Carolina de Almeida Antunes
Eveline Escatena
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN
Sabe-se que, estimulando certos pontos de acupuntura promovemos a liberação de hormônios, como o cortisol e as endorfinas, promovendo a analgesia. Ela também ajuda a aumentar a resistência imunológica, exacerbando os mecanismos de regulação interna para que, em menor tempo, o equilíbrio e a saúde sejam restabelecidos. Ela regula e normaliza as funções orgânicas.
A acupuntura também promove o metabolismo, fundamental para a manutenção da vida. Em certas condições de doença, ocorre alteração do metabolismo dos diversos órgãos, com conseqüente prostração e deficiência do organismo. A acupuntura permitirá, neste caso, a recuperação desse metabolismo importante no processo da cura.
Existem diversos estudos que mostram que o tratamento da depressão com acupuntura é eficaz como terapia única (COLBERT, 2000; GALLAGHER et al, 2001; JIN-BO, 2003), a maior parte deles comparando a ação da acupuntura aos antidepressivos, mostra que a eficácia antidepressiva é equivalente, e sem os efeitos colaterais tão freqüentes dos medicamentos antidepressivos (MACPERSON et al, 2004). Além disso, as taxas de recidiva em seis meses foram semelhantes entre pacientes tratados com acupuntura e com antidepressivos (GALLAGHER et al, 2001). Aparentemente somente os pacientes deprimidos que respondem à acupuntura apresentam aumento dos níveis de noradrenalina detectáveis no plasma após tratamento por seis semanas (FANQIANG et al, 1994).
Lo e Chung (1979) Demonstrou em um artigo que queixas de insônia e ansiedade, tão freqüentes entre os deprimidos, também podem ser aliviadas com acupuntura cuja potência sedativa já foi equiparada à dos benzodiazepinicos . Existe inclusive um outro estudo comparativo entre eletroacupuntura e amitriptilina que encontrou superioridade da eletroacupuntura quando havia co-morbidade entre depressão e ansiedade (LU et al, 1998).
Outras formas de estímulo dos pontos de acupuntura (alem da eletro-estimulação) também foram investigadas e consideradas eficazes (QUAH et al, 2005).
Um ponto importante é que pacientes que não toleram, não respondem ou têm contra-indicações formais para o uso de antidepressivos têm na acupuntura uma possibilidade terapêutica eficaz (MANBER et al, 2004).
Além dos mecanismos propostos de ação da acupuntura sobre os sistemas de neurotransmissão monoaminérgicos, um estudo recente com tomografia por emissão de pósitron (PET) observou aumento significativo do metabolismo da glicose em diferentes regiões cerebrais após o tratamento de pacientes deprimidos com acupuntura escalpeana (HUANG et al, 2005).
A Medicina Tradicional Chinesa, com seu sistema de órgãos peculiar, define a tristeza, emoção regida pelo meridiano do Pulmão, que está diretamente ligada à depressão, da seguinte forma:
“Esta emoção debilita o Pulmão (Fei), mas também afeta o Coração (Xin). Na verdade, a tristeza afeta o Pulmão (Fei) através do Coração (Xin). A tristeza provoca a contração e agitação no Coração (Xin), isto prossegue em direção aos lobos do pulmão, o Aquecedor Superior (Jiao Superior) se torna obstruído, os Qis Defensivo e Nutritivo não podem circular livremente, o calor se acumula e dissolve o Qi.”
De acordo com a passagem acima, a tristeza afeta inicialmente o Coração (Xin), e o Pulmão (Fei) sofre em conseqüência, já que ambos estão localizados no Aquecedor Superior (Jiao Superior). O pulmão (Fei) governa o Qi e a tristeza depaupera o Qi. A tristeza provoca a deficiência do Qi do Pulmão (Fei) e pode manifestar uma variedade de sintomas, tais como dispnéia, cansaço ou choro. Nas mulheres a deficiência de Qi do Pulmão (Fei) conduz a deficiência de Sangue (Xue) e amenorréia (MACIOCIA, 1996, p.166-167).
Acerca do tratamento com Acupuntura, Kaplan, Sadock e Grebb (2003) comentam que diversos investigadores americanos têm relatado que a acupuntura é um tratamento eficaz para alguns pacientes com depressão ou dependência química (por ex., nicotina, cafeína, cocaína, heroína). Buscando avaliar a eficácia da acupuntura como adjuvante ao tratamento farmacológico, Roschke e colaboradores (2000) realizaram um estudo em que 70 pacientes foram testados quanto à eficácia no tratamento de depressão, sendo um grupo somente com uso de antidepressivo tetracíclico (mianserina) e outro grupo fazendo uso de mianserina e acupuntura.
Obtiveram como resultado um melhor curso terapêutico no tratamento combinado de droga e acupuntura.
