analgésicos pelos pacientes, o que influencia a qualidade de vida do indivíduo com ombro doloroso.

A acupuntura é uma técnica de baixo custo capaz de auxiliar o tratamento convencional da síndrome do impacto do ombro podendo reduzir o tempo deste tratamento e proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente, merecendo ser melhor estudada e divulgada.

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