JULIA MYÊ VIEIRA DE PAULA OGUCHI
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso. Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN
Em 1906 Plouller introduziu o adjetivo ‘autista’ na literatura psiquiátrica, na época ele estudava o processo do pensamento de pacientes que faziam referência a tudo no mundo e a sua volta, consigo mesmos, num processo considerado psicótico. Estes pacientes tinham o diagnóstico de demência precoce, que ele mudou para esquizofrenia e em um período de dois anos, Kanner criou um substantivo e passou a chamá-lo de autismo primário.
Leboyer (2005) afirma que toda tentativa de definição do autismo tem início na primeira descrição dada por Kanner em 1943 em seu artigo intitulado: “Autistic disturbances of affective contact” -“Distúrbios autísticos do contato afetivo”.
São chamadas autistas as crianças que têm inaptidão para estabelecer relações normais com o outro; um atraso na aquisição da linguagem e uma incapacidade, quando ela se desenvolve, de lhe atribuir um valor de comunicação. Essas crianças apresentam igualmente estereotipias gestuais, uma necessidade imperiosa de manter imutável seu ambiente material, ainda que deem provas de uma memória frequentemente notável. Contrastando com esse quadro, ela tem, a julgar por seu aspecto exterior, um rosto inteligente e uma aparência física normal. (KANNER, 1943 apud LEBOYER, 2005, p. 9).
Temos também a definição de autismo desenvolvida pelo “Board Of Directions of the National Society of Autistic Children” (Inglaterra). Onde em 1976 alguns cientistas da equipe criaram uma definição onde mais tarde foi reformulada no ano de 1977.
“O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave durante toda a vida. É incapacidade e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de cinco entre cada dez mil nascidos e é quatro vezes mais comum entre os meninos que meninas. É uma enfermidade encontrada em todo mundo e em famílias de toda configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente dessas crianças que possa causar autismo”. (The National Society for Autistic Children, USA,1978).
Sintomas observados e analisados em anamnese: distúrbios de ritmo de aparecimento de habilidades físicas, sociais e linguísticas; disfunções sensoriais, fala e linguagem ausentes ou atrasadas; relacionamento anormal com objetos, eventos e pessoas.
As formas mais graves dessa síndrome apresentam sintomas como os de autodestruição, gestos repetitivos, e raramente comportamento agressivo, que podem ser muito resistentes a mudanças, necessitando frequentemente de tratamento e técnicas de aprendizagem muito criativas e inovadoras. (Década de 80)
O objetivo da terapia para a criança autista é melhorar o processamento sensorial para que desta forma, uma quantidade maior de sensações sejam mais efetivamente registradas e moduladas, e para encorajar a criança a formar respostas adaptativas com o sentido de ajudá-la a aprender a organizar seu comportamento. Quando a terapia trás resultados, há uma mudança considerável na vida da criança; no entanto a terapia pode não proporcionar grandes mudanças em todas as crianças com autismo. Estudados continuam sendo realizados para descobrir mais sobre os problemas neurológicos das crianças com autismo e para desenvolver caminhos de alcançar seus cérebros com experiências sensoriais.
O autismo infantil caracteriza-se pelo comprometimento em três áreas do desenvolvimento, que são a interação social, a comunicação e linguagem e o comportamento.
Segundo a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde– CID 10, o AI é caracterizado por desenvolvimento anormal ou alterações apresentadas no desenvolvimento antes dos três anos de idade. O transtorno ocorre três a quatro vezes mais frequentemente em garotos do que em meninas.
Outro transtorno dentro do termo TEA é a Síndrome de Asperger, caracterizada pelo comprometimento na interação social e nos interesses restritos. A linguagem encontra-se preservada, no entanto as crianças acometidas pela síndrome apresentam dificuldade na interpretação da linguagem não verbal e a linguagem verbal recebe uma interpretação muito literal. A capacidade cognitiva pode ser acima da média e as crianças com essa síndrome costumam adquirir um vocabulário muito sofisticado em volta do seu tema de interesse.