Indo além, existem evidências de que acupuntura possa ser tão eficiente quanto amitriptilina no tratamento da depressão, com a vantagem de, além de reduzir distúrbios cognitivos, distúrbios do sono e sentimento de desespero, apresenta uma melhor eficácia no que se refere à redução de somatização acompanhada de ansiedade, quando comparada à amitriptilina (YANG, et al, 1994). Ou seja, a acupuntura pode ser efetiva quando usada como terapia única no tratamento da depressão (MANBER; ALLEN; MORRIS, 2002).
Um outro estudo conduzido por Gallagher et al (2001) avaliou de forma randomizada mulheres com depressão maior tratadas com acupuntura por oito semanas e seguidas por seis meses.
Como resultado, descobriram que a acupuntura produz taxas de resposta e recorrência da depressão muito semelhantes aos tratamentos instituídos. Ao final deste ensaio, aponta-se para o fato da acupuntura aparecer como alternativa de tratamento para quem não responde ao tratamento tradicional ou então para pessoas em condições especiais como os debilitados, idosos e mulheres grávidas. Além disso, há o aspecto econômico da acupuntura como manutenção do tratamento para depressão, independentemente de qual tenha sido o tratamento inicial.
Em relação ao uso de acupuntura em mulheres grávidas, Manber et al (2004) estudaram um número de 71 delas, dividindo-as em três grupos: um com uso de massagem nos pontos de acupuntura (MASS), outro com acupuntura usando pontos não específicos para tratamento de depressão (APNE) e o terceiro com acupuntura usando pontos específicos (APE) para se tratar depressão. Observou-se dessa pesquisa uma melhor efetividade da APE (69%), seguida de APNE (47%) e da MASS (32%), sendo que todas elas obtiveram uma menor taxa de depressão nas 10 semanas após o parto.
Quanto ao tempo de tratamento, há evidências de que a acupuntura produza efeito mais rapidamente (8 dias) quando comparada ao uso do Prozac® em pacientes com depressão ocasionada após ataque cardíaco, com um efeito semelhante entre ambos (HAIJIAN, 2003).
Grande estudo multicêntrico controlado, que envolveu dez hospitais psiquiátricos chineses com pacientes internados por depressão psicótica (n=241) randomizou-os em dois grupos: um recebendo eletroacupuntura e amitriptilina e outro recebendo eletroacupuntura e placebo. Após seis semanas de tratamento observou-se resposta semelhante entre os dois grupos, e o grupo que recebeu somente eletroacupuntura apresentou significativamente menos efeitos colaterais (HECHUN et al, 2003).
Estudo russo de 1998 investigou o uso da acupuntura em pacientes com depressão bipolar (n=72) mostrando que a acupuntura era inferior aos antidepressivos tricíclicos no tratamento das depressões psicóticas, porém praticamente tão efetiva nas depressões bipolares. Além disso, entre os pacientes refratários aos antidepressivos (n=38), seis apresentaram considerável e sustentada melhora após um curso de acupuntura. A maior parte dos demais mostrou aumento da sensibilidade aos antidepressivos após acupuntura (KAPLAN; SADOCK, 1997).
Outro estudo com 70 pacientes com depressão divididos em um grupo recebendo somente acupuntura e outro recebendo somente mianserina mostrou também ausência de diferenças em termos de resposta antidepressiva entre os grupos (ROSCHKE et al, 2000). Um outro estudo comparativo entre acupunturura e tricíclicos dividiu indivíduos deprimidos (n=70) em três grupos: o 1o recebendo acupuntura com pontos específicos para depressão associado a antidepressivo (mianserina), o 2o recebendo acupuntura com pontos não especificos associada ao antidepressivo e um 3o grupo recebendo somente mianserina. O primeiro grupo apresentou melhora discretamente superior ao 2o e 3o tanto em redução de sintomas depressivos quanto em relação aos índices de efeitos colaterais (KAPLAN; SADOCK, 1997).
Estudo com 61 pacientes ambulatoriais que preenchiam critérios para transtorno depressivo maior (pela CID-10 e pela classificacao chinesa – CCMD-2R) foram divididos em dois grupos. Um deles recebia somente eletroacupuntura (n=31) e o outro somente maprotilina (n=35). Ao final das seis semanas de tratamento, o grupo da acupuntura apresentou taxa de remissão e melhora importante de 76,7%, contra 74,2% do grupo da maprotilina (p<0,05). O grupo da acupuntura contudo mostrou significativamente menos efeitos colaterais (CUI et al, 2002).
Estudo chinês com 46 pacientes com diagnostico de depressão unipolar pela CCMD2R (classificação diagnóstica chinesa, seria a equivalente chinesa da CID) randomizou-os em dois grupos. O 1o recebendo somente eletroacupuntura (n=24) diariamente e o 2o recebendo somente maprotilina entre 50 – 250mg (n=22) durante seis semanas. Remissão completa foi observada em 10 pacientes do 1o grupo e em 9 pacientes do 2o. Melhora sensível foi observada em 8 pacientes de cada grupo. Alguma melhora em 4 pacientes de cada grupo, e nenhum efeito em 2 pacientes do 1o e 1 paciente do 2o grupo. Assim, concluiu-se não existir diferença nos dois tipos de tratamento, exceto pelos efeitos colaterais praticamente ausentes com eletroacupuntura (BING-XIA et al, 2003).
