KAREN CRISTINA BATISTELA LARAGNOIT FERNANDES
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN
Há uma correlação significativa entre Acupuntura e Hatha Yoga, principalmente no que tange à energia vital das duas práticas.
Assim como o Qi é para os chineses a energia vital, também o é para os indianos com relação ao Prana. Prana, em sânscrito, significa “energia absoluta”, é o princípio de energia ou força, o principal ativo da vida ou força vital. O Prana penetra em tudo, está em tudo, em toda parte, nele está a essência de todo o movimento, de toda a força, de toda a energia. Circula por toda parte do sistema nervoso, trazendo-lhe força e vitalidade. Para os indianos, ele serve de veículo à Consciência. Por outro lado, ele também é a base e origem de todas as formas de energia e de matéria, pois a matéria, a ciência o afirma, não passa de energia condensada. Ele permeia, envolve, nutre e controla não somente o nosso corpo, mas nossa mente, estruturando-os, dinamizando-os, fazendo-os viver. Quando tal energia abandona o corpo, ele morre. Quando escasseia, enfraquece. Quando se desarmoniza, cria-lhe a doença. (Hermógenes, 2008)
O Prana tem características semelhantes às da corrente elétrica.
Em 1935, Dr. Harold Burr, na Universidade de Yale, estabeleceu que todo ser vivo é circundado por uma aura energética , que ele denominou de “campo eletromagnético”, o qual controla a forma, o desenvolvimento e a decadência de células, tecidos e órgãos. Naquela mesma Universidade, ficou evidenciada a interrelação de tal campo com a mente. Isto nada mais é do que Prana, sendo redescoberto pelos laboratórios. O fato entretanto mais importante ocorreu na Rússia há cerca de trinta anos, quando o casal Kirlian conseguiu impressionar um filme fotográfico com as radiações energéticas emitidas por pequenos objetos e seres vivos. Era como que a “fotografia” das emoções prânicas. Os cientistas constataram que não se tratava de nenhuma das conhecidas formas de energia (elétrica, luminosa, calórica…). Denominaram-na energia bioplásmica. A partir daí, em todo mundo, a pesquisa foi se desenvolvendo à base de observar as kirliografias.
O Prana, semelhantemente à eletricidade: a) se polariza, há positivo ou negativo; b) pode ser acumulado, transformado e conduzido. Ásanas e pranayamas servem para atuar, e é exatamente por isto que o Hatha Yoga apresenta resultados terapêuticos, assim como a Acupuntura. (Hermógenes,2008)
Imagem Figura: Eletrografia dos reflexos dos Chackras |
NADIS: Até os dias atuais não se sabe ao certo o número verdadeiro de Nadis existentes. Alguns ensinamentos falam num número total de 72.000, enquanto outros dizem que existem por volta de 340.000. Contudo, todos os ensinamentos viáveis citam dez ou catorze Nadis como os mais importantes.
Segundo a doutrina da tantra yoga, o homem tem três corpos e três mentes a eles correspondentes, um em cada uma das três principais dimensões do ser. Durante o crescimento espiritual, o homem precisa galgar a escada da evolução e percorrer essas dimensões, passo a passo, aumentando gradualmente, a consciência que tem dos reinos superiores. Dessa forma, o homem pode libertar-se das limitações dos três corpos e de suas mentes correspondentes, entretanto, finalmente, no reino de Deus.
Os três corpos e as três mentes são precisamente:
a) O corpo físico e sua mente, ou seja, a consciência que funciona em associação com o corpo físico;
b) O corpo astral (sutil) e sua mente, ou seja, a consciência que experimentamos originalmente como emoções e sentimentos;
c) O corpo causal e sua mente, ou seja, a consciência que se expressa principalmente como inteligência e sabedoria.
Desses três, o corpo físico e sua mente existem e atuam no mundo concreto. Esta etapa, então pode ser chamada Yang em relação às outras duas, aquelas que não podem ser conhecidas nem pelos sentidos físicos nem pelo pensamento enraizado nas sensações físicas. Essa parte Yang, entretanto, é, de fato, sustentada e mantida viva pelos aspectos ocultos Yin – o astral e o causal.
Os três estágios corpo/mente existem e operam em dimensões diferentes: cada uma é mantida pelo tipo de Prana (energia vital – Qi) necessário e apropriado a cada dimensão. Isso não significa que eles sejam entidades separadas. Trata-se, pelo contrário, de partes de um conjunto sistemático. Cada corpo/mente tem dentro de si centros de energia para controlar o fluxo de Prana / Qi e um sistema de canais de energia.
Tais canais são denominados Nadis, e os centros que os controlam são conhecidos como Chakras. No corpo físico, os canais são representados pelos sistemas cardiovascular, linfático e pelos Meridianos da Acupuntura; os centros são representados pelo cérebro, pelo complexo nervoso e pontos de Acupuntura. Os centros e canais correspondentes a todos os três corpos estão intimamente correlacionados.
Além de centro de controle em cada dimensão, o Chakra funciona como centro de intercâmbio entre as dimensões astral (Yin) e causal (Yang). Através dos Chakras, o Prana sutil no corpo astral pode ser transformado, por exemplo, em energia para a dimensão física, fornecendo, assim, ao corpo físico, essencial energia de vida.
