DIANE MILITÃO YAMAMOTO ARADA
Monografia apresentada para obtenção do título de especialista em Acupuntura – CETN – Bauru, 2016.
Na Medicina Tradicional Chinesa as diferentes técnicas terapêuticas visam estimular o organismo do paciente de tal modo que ele siga sua própria tendência natural para voltar a um estado de equilíbrio (PALMEIRA, 1990).
Neste estudo o desequilíbrio foi diagnosticado pela presença da dor intensa na região de calcâneo (Esporão Calcâneo), porém cabe explicar na visão oriental o que é dor e suas causas.
Na Medicina tradicional chinesa a dor é conceituada como um aumento da pressão interna do Qi e Xue dentro dos Jing ou Luo e pode ocorrer por três motivos básicos: Bloqueio, Excesso e Deficiência. De acordo com Carvalho e Fernandes (2015), a dor é causada pela perda do livre fluxo do QI e por isto a dor não é apenas um sinal, mas faz parte essencial da doença. Sua localização é fundamental para o diagnóstico das enfermidades nas quais está presente.
Clark e Tighe (2012), em estudos randomizados concluíram que a acupuntura é eficaz no tratamento da dor provocada pela fascite plantar e esporão calcâneo e sua eficácia foi comparado com as abordagens convencionais como o uso de alongamentos, e de fármacos como infiltração de dexametasona.
Zang e Li (2011), em estudos randomizados na Tailândia alocou 30 indivíduos acometidos em dois grupos para comparar a abordagem convencional isolada com a associada à eletroacupuntura, aplicada nos pontos de maior sensibilidade no pé com dor. Houve redução significativa da dor, com uma diferença entre os dois grupos que se mantiveram seis semanas após o fim do tratamento.
O Diagnóstico Energético da Medicina Tradicional Chinesa para o Esporão Calcâneo em pacientes jovens portadores de também de fascite plantar apresentam:
Estagnação de Qi no meridiano Shao Yin do pé. Já em pacientes acima de 40 a 50 anos, com quadro mais crônico, pode ser considerado como Deficiência de Yin do Rim, há casos que podemos considerar a Deficiência de Yang do Rim.
A Proposta terapêutica é mover o Qi, tonificar o Yin ou Yang do Rim nos casos de deficiência. Com o objetivo de equilibrar o paciente e assim ele consiga desenvolver suas ações com melhor qualidade de vida.
A técnica foi o uso das agulhas e a moxabustão, conforme descrito na sequencia.
2. OBJETIVO
Equilibrar o paciente em relação a dor causada pelo Esporão Calcâneo utilizando a Acupuntura neste tratamento.
Foi solicitado para que os participantes durante o período de tratamento não utilizassem medicações de dor para não comprometer os resultados da pesquisa.
A pesquisa ocorreu no período de 18.02.2015 à 26.02.2016, sendo acordado que o tratamento teria a duração de 25 sessões, e seria dividido da seguinte forma:
Primeira etapa: Fase do Controle da Dor, correspondendo a 10 sessões, as consultas seriam uma vez por semana. Essa escolha foi devido os participantes não conhecerem a acupuntura, e como faríamos o agulhamento, era importante realizar as sessões com um espaço de tempo maior entre elas para que essa técnica se tornasse conhecida e familiar antes de aumentar o número de sessões por semana.
Após essas sessões faríamos uma avaliação e daríamos prosseguimento com a segunda etapa.
Segunda etapa: Fase de Recuperação, correspondendo a 10 sessões, porém sendo 2 sessões por semana e após esse período faríamos uma comparação dos resultados, tanto da primeira como segunda fase.
Terceira etapa: Fase de Prevenção, terminaríamos o tratamento realizando uma sessão ao mês de manutenção, a intenção é a prevenção da dor, uma vez que o Esporão é um crescimento ósseo é importante esse cuidado de prevenção. Ao total foram realizados 25 sessões em todos os pacientes.
No inicio da coleta de dados tínhamos uma amostra de 18 pacientes, porém no decorrer do tratamento houve 8 desistências, as causas foram: 3 pacientes mudaram de cidade e 5 pacientes relataram melhora significativa (sem dor) e não acharam mais necessário o acompanhamento do tratamento, e relataram ser um tempo muito longo de pesquisa, uma vez que já tiveram seu problema resolvido.
Para a coleta de dados foi realizado somente uma pergunta no início da consulta e ao término da consulta, sendo os resultados anotados no prontuário de cada um. A pergunta foi: “Utilizando a escala de 0 a 10 qual é o número que representa sua dor nesse momento? Sendo O nada de dor e 10 uma dor insuportável”. E em seguida mostrava a Escala Visual Analógica – EVA.
De acordo com Martinez, Grassi, Marques (2011), essa escala também conhecida como Escala de EVA, nos auxilia a numerar a dor do paciente. A Escala Visual Analógica – EVA consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente, é um instrumento importante para verificarmos a evolução do paciente durante o tratamento e mesmo a cada atendimento, de maneira mais fidedigna.
Também é útil para podermos analisar se o tratamento está sendo efetivos, quais procedimentos têm surtido melhores resultados, assim como se há alguma deficiência no tratamento, de acordo com o grau de melhora ou piora da dor.
A EVA foi utilizada no início e no final de cada atendimento, registrando o resultado sempre na evolução.
Fonte: Escala de Eva – www.googleimage7
Na avaliação era realizada a preenchido a ficha de anamnese, observado pulso e língua, foram encontrados diferentes diagnósticos energéticos para conseguir o equilíbrio energético de cada paciente, porém para não faltar o rigor da pesquisa, o tratamento limitou se somente a questão do Esporão Calcâneo (local acometido- calcanhar).
Após a avaliação, o paciente era colocado em decúbito ventral na maca e realizado a palpação do calcanhar para encontrar os pontos ASHI, a técnica desenvolvida foi a utilização de somente 8 agulhas, na região de contorno do calcanhar, foi evitado a punção da face plantar devido a dor e desconforto.
A punção foi superficial e no ângulo de 90º (também chamado de ângulo de harmonização), as agulhas utilizadas foram 25x 30 da marca DONG BANG, e após a punção utilizado a técnica de Moxabustão, utilizado o bastão de Artemísia sem fumaça (WU YAN AI TIAO) até obter a hiperemia do local ou o paciente referir calor intenso no local (o que variou de 2 à 4 minutos de acordo com a sensibilidade de cada paciente), em todos as agulhas.
Após término da Moxabustão em todos os pontos, era cortado uma fatia de 2-3 milimetros de gengibre fresco, e realizado um cone de malha de Artemísia da marca DONG BANG (Gold moxa), colocado na região central do calcanhar e queimado, ao terminar o cone de malha de artemísia, com o gengibre ainda quente era realizado deslizamento em círculos por toda a região do calcâneo, movimentos.
A técnica teve a duração de 45 – 58 minutos, após o paciente é sentado na maca e colocado meia e o sapato, não era permitido colocar o pé no solo frio.
Ao término era novamente realizada a pergunta:
Utilizando a escala de 0 a 10 qual é o número que representa sua dor nesse momento? Sendo O nada de dor e 10 uma dor insuportável. E realizado as anotações no prontuário.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O Esporão Calcâneo é um problema ortopédico e provoca dor intensa principalmente na região calcânea, ocasionando desconforto e limitações ao cotidiano. Utilizar a acupuntura no tratamento do Esporão Calcâneo é mais uma possibilidade e que proporciona um resultado satisfatório para o paciente.
Em relação aos participantes do estudo tivemos uma participação maior do gênero feminino conforme o gráfico abaixo:
FIGURA 13: Caracterização da amostra segundo gênero. Araçatuba – SP, 2015/2016
Deste modo temos a amostra de 10 pacientes, sendo 6 do gênero feminino e 4 do gênero masculino, a faixa etária varia de 40 – 59 anos. Algumas características foram comuns a todos os pacientes, destacamos aqui o fato de que trabalham pelo menos 4 horas ao dia em pé, todos estavam com comprometimento na marcha (mancavam) e apresentavam dor no calcanhar. Na amostra temos os seguintes profissionais: 3 padeiros, 3 professores, 2 trabalhadores rurais (cortador de cana), 1 Auxiliar de Enfermagem e 1 costureira.
Segundo Guazeli (2013), o esporão do calcâneo afeta muito mais as mulheres, entre 40 e 50 anos, que trabalham em pé por longos períodos ou as que sofrem com o sobrepeso. Embora pequena a amostra estudada, encontramos essa característica de maior porcentagem de mulheres, entre 40 e 50 anos e que trabalham longos períodos em pé.
Embora Ferreira (2014), refere que a maior parte dos Esporões não apresenta dor, neste estudo todos os pacientes tinham a queixa de dor e acometimento na marcha, e o observado é que a queixa de dor de maior prevalência é no Calcanhar Esquerdo, conforme ilustrado no gráfico abaixo.
FIGURA 14: Prevalência do Calcanhar afetado
Durante a pesquisa bibliográfica não encontramos nenhuma referência relacionada a prevalência de qual o pé (direito ou esquerdo) de maior incidência de acometimento do Esporão Calcâneo.
De acordo com Internacional Association for the Study of Pain – IASP, dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos, no tratamento do esporão com uso da acupuntura, o controle da dor é um dos objetivos.
Na primeira sessão já é possível observar uma melhora da dor conforme o gráfico abaixo:
FIGURA 15: Comparação da dor inicial e final da 1ª Sessão
É possivel evidenciar uma melhora logo na primeira sessão, o que incentivou e animou os pacientes a realizarem o tratamento com a acupuntura. Deste modo no paciente 1 temos uma melhora da dor de 57,9%, no paciente 2 de 55,5%, no paciente 3 de 30%, nos paciente 4, 6 e 10 de 44,4%, no paciente 5 de 52.9%, no paciente 7 de 47,3%, no paciente 8 de 68,4% e no paciente 9 de 87,5%. Assim, na primeira sessão a melhora da dor variou de 30% – 87,5%.
No decorrer das sessões a melhora foi gradativa e evidente e ao término da 10ª sessão observamos:
FIGURA 16: Comparação da dor inicial do inicio e final da 10ª sessão
Se fizermos um comparativo desta primeira etapa da primeira e décima sessão temos:
FIGURA 17: Distribuição da melhora da dor ao término da Fase de Controle.
Portanto, ao final da Fase de Controle da Dor, na reavaliação de todos os pacientes a comparação da melhora da dor em relação ao inicio do tratamento temos: do paciente 1 de 78,9%, paciente 2 de 88,8%, paciente 3 de 90%, paciente 4, 6 e 10 de 77,7%, paciente 5 de 52,9%, paciente 6 de 77,7%, paciente 7 de 78,9%,paciente 8 e 9 de 100%.
Ao término da Fase de Controle da Dor (10ª sessão) na reavaliação os participantes relatavam melhora tanto da dor, como das atividades do cotidiano como caminhar, conseguir realizar suas atividades de trabalho sem o incomodo da dor latente, um fato curioso foi a fala de quatro mulheres estarem satisfeitas por conseguir escolher e colocar o sapato de sua preferência, todas essas considerações foram considerado algo muito positivo pelo grupo.
A melhora da dor foi o motivador para a continuação do tratamento nesta 2ª etapa, Fase de Recuperação, que consistiu em 10 sessões de acupuntura, sendo duas sessões por semana. Abaixo temos os resultados da primeira sessão da segunda etapa do tratamento.
FIGURA 18: Comparação da dor inicial e final da 11ª Sessão
Nesta segunda etapa os pacientes identificam a dor como um incomodo, alguns como os pacientes 8 e 9 relataram ausencia de dor. Cabe aqui ressaltar que todos os participantes em nenhum momento da pesquisa fez uso de medicamentos para melhora da dor ou parou suas atividades, pelo contrário, continuaram com suas rotinas, trabalhando, com suas atividades domésticas e de lazer, somente com o diferencial da melhora da dor e consequentemente da qualidade de vida.
Nas sessões seguintes tivemos vários relatos de ausencia de dor, e no final da segunda etapa, ou seja, na vigésima sessão temos vários pacientes que não apresentam dor em nenhum momento (inicio e final) da sessão, como podemos visualizar na tabela abaixo:
FIGURA 19: Comparação da dor inicial e final da 20ª Sessão
Neste gráfico podemos observar que os pacientes 1, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10 não referiram dor, ou seja 80% dos participantes ao final da segunda etapa, não apresentam dor. Se comprararmos o inicio e o término da segunda fase, temos:
FIGURA 20: Distribuição da melhora da dor ao término da Fase de Recuperação
Ao término da Fase de Recuperação (20ª sessão) na reavaliação temos 80% dos pacientes sem dor e os que permaneceram com dor nesta segunda etapa, ou seja apenas 20%, e esses ainda identificam a dor como incomodo. Se compararmos a 11ª sessão com a 20ª sessão, conseguimos identificar a melhora da dor do pacientes 2 de 75% e do paciente 6 de 83,3%. Na reavaliação todos referem estarem satisfeitos com os resultados.
A Fase de Prevenção foi constituida por cinco sessões, sendo apenas uma sessão ao mês, com o objetivo de verificar se haveria relatos de dor, qual o tempo de melhora ou de piora do participante. Não houve relatos de dor em toda essa etapa, ao término verificamos que os pacientes 2 e 6 que permaneceram com dor na segunda etapa melhoraram gradativamente e na 25ª Sessão podemos observar que somente o paciente 10 referia no início da sessão uma dor 1, ou seja um desconforto, que o paciente identifica como incomodo leve no calcanhar.
Ao final da Fase de Prevenção, se compararmos a 21ª sessão e 25ª sessão podemos observar uma melhora de 100% de todos os pacientes.
A EVA foi utilizada no início e no final de cada atendimento, para quantificar o grau de dor sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o nível de dor máxima suportável pelo paciente. Nesse gráfico podemos observar que no inicio do tratamento o nível de dor de todos os pacientes estava próxima da dor máxima suportável pelo paciente, e ao final obtivemos ausência total de dor, considerando assim que o tratamento foi eficaz nos seus objetivos: Equilibrar o paciente em relação a dor causada pelo Esporão Calcâneo utilizando a Acupuntura neste tratamento.
Como o Esporão Calcâneo é crescimento anormal de uma parte calcâneo, osso do calcanhar, é prudente que continue com as sessões de prevenção para evitar que o problema da dor retorne. Cabe ressaltar que a escassez de literatura sobre o assunto não permite uma discussão mais aprofundada sobre o tema.
Concluímos que o uso da acupuntura traz o equilíbrio do paciente em relação à dor causada pelo Esporão Calcâneo sendo eficaz e seguro para aqueles que optarem por essas técnicas.
Orientado por prof. Rubens Melo, adaptado por profa. Brena Montanha.