Estudo piloto com pacientes deprimidos internados (n=29) dividiu-os em dois grupos: um recebendo eletroacupuntura associada a amitriptilina e outro recebendo eletroacupuntura e placebo. Após seis semanas de tratamento observou-se que o efeito antidepressivo dos dois grupos era semelhante, com ausência de efeitos colaterais no grupo que recebeu somente acupuntura (GUANGZHI et al, 1992).
Encontramos um único estudo que comparou acupuntura associada ou não a psicoterapia. Foram randomizados pacientes deprimidos (n=68) em dois grupos: o 1o recebendo tratamento com acupuntura como terapia única (n=32) e o 2o recebendo acupuntura associada a terapia cognitivo comportamental (n=36) durante seis semanas. Após o período de tratamento o 1o grupo apresentou taxa de remissão de 6% contra 19% do 2o grupo. Os índices de efeitos moderados foram de 66% no 1o grupo contra 72% no 2o. Por fim, os índices de ausência de resposta foram de 28% no 1o grupo contra 8% no 2o. Números surpreendentes, já que a associação da acupuntura com a terapia cognitivo-comportamental apresentou taxa global de melhora de 91% (contra 72% do grupo que recebeu acupuntura como monoterapia) (JIN-BO, 2003).
Pacientes ambulatoriais (n=25) com depressão leve a moderada foram divididos em dois grupos em estudo randomizado, controlado e duplo-cego. O 1o recebeu laser-acupuntura e o 2o recebeu laser-placebo, uma ou duas vezes por semana, durante 8 semanas. Após 12 semanas do término do tratamento somente 14% dos pacientes do 1o grupo (contra 64% do 2o) mantinham critérios diagnósticos para depressão (p=0,007) (QUAH-SMITH et al, 2005).
Estudo randomizado controlado duplo-cego avaliou os índices de recidiva após seis meses em 33 mulheres tratadas com acupuntura por oito semanas – descobriu-se taxa de recidiva em 6 meses de 24%, comparável aos índices dos antidepressivos (GALLAGHER et al, 2001).
Um estudo com 33 mulheres com diagnóstico de depressão recorrente de acordo com o DSM-IV foram divididas em três grupos: o 1o recebeu acupuntura com pontos específicos para depressão uma ou duas vezes por semana por 8 semanas, o 2o recebeu acupuntura com pontos não específicos pelo mesmo período de tempo e o 3o foi colocado numa lista de espera. O tratamento consistia em duas sessões semanais nas primeiras quatro semanas, e uma sessão semanal nas outras quatro. O grupo que recebeu acupuntura específica apresentou taxa de remissão de 50%, contra 27% dos outros dois grupos. O 2o e 3o grupos receberam o tratamento especifico por mais oito semanas após o término das 1as oito semanas. Após as 16 semanas de estudo, a taxa de remissão global foi de 70% (ALLEN et al, 1998).
Foi publicado em revista norteamericana de acupuntura um estudo comparando eletroacupuntura e eletroconvulsoterapia (ECT) no tratamento da depressão psicótica a longo prazo. Foram incluídos somente três pacientes, que foram utilizados como seus próprios controles, alternando tratamento com acupuntura e com ECT. Quando compararam efeitos de sessões individuais de acupuntura com sessões de ECT houve clara vantagem da segunda, mas comparando cursos completos de tratamento não houve diferença em termos de remissão da sintomatologia. Apesar de não permitir a descontinuação das drogas antidepressivas e antipsicóticas, acupuntura foi considerada opção viável à ECT uma vez que não produz os efeitos deletérios sobre as funções cognitivas e pode ser realizada na vigência da terapia medicamentosa (KURLAN, 1976).
Por fim, dez pacientes com depressão leve a moderada receberam tratamento com magnetos em pontos de acupuntura (VG20 e Sishencong) diariamente durante 6 a 8 semanas. Após o termino do tratamento 62,5% apresentaram remissão total ou marcada melhora (p<0,03) (COLBERT et al, 2000).
CONCLUSÃO :Após esse estudo sobre o uso da acupuntura no tratamento da depressão, podemos chegar à conclusão que estamos diante de uma poderosa ferramenta com grande potencial de uso no tratamento do referido transtorno psiquiátrico.
Por outro lado, mais pesquisas devem ser desenvolvidas no campo da acupuntura a fim de se conhecer melhor seus mecanismos de ação para que eles possam ser explorados de uma forma melhor e mais ampla. Além disso, faz-se necessária a realização de mais estudos clínicos de eficácia da técnica, usando-se números maiores de pacientes.
De qualquer maneira, o que se observa é um crescente interesse nesta técnica milenar que se reflete num número cada vez maior de publicações científicas sérias nesse campo. Sendo assim acredita-se que se pode esperar uma maior penetração vindoura da acupuntura no meio médico ocidental, não só no que tange ao tratamento da depressão, mas também nos mais diversos aspectos da prática clínica cotidiana.