Autoras do TCC: Camila C. W. Diaz Baptista e Simone de Oliveira Galete
ARTIGO ELABORADO POR Carla Ceppo
Para a Medicina Ocidental a cefaleia (dor de cabeça) é um sintoma muito frequente na população em geral e, em particular, nas crianças e adolescentes. Estima-se que em torno de 40% das crianças brasileiras sofram dessa dor e sua correta caracterização na população pediátrica é uma tarefa árdua (NUNES, 2002; FRAGOSO, 2012), sobretudo pelos aspectos maturacionais neurobiológicos e psicológicos envolvidos que afetam profundamente sua expressão nesta faixa etária (SIQUEIRA, 2004).
Em específico, a enxaqueca, de acordo com a International Headache Society (IHS, 2004), é caracterizada por cefaleia com características específicas e sintomas associados (sintomas gastrintestinais: como náuseas e vômitos, manifestações neurológicas transitórias, hemianopsia: parestesia, paresia, ataxia, que caracterizam a aura enxaquecosa e fenômenos associados foto e fonofobia).
Em crianças, as crises podem persistir por até 72 horas, e geralmente bilateral, um padrão semelhante ao do adulto (IHS, 2004). A fisiopatologia da enxaqueca ainda não foi completamente elucidada (KELMAN, 2011), as principais estruturas envolvidas parecem ser o sistema nervoso central (SNC), o sistema trigeminovascular e os vasos correspondentes, outras fibras autonômicas que inervam estes vasos, e os vários agentes vasoativos locais (GOADSBY, 2009).
Para a medicina tradicional chinesa, a dor é resultado da obstrução do livre fluxo do Qi (Energia Vital), de Sangue ou de Qi e de Sangue no corpo do indivíduo, ou seja, a Energia não consegue circular, promove obstruções e dor. São apontadas como causas da estagnação ou desequilíbrio desse fluxo de Energia Vital os fatores externos climáticos, fatores internos e outras causas (FRAGOSO, 2012). Na cabeça, ocorre à reunião de todos os Yang, o cérebro é considerado o “Mar da Medula” e todos os meridianos conectam-se nessa região (12 Meridianos e os 8 Meridianos extraordinários). Se o fluxo do Yang puro para a cabeça for perturbado pelas Energias Perversas externas (Vento, Frio, Calor, Umidade), pelas Mucosidades impuras, quando há deficiência de Qi ou Sangue, de Zang-Fu ou de Líquidos Orgânicos não permitindo que a cabeça seja adequadamente nutrida, ocorrem as dores no local (AUTEROCHE, 1992).
O diagnóstico, na MTC, é bastante complexo e no caso da cefaleia, objeto deste estudo, será priorizado o diagnóstico de identificação de padrões de acordo com os Órgãos Internos, que tem como base os sintomas e os sinais que se originam quando o Qi e o Sangue desses órgãos estão em desequilíbrio. Qualquer distúrbio energético capaz de gerar uma doença poderá contribuir na etiologia da cefaleia, bem como as emoções. A dieta tem profunda influência na etiologia das cefaleias, podendo afetar diferentes órgãos e influenciar a localização da dor. Destaca-se que a falta de alimentação pode causar deficiência de Qi e Sangue e a localização da dor geralmente é no topo da cabeça. O excesso de alimentação obstrui o Qi do Estômago, enfraquece o Baço – Pâncreas e a localização da dor é frontal com característica aguda (KIKKO, 2012).
Esse estudo objetiva descrever o caso clínico de cefaleia infantil em uma criança de sete anos de idade, do sexo feminino, utilizando-se a acupuntura sistêmica e auricular como forma de tratamento.
DESCRIÇÃO DO CASO: Criança, sexo feminino, sete anos, estudante, é ativa e gosta de brincar, mostra-se muito preocupada e ansiosa. Queixa Principal: a cefaleia frontal e no fundo do olho, durante o dia, pulsátil, intensa. Diagnóstico médico ocidental de enxaqueca, com tratamento de analgésicos na crise e uso de óculos. Utiliza medicamento para dor de cabeça, já teve um episódio de infecção do trato urinário, alergia e candidíase vaginal. Prefere calor, salgado, alimentos quentes, com sede sem desejo de beber. Sem outros sintomas. Língua: Fina na ponta, presença de pontos vermelhos na língua E, BP, marcas de Dentes, fissura em TA superior, veias de base sem alteração aparente. Diante do exposto, identifica-se que a criança apresenta sintomas de calor no fígado e coração, os quais o mecanismo energético que pode dar origem ao quadro clínico de cefaleia pode ser decorrente da deficiência do Yin do Fígado e Rim, associado a deficiência do Baço-Pâncreas, com ascensão do Yang do Fígado (YAMAMURA, 2010).
O objetivo do tratamento da acupuntura no presente estudo de caso é promover a circulação do Qi e tonificar o Baço-Pâncreas, harmonizar o Qi do Fígado, Rim e Baço-Pâncreas.
Foram realizadas 10 sessões de acupuntura, com frequência média de 4 dias, tendo duração média de 40 minutos.
Na acupuntura sistêmica, nas primeiras cinco sessões foram utilizados os Pontos Hegu (IG-4), Taichong (F3), Taixi (R3) e o TaiBai (BP-3). A utilização do primeiro ponto objetivou interromper a dor, expelir vento, remover a obstrução do canal, tonificar o Qi, harmonizar a subida e a descida do Qi e acalmar a mente; tonificar o Yin e o Yang do Rim, beneficiar a essência e controlar o Yang do Fígado, além de fortalecer o Baço-Pâncreas e estimular o intelecto. A partir da sexta sessão, além dos pontos citados acima, associou-se o Ponto Ququan (F-8) para nutrir o Yin e Sangue do Fígado (MACIOCIA, 2009). Em algumas sessões utilizou-se o vaso maravilhoso Yin Qiao Mai, com os pontos Lieque (P7) e o ponto Zhaohai (R6), por apresentar sintomas de ansiedade. Na Aurículoterapia foram utilizados os pontos: ShemMen, Ansiedade, Figado, Baço-pancreas, Neurastenia e Coração.
No caso do tratamento em questão, esse restabelecimento gradual do equilíbrio, pode ser notado a partir do relato da paciente, que afirmou ter apresentado melhora dos sintomas durante o tratamento.
O tratamento com acupuntura, realizou a diminuição da intensidade dos sintomas apresentados, não podendo ser atribuída uma “cura” definitiva. Desde então, a paciente não apresentou mais os sintomas na mesma intensidade que apresentava no início das sessões de acupuntura, com resposta satisfatória não apenas em relação às queixas de cefaleia, mas paralelamente, aos outros comportamentos referidos, como a ansiedade e a preocupação. Atualmente, continua-se realizando acompanhamento pela acupuntura com uma sessão por mês, apenas em caráter preventivo e para a manutenção do seu bem-estar geral.