“Acredita-se ainda que a energia física pode ser transformada em energia astral por meio da atividade dos Chakras, e que a energia física pode ser convertida em energia psicológica dentro da dimensão física. Portanto, o Chakra é considerado como um intermediário de transferência e conversão de energia entre duas dimensões vizinhas do ser, tanto como um centro proporciona a conversão de energia entre um corpo e sua mente correspondente”. (Motoyama, 2013)
MERIDIANOS: Na Medicina Chinesa, a mais antiga referência aos Meridianos encontra-se no livro Hwang Ti Nei Jing que contém descrições precisas sobre seus princípios. No entanto, até hoje não se sabe ao certo o modo como foi criada a teoria sobre os Meridianos, sendo muito provável que a Acupuntura e as Qi – kung ( artes marciais) tenham contribuído para a sua formação.
Ao estimular certos pontos de Acupuntura constata-se que a sensação de calor e parestesias seguem direções predeterminadas. Os antigos já mencionavam uma sensação de calor que percorria certas vias do corpo, durante a prática das Qi-kung. Constatou-se também que numa doença os sintomas podem manifestar-se em outros lugares, seguindo uma via precisa de inter-relacionamento.
Ao se traçarem linhas ligando esses diversos análogos, obtiveram-se linhas ou trajetórias longitudinais que foram denominadas Tin (meridianos) e trajetórias longitudinais denominadas Lo (comunicação).
A experiência clínica demonstrou que havia uma nítida relação entre os órgãos e os Meridianos do corpo. Assim traçaram-se Doze Meridianos Ordinários; esses tinham uma relação direta com os órgãos e vísceras do corpo.
Dos Doze Meridianos Ordinários nascem ramos que percorrem as cavidades do tronco do corpo, denominados Doze Meridianos Distintos. Há quinze Meridianos que ligam esses doze Meridianos entre si denominados Lo-Mai (meridianos conexos). tendinosos e doze chamados superficiais que percorrem superficialmente o tronco e os membros. (Wen, 2006)
CORRELAÇÃO ENTRE OS PRINCIPAIS NADIS E OS MERIDIANOS: Sushumna – é um canal que flui através da espinha. A maioria das escrituras sobre Yoga descrevem que o seu ponto de partida é o Muladhara, e o ponto terminal é sempre descrito como o portal de Brahman, no alto da cabeça.
Na teoria chinesa, existe um Meridiano “extraordinário” principal, conhecido como Meridiano do Vaso Governador, que parece corresponder completamente ao Sushumna.
Sua função é o controle total de Seis Meridianos Yang. Começa no alto do cóccix (localização aproximada à do Chakra Muladhara), sobe pelo meio das costas até o alto da cabeça, terminando no lábio superior. Nesse Meridiano está depositada a energia Qi. Essa energia flui de Doze Meridianos comuns, os quais distribuem a energia vital para os diversos órgãos e tecidos do corpo humano. No caso de ocorrer um desequilíbrio ou insuficiência do Qi num determinado órgão ou parte do corpo, a energia depositada no Meridiano do Vaso Governador é mobilizada para complementar o fluxo dos meridianos correspondentes a esse órgão ou região. Nesses casos, geralmente, a energia depositada flui em sentido descendente. Do mesmo modo, a energia normal que flui pelo Sushumna parece ecoar sempre nessa direção.
Imagem Figura: Ásanas para regularizar Sushumna ou o Vaso Governador |
Ida e Pingala – muitos iogues, gurus e ocidentais pregam que o Ida e o Pingala começam no Muladhara, e sobem em espiral pelo Sushumna até o Ajna, atravessando cada um dos Chakras que estão nesse percurso. Afirmam que o Ida começa do lado esquerdo do Mulhadara, passando através da narina esquerda e sempre à esquerda até chegar no Ajna; o Pingala começa do lado direito e passa através da narina direita (em algumas passagens, consta que esses dois Nadis podem corresponder a um par de nervos simpáticos que revestem a coluna vertebral, devido à semelhança estrutural desses Nadis entrelaçados.
Porém Iroshi Motoyama chegou à conclusão de que os Nadis Ida e Pingala fluem em linha reta ao lado de Sushumna, e que correspondem à segunda linha do Meridiano da Bexiga, pelas seguintes razões: de cada lado do corpo, esse Meridiano começa próximo do canal do nariz, sobe até o alto da cabeça, onde penetra nela para emergir na parte de trás; então divide-se em duas partes: uma linha, muitas vezes chamada de terceira, desce pelas costas, passa pela panturrilha e termina no quinto dedo do pé; a segunda linha desce pelas costas a aproximadamente 4,5cm da coluna, passando pela região lombar até a bexiga. Assim como os Nadis Ida e Pingala – secundários em importância, depois de Sushumna – essas linhas secundárias do Meridiano da Bexiga são extremamente importantes e utilizadas com muita frequência em tratamentos de Acupuntura. Assim o autor concluiu que eles correspondem a esses dois Nadis.
Para o Yoga a interação entre Ida e Pingala corresponde a uma dança interna entre a razão e a intuição, consciência e o poder vital , e os hemisférios direito e esquerdo do corpo. No dia-a-dia, um dos Nadis