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Análise do diagnóstico e tratamento da psoríase pela MTC – revisão de artigos

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Barbara Fátima Coutinho Correa
Márcia Lúcia Borella Ulhani

Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN

Para a MTC, a psoríase é uma enfermidade desenvolvida por deficiência de sangue ou por calor interno. Essas são causas relacionadas ao desequilíbrio energético. As causas da psoríase são combinações de fatores patógenos externos, vento, umidade e calor, que obstruem a circulação do Xue (sangue). Quando a doença evolui para a cronicidade, o sangue não é nutrido, o que provoca deficiência do Xue, levando à má nutrição dos canais ecolaterais. A mesma se manifesta com a queda das escamas.

A psoríase pode causar déficit de Qi do pulmão, excesso de calor ou de Yang no fígado, baço e rim. Entre outras funções, o pulmão ativa o fluxo do Qi e se comunica com a pele e cabelo, de modo a distribuir o Qi defensivo e os líquidos corporais para nutrir e lubrificar os músculos e a pele. Os excessos no fígado, coração e baço, assim como a deficiência de rim, afetam a atividade pulmonar.

Um primeiro artigo analisado descreve a evolução clínica da psoríase com a aplicação de dois métodos de acupuntura em pacientes atendidos no ambulatório do hospital geral “Dr. Juan Bruno Zayas” de Santiago de Cuba, durante 7 meses. Foi feito um estudo experimental com amostras aleatórias, independentes, no qual se formaram dois grupos terapêuticos. O primeiro, integrado por 25 pacientes que foram tratados com acupuntura, e o segundo, formado por 16 que foram tratados pela inserção do cat-gut cromado. Em ambos, teve-se em conta a idade, sexo e a localização das lesões. A localização nas diferentes partes do corpo foram classificadas em generalizada, quando predominam as partes enfermas sobre a pele sã, e vulgar, quando localizada em lugares específicos. Os pacientes foram evoluídos por grupo de tratamento, cujo segmento se fez através de consultas programadas: 3 vezes por semana para os tratados com acupuntura e a cada 21 dias para aqueles nos quais introduziu o cat-gut. Em ambos os casos, se completou 6 evoluções, ou seja, 6 cíclos de 10 sessões para os primeiros, e 6 introduções para os segundos. Ao finalizar o processo terapêutico, considerou-se as seguintes categorias:

– Curados: quando desapareceram as lesões cutâneas e os sintomas subjetivos, ainda que restaram máculas hipocrômicas residuais.

– Não curados: quando persistiram as lesões maculo-pápulo-eritematoescamosas na pele.

– Sem prurido: quando os pacientes deixaram de perceber esse sintoma subjetivo.

Os tratamentos acupunturais empregados nos integrantes do primeiro grupo foram seleção dos pontos e estimulação a cada 5 minutos. Antes de aplicar as agulhas, a pele lesionada foi estimulada com o martelo de 7 agulhas de forma suave, rítmica e firme, por cerca de 3 minutos. Isso resultou no benefício de um ligeiro sangramento e enrijecimento desta zona para liberar energia na lesão. Foram realizadas 10 sessões terapêuticas em dias alternados, para descansar mais 10 dias e reiniciar até completar 6 ciclos. Ao final de cada ciclo, foi feita uma evolução de cada caso. Os pontos utilizados foram: IG11, E36, B6, Du20, PC6, R5, VB13, P1 e P7. Aos pacientes do grupo 2, se introduziu um segmento do fio cat-gut cromado (3-0 ou 4-0 de 1cm, previamente lavado com água destilada, e desinfetado com álcool) através de um trocather número 20 ou 22 com mandril acoplado e biselado. A pele foi desinfetada e introduzido o trocather, cuidando para que o segmento do fio ficasse introduzido entre o tecido muscular e gorduroso, para facilitar a sua absorção. Os pontos foram retirados depois de 21 dias. Os pontos escolhidos foram: VB15, VB20, VB23 e VB26.

Em sentido geral, 73% dos pacientes sararam (75% dos tratados com acupuntura e 72% com cat-gut), o que converte os dois métodos em mecanismos muito úteis para tratar a Psoríase.

Fotopuntura: Outro artigo analisado foi “O emprego da medicina tradicional e natural no tratamento da psoríase”, publicado pela Revista Médica Eletrônica 2009; 31(3). Foi um estudo aberto, longitudinal e prospectivo em 110 pacientes com diagnóstico clínico e histopatológico de psoríase, que compareceram a consulta ambulatorial de dermatologia na Clínica Del MININT de Matanzas no período entre janeiro de 2007 a janeiro de 2008. Foram divididos os grupos quanto ao tipo de tratamento: grupo A: 55 pacientes tratados com técnica de fotopuntura (equipo FOTOTER 101) e grupo B, 55 pacientes tratados com acupuntura. A fotopuntura consistiu na aplicação de luz invisível gerada por arseneto de gálio nos seguintes pontos acupunturais: C7, IG4, IG11, E36, P7, BP6, BP10. Os integrantes do grupo B receberam tratamento de acupuntura. Foi observado que o grupo A alcançou a melhoria a partir da quarta semana de tratamento, sendo que parte dele já demonstrou melhorias a partir da segunda semana. No grupo B, a partir da terceira semana notou-se clareamento das lesões, mas ao final da oitava semana, em ambos os grupos, se alcançou a totalidade de clareamento, observando-se que na continuidade das sessões, até concluir os três ciclos, não houve mudança de resposta. Em relação ao prurido, 100% dos pacientes de ambos os grupos tiveram o desaparecimento dos sintomas, independente da categoria de melhoramento, sendo significativo que em ambos os grupos, ao final da quarta semana, esse sintoma já havia desaparecido.

Muitos autores afirmam que as dermatoses inflamatórias e pruriginosas em que se aplicam antiinflamatório esteróide tópico é mais benéfica, já que inibem a inflamação cutânea, diminuindo a vasodilatação produzida pela estamina e cinina, inibindo a síntese de prostaglandinas. Myrian Van Moffaert, em seu tratado sobre aspectos psicológicos dos enfermos com lesões cutâneas, expõe que a intensidade e o número de placas podem influir
no paciente, determinando a aparição do prurido. Os tratamentos com fotopuntura através do FOTOTER 101 e a acupuntura em paciente com psoríase não apresentaram diferença significativa, porém a maioria apresentou clareamento e desaparecimento do prurido durante o tratamento, evidenciando-se a eficácia de ambas terapias.

Fitoterapia: Outro caso analisado de tratamento da psoríase através da MTC foi o estudo com o uso da fitoterapia através do índigo naturalis ou Qing Dai, que tem sido pesquisado por suas propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e antimitóticas. O índigo naturalis é um pó azul escuro amplamente utilizado na medicina oriental chinesa em várias enfermidades, dentre elas a psoríase tipo placa. Este pó é obtido a partir das folhas da Baphicacanthus cusia, Polygonum tinctorium, Isatis indigótica, Indigofera tinctoria e Strobilanthes formosanus. Essas espécies possuem alcalóides bis-indólicos, sendo que os principais são a Indigotina e a Indirubina. As folhas e caules destas plantas são ricas em indicana (indoxil-5-D-glucosídeo) e isatana B (indoxil-5-ceto-gluconato), que ao decompor-se por hidrólise enzimática produzem o indoxil. O índigo foi sintetizado em 1878 e o primeiro processo industrial foi desenvolvido em 1890. O estudo do índigo naturalis no tratamento da psoríase vulgar foi realizado com 42 pacientes escolhidos por possuírem lesões iguais em ambos os lados de seu corpo em um ensaio duplocego, onde era espalhada a pomada de índigo nas placas psoriáticas em um dos lados e apenas a base da pomada nas placas do outro lado do corpo. A pesquisa durou 12 semanas e antes das consultas regulares, as lesões eram lavadas para que não houvesse identificação pelos médicos onde fora administrada a pomada em questão e sua base. Foi observado melhora em 31 pacientes dos 42 que foram avaliados e tratados com índigo naturalis. Nenhum efeito prejudicial foi notado, exceto queixa dos pacientes pelo fato da pomada manchar a pele e a roupa, mesmo saindo após lavagem. O tratamento com a pomada não possui reações adversas, como aquelas apresentadas em tratamentos com corticosteróide, nem outros efeitos colaterais, isto baseado em observações clínicas durante 5 anos, além do baixo custo. Dados sugerem que a terapia tópica com índigo naturalis é eficaz, pois sua ação se dá na modulação da proliferação e diferenciação dos queratinócitos, havendo uma redução da espessura epidérmica, descamação e enrijecimento, além de aumentar os níveis de filagrina no estrato córneo e na camada granulosa, inibindo a sinalização da proteína CD3. Estudos ainda sugerem haver possibilidade da redução da angiogenese, processo pelo qual ocorre a dilatação e aumento dos vasos sanguineos. Apesar dos grandes benefícios, ainda há poucos estudos científicos realizados com o índigo naturalis, necessitando de maior exploração no campo de pesquisa.

Outro artigo da revista Natureza On Line visa defender a utilização de substancias bioativas de origem vegetal no tratamento de psoríase8. São elas: Aloe vera, Saccharum officinarum, Verbena officinalis, Acanthus mollis, Echallium elaterium Rich, Parietaria officinialis, Verbascum sinuatum, Agave americana, Inula viscosa, Artemisia arborescens, Rhagadiolus stellatus DC, Curcuma longa, Baphicacanthus cussia, dentre outros. Para o tratamento da psoríase, as plantas são utilizadas em vários países. Em geral, colhidas na primavera, usadas para a decocção, sendo preparadas utilizando partes aéreas da planta esmagas e embebidas em água fria e vinho sem tratamento, e 10% a 17% de álcool. O tratamento com o filtrado é friccionado delicadamente sobre as áreas afetadas, sendo repetido 2 a 3 vezes por dia, durante 3 a 6 meses. Observa-se que, nos primeiros 25 dias, ocorre perda da elasticidade e endurecimento da pele, ocorrendo após significativa melhora no aspecto, sendo observada a completa recuperação. Todas essas plantas são mencionadas na MTC e estudo fotoquímico. Algumas plantas em especial foram citadas, como a Aloe vera, mais conhecida como babosa, que possui ação analgésica, antipruriginosa, antialérgica, cicatrizante e antiinflamatória. Usada com base hidrofílica a 0,5% em pacientes com psoríase durante 4 semanas, houve redução das lesões e do eritema. Ainda usando creme de Aloe vera a 50% em 40 pacientes, revelou-se que na maioria dos casos obteve-se redução completa ou parcial das lesões de psoríase. Estudos com ácidos graxos obtidos a partir do óleo de cera de Saccharum officinarum possuem efeito sobre o processo inflamatório da psoríase, pois são inibidores do metabolismo do ácido aracdônico, importantes no controle da inflamação na psoríase. A curcumina é componente ativo da especiaria indiana cúrcuma, também conhecida no Brasil como açafrão, e vem sendo utilizada como complemento no tratamento da psoríase. A curcumina oral é indicada para a psoríase vulgar crônica em doses diárias de 12g. Na sua aplicação tópica, utiliza-se em forma de gel a 1%, reduzindo nessas áreas a quantidade de células e a diminuição de queratinócitos, que estão associados a atividade psoriático. Os componentes ativos da planta Cannabis sativa agem na inibição da proliferação de queratinócitos epidérmicos, sendo usado no tratamento da psoríase, donde obteve-se resultado positivo na inibição da proliferação de queratinócitos.

Estudos com furocumarínicos, compostos naturais biológicamente ativos, derivados de várias plantas, mostraram-se eficazes no tratamento da psoríase por terem atividades celulares antiproliferativas. Há estudos também demonstrando aumento da eficácia dos furocumarínicos quando associados à fototerapia no tratamento da psoríase. A planta Caesaupinia bonduc apresenta em sua composição fenóis, flavonóides, glicosídeos, alcalóides, saponinas, triterpenos e ácido gálico. No tratamento da psoríase, demonstrou atividade antiproliferativa, diminuindo a redução da camada da epiderme ou ausência em lesões psoriáticas.

O tratamento da psoríase com fitoterápicos demonstrou melhoras significativas e principalmente na qualidade de vida do paciente. Nas plantas mencionadas, pode-se observar que a atuação delas é no controle do processo inflamatório.

Auriculoterapia: A associação entre auriculo e acupuntura promove a eliminação mais rápida dos efeitos colaterais entre medicamentos e a acupuntura. Em se tratando de psoríase este dado torna-se relevante devido a utilização de grandes doses de cortisona e antidepressivos. Os pontos mais citados para o tratamento da psoríase e problemas de pele em geral são: Shenmen (fossa triangular): irritabilidade, ansiedade, nervosismo, antiinflamatório, coceira, alergia. Diafragma (sobre a raiz da hélix): distúrbios hematológicos e prurido. Pulmão (concha, parte inferior): cuida da pele e do pelo, doenças cutâneas. Endócrino (parte mais baixa da incisura): antialérgico e anti reumático. Baço (cocha, parte inferior): produz, governa, estanca sangue e regulariza funções digestivas. Fígado (concha, parte superior): analgésico dos músculos, tendões e articulações. Sangria no ápice da hélice: elimina calor; Alergia ( na borda anti-tragus): processos alérgicos atípicos.=

CONCLUSÃO: A psoríase sob a ótica a medicina ocidental é uma doença crônica, que afeta a pele, articulações e é principalmente uma patologia que desorganiza o individuo social e mentalmente. Seu tratamento requer persistência e, geralmente, fármacos a base de corticosteróides que auxiliam rapidamente a remissão crises, porém a longo prazo, trazem danos a diversas ordens, comprometendo a saúde em geral do individuo. Sob a ótica da Medicina Tradicional Chinesa (acupuntura tradicional sistêmica, fotopuntura, acupuntura auricular e fitoterápicos) concluímos através da revisão literária que as respostas terapêuticas, são eficazes no tratamento das lesões e prevenção da recidiva dos surtos de psoríase. Independente da diversidade dos pontos escolhidos pelos diversos autores, observamos ser o tratamento baseado em pontos do Pulmão, Fígado e Rim.

A MTC na sua visão holística de saúde leva o individuo a um estado de equilíbrio dinâmico que abrange aspectos físicos, psíquicos, mentais, sociais e ambientais numa interação interdependente, o que a torna para nós o tratamento de primeira escolha dos portadores de psoríase.

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