AUTISMO NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA : O Autismo compreende um quadro clinico com vários sintomas, como explicado anteriormente na visão ocidental. Porém, na Medicina Tradicional Chinesa o diagnóstico é realizado diferentemente através de conjuntos de sinais e sintomas. Assim as principais características que serão analisadas nesta pesquisa, de acordo com a personalidade e comportamentos dos indivíduos avaliados, serão:
– Falta de concentração e atenção: deficiência do órgão Baço Pâncreas;
– Estereotipias: presença do fator vento, distúrbio no Elemento Madeira;
– Ansiedade: Distúrbio no elemento Água (rim e intestino), onde a ansiedade apresenta-se pelo medo de mudanças na rotina. E no elemento fogo (coração);
– Dificuldades intestinais: como a prevalência é a constipação, presença do fator calor no intestino grosso;
– E não podemos deixa de lado o fato de a patologia ser intelectual e pertencer à mente observamos então um Distúrbio do Shen.
Na teoria da Medicina Tradicional Chinesa, há uma associação das desarmonias dos seguintes órgãos:
– Coração: a desarmonia do mesmo inibe a conexão emocional e social com outras pessoas, aumenta a predisposição a ansiedade, risada inapropriada, fala excessiva e irregular ou mesmo afasia e dificuldade de conviver com a realidade. – Baço-Pâncreas: a deficiência desse órgão gera os distúrbios digestivos e os comportamentos obsessivo-compulsivos.
– Rim: está envolvido com a predisposição genética (Qi ancestral ou pré-natal, que pode estar envolvido nas dificuldades apresentadas, principalmente nas dificuldades cognitivas). O Rim também desempenha papel importante no desenvolvimento do sistema nervoso central na teoria médica chinesa.
Alguns sintomas do autismo no ponto de vista da medicina ocidental podem ajudar a determinar o diagnóstico e as direções terapêuticas na Medicina Tradicional Chinesa. Eles incluem: salivação excessiva nas crianças, fezes soltas ou constipação, cólicas, reflexo de deglutição e sucção diminuído, desejo de comer coisas estranhas, olhar vago, risada sem razão aparente, pouco ou nenhum contato visual com outras pessoas, sudorese anormal, disturbio do sono, disfunção sensorial.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo prospectivo, descritivo transversal, referente a trabalho de conclusão de curso, para onde o fator de exposição avaliado será o efeito da acupuntura em indivíduos Autistas da APAE de Itapetininga, utilizando o questionário que foi de autoria própria, sendo estabelecida a relação desta com as atividades de vida diária realizadas pelos sujeitos, e comportamento no dia a dia.
Foram selecionados para o trabalho 16 autistas de ambos os sexos com idade entre 10 e 32 anos, alunos da Instituição.
Instrumento de pesquisa: o questionário utilizado no trabalho foi de autoria própria, elaborado com base em modelos de questionários ocidentais e na ficha de ambulatório do CETN, e foi aplicado em 2 momentos – pré e pós intervencão. Neste questionário foram abordadas questões relacionadas à falta de concentração e atenção, esterotipias, ansiedade, dificuldade intestinais.
Materiais utilizados: Apongs, sementes de mostarda, micropore, Floral de Bach Clematis dissolvido em água, pinça, placa de sementes, estilete, algodão, álcool 70%.
Procedimento: Após a assinatura do Termo de Autorização pelos pais ou responsáveis, os indivíduos foram avaliados quanto aos critérios de elegibilidade. Num primeiro momento foi feita a aplicação do questionário aos docentes da APAE de Itapetininga. Após, os indivíduos foram submetidos a intervenção sistêmica, utilizando pontos pertencentes à técnica de Shu Dorsais, onde foram aplicadas sementes nos pontos : B15, B23, B25, B27 e B28 Bilaterais.
1a semana: Apongs bilaterais em 4 pontos
2a semana: sementes nos mesmos pontos
3a semana em diante: sementes que anteriormente foram imersas em flora CLEMATIS
COMPARATIVO DE RESULTADOS
Pode-se observar que em alguns casos, pertencentes a este estudo, após descuidos ou dificuldades da família com relação aos medicamentos, os alunos passaram a regredir significantemente, não tanto quanto se esperava antes da intervenção da acupuntura, quando só se tratava com medicamento. E o que ajudou a manter ou retardar essa regressão pode ter sido a intervenção da medicina tradicional chinesa. O que foi possível observar também foi que no momento da aplicação da técnica, que semana após semana foi facilitando, os alunos foram permitindo cada vez mais, muitos que corriam e não deixavam realizar a aplicação após duas ou três aplicações permaneciam sentado ao lado do colega que estava realizando a colocação, aguardando e já erguia a camiseta aguardando sua vez.
Alguns responsáveis por estes alunos nos procuraram relatando as melhoras percebidas na rotina em casa.
Os resultados foram surpreendentes, pois no inicio do estudo a autora se sentia insegura, pois acreditava que muitas questões não mudariam tão significantemente para conseguir ser alterada de “NÃO” para “SIM” e vice versa, imaginando que poucos resultados seriam positivos. Mas como observa-se abaixo, resultados qualitativos e quantitativos e ambos demasiadamente satisfatórios.
De acordo com os resultados das tabelas individuais pode-se obter taxa em porcentagem de melhoras do inicio ao fim das intervenções de acupuntura. Segue abaixo esses dados (as siglas são abreviações dos nomes dos alunos):
– D.S.: 10,45%
– D.S.A.: 14,92%
– D.B.: 16,42%
– D.C.: 25,37%
– E.G: 8,96%
– F.C.: 8,96%
– I.F.: 8,96%
– J.G.: 13,44%
– M.V.: 5,97%
– M.G: 5,97%
– R.C: 19,40%
– R.A.: 4,48%
– S.S: 20,98%
– S.M.: 10,44%
– Y.B.: 20,98%
Observação: O aluno A.P. iniciou a intervenção e após a primeira, mudou-se de período na escola, deixando então de realizá-las
Alguns depoimentos dos professores e psicólogos dos alunos:
“A aluna S.M.D.V. tem procurado mais contato físico, buscando o colo da professora e abraçando, tem estado mais tolerante, está emitindo sons diferentes próximo a som de fala e não só grunhidos. Quando é apresentado uma caneca contendo pouca água, o suficiente para um gole, bebe sozinha.”
“A aluna Y.B.O. tem apresentado uma melhora significativa na auto e na heteroagressão, na autonomia e independência”.
“A aluna M.G.S.C apresentava paradas de forma descontextualizada( quando encontrava-se andando sempre parava e agachava no chão) e isso não tem acontecido mais, melhorando a iniciativa própria e a independência. Tem tentando demonstrar, de sua maneira, algumas suas preferências. Seus balanceios diminuíram significativamente. Senta-se na cadeira , próximo as colegas, e não mais no chão sozinha.”
“O aluno S.S.S. apresentou melhora significativa em sua ansiedade e movimentos como andar em círculos o dia todo, tiques que chegavam a machucá-lo e hoje permanece sentado realizando as atividades na maior parte do período. Tenho percebido o mesmo mais calmos em suas atitudes e no dia a dia.”
“O aluno F.C.S. manteve-se calmo e apresentou melhoras até o término da intervenção”
“A aluna I.F.F. apresenta-se mais proativa , brincalhona e bem humorada”
“No aluno M.V.S. percebi após a intervenção da acupuntura que o aluno mostrou-se mais participativo, mais tranqüilo e com menos estereotipias”
“O aluno J.G.D. Passou a ter uma interação mais significativa do aluno com os colegas da sala”
“A dinâmica institucional agitada da APAE- Itapetininga, permitiu uma observação relativa deste trabalho desenvolvido pela autora. No entanto, foi possível verificar que os casos mais graves tiveram um “aumento na tolerância”, conseguindo serem um pouco mais continentes e tardando para a instalação da crise (psicotização), além de apresentarem agravamentos menos intensos e duradouros.
Vale manifestar a percepção sobre seu empenho quanto ao cuidado na aplicação da técnica de acupuntura, pois a mesma dinâmica institucional se sobrepunha a ela. Apesar da exigência para tantas atribuições, nossa colega conseguiu qualitativamente chegar a bom termo, aproveito para parabenizar o esforço da mesma, pois não é de hoje, percebemos a dedicação, desdobramento e disciplina nos horários. Sempre usando a melhora do atendimento dos alunos da APAE- Itapetininga e sua qualidade de vida.”