Jéssica Ferrari Borgatto
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso. Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN
A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça muitas vezes confundida com outros tipos de cefaleia, que costuma ser uma dor unilateral, latejante, acompanhadas na maioria das vezes de náuseas, vômitos e intolerância a sons, luz e cheiros fortes,com crises que podem variar de 4à 72 horas (CAMPOS, 2011).
É uma doença multifatorial, além do fator genético, o consumo de alimentos como queijos, embutidos, chocolate, café e adoçantes com aspartame, sono prolongado ou falta de sono, excesso de exposição ao sol, alterações de hormônios, tabagismo, odores fortes e a ingestão de bebida alcoólica podem desencadear uma crise. Transtornos de humor, como ansiedade e depressão, também podem frequentemente estar associados a um episódio de enxaqueca (PERES, 2012). Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) apontou a enxaqueca como a quarta doença crônica mais incapacitante no mundo, atrás apenas da tetraplegia, psicose e demência. Cerca de 15% da população brasileira sofre de enxaqueca, aproximadamente 25 milhões de pessoas, sendo a maioria mulheres (WANNMACHER – MINISTÉRIO DA SAÚEDE, 2010).
Existem vários métodos para o tratamento, como o uso de analgésicos comuns, ácido Acetilsalicílico, anti-inflamatórios não esteroides, paracetamolcostumam ser eficaz contra a dor, especialmente se tomados assim que surgirem os primeiros sintomas. No entanto, é preciso cuidado, o uso repetido desses remédios, o abuso de analgésicos e o aumento progressivo das doses necessárias para alívio da dor podem resultar num efeito rebote cujo resultado é o agravamento dos sintomas (VARELLA, 2010).
Porém o tratamento com a acupuntura, não corre o risco desse efeito rebote. Quando associado a outras técnicas como a auriculoterapia e fitoterapia, pode aumentar a eficácia no tratamento da enxaqueca, melhorando os sintomas e a frequência de crises da doença.
A acupuntura é uma técnica antiga que objetiva diagnosticar doenças e promover a melhora do paciente pela estimulação a auto cura do próprio corpo. Estimula-se determinados pontos do corpo para alcançar um equilibro eletromagnetico, esta estimulação pode ser feita por agulhas, stiper, laser, pressão e outras formas de abordagem (KUREBAYASHIet al., 2009).
Metodologia: Foi realizado um total de dez sessões, uma vez por semana, após ter sido feito um diagnóstico energético que consistiu em interrogatório, verificação de pulso e língua da mesma. Para o tratamento foi utilizado agulhas 0,25x30mm, nos pontos: R7, F3, VB34, BP6, VC9, CS3, VG20 e Yin Tang.
Paciente L., sexo feminino, 15 anos. Queixa Principal: Enxaqueca nas têmporas e de fundo de olhos. Queixa Secundária: dor na lombar e nos joelhos. Antecedentes de doenças: Gastrite, refluxo, sinusite e rinite.
Apresenta pés e mãos gelados e se sente melhor no frio, tem transpiração constante mesmo sem fazer esforço físico. Dores de cabeça diárias que pioram no fim do dia e crises de enxaqueca que começam mais no final da semana e duram em torno de dois dias. É constipada e urina uma vez por dia, sendo a urina bem amarela.
Sofre de insônia e só dorme se tomar medicamento, sente bastante fome o tempo todo e tem preferência por doces, não tem sede e quando toma água prefere mais fria.
Apresenta zumbido nos ouvidos e não menstrua há 1 ano, por causa de um cisto no ovário e quando menstruava tinha cólicas insuportáveis, com um fluxo intenso de 7 dias.
A paciente é bastante ansiosa, nervosa e teve depressão há pouco tempo.
Sente falta de ar quando faz esforço físico e quando tem crise de enxaqueca, sente tontura, ânsia e fica com a vista embaçada.
Na inspeção física, apresentou rubor malar e unhas quebradiças.
Língua: Pálida com petequias vermelhas na ponta, com pouca saburra amarelada no fundo e a forma é aumentada com marcas dentárias, veias sublinguais muito claras. Pulso: Rápido e superficial.
Diagnóstico Energético: Deficiência de QI do Rim, Deficiência de Yin do Fígado, Calor no TA superior, Deficiência de QI do Baço Pâncreas, QI rebelde do Estômago. Estagnação de QI, de Xue e de Jin Ye (líquidos corpóreos) e Distúrbio do Shen.
Resultados: Em 10 sessões de acupuntura, conseguimos obter uma melhora na qualidade de vida desta paciente, as faltas à escola por causa das crises de enxaqueca diminuíram e a vida social com os amigos também se tornou mais ativa.
Discussão: Vários autores comentam sobre a eficácia da acupuntura no tratamento de pacientes com enxaqueca. Sendo assim, este presente trabalho visou relatar o uso da acupuntura no paciente com enxaqueca, comparando os resultados com estudos randomizados e relatos de casos, descritos a seguir.
De acordo com Pai (2008), usando escala de escore para cefaléia e questionário de qualidade de vida, realizaram um estudo prospectivo, com 401 pacientes com queixa de cefaléia crônica, na rede de atenção primária na Inglaterra e no País de Gales. Eles testaram a acupuntura (12 sessões em três meses) além de medicação contra os cuidados rotineiros (incluindo a medicação consagrada para a cefaléia). O grupo da acupuntura teve uma melhora mais acentuada na escala de sintomas (acupuntura 34% de redução em sintoma e grupo controle 16% de redução em sintomas), teve 22 dias a menos de cefaléia, usou 15% a menos de medicação, teve 25% a menos de visita a médico, teve 15% a menos de ausência ao trabalho.
Segundo Oliveira (2011), estudo feito em 2002, apontou que mulheres optaram fazer acupuntura ao invés de utilizar medicamentos na prevenção da enxaqueca, e relataram menos crises.
Brito (2009) diz que a acupuntura obteve uma eficácia em 80% dos casos de enxaqueca.
Kikko (2012), concluiu através de sua pesquisa que houve um aumento da aplicação da acupuntura para tratar cefaléias, onde obteve resultados positivos em reduzir a frequência e a gravidade da cefaléia.
Linde (2009) realizou uma pesquisa com dois ensaios clínicos com 401 e 1715 pacientes, comprando a acupuntura com qualquer tratamento profilático ou rotinas de cuidados apenas, e após três a quatro meses, os pacientes que receberam acupuntura tiveram maiores taxas de resposta e menos dores de cabeça.
Zanatta (2011) aponta que pacientes que tiveram acesso à terapia com acupuntura obtiveram elevada satisfação, curando a dor sem intervenção medicamentosa.
Na prática clínica deste presente trabalho, foi realizado um estudo de caso com 1 paciente (10 sessões por quase três meses),que apresentava crises de enxaqueca semanais, tendo em vista o relato da paciente, a mesma obteve uma melhora significativa na intensidade da dor e diminuição na frequência das crises, tendo passado de uma média de duas vezes por semana para uma à cada 15 dias.
Podendo concluir assim, que a acupuntura apresenta grande eficácia, em todos os casos, no tratamento da dor de pacientes com enxaqueca e grande melhora na qualidade de vida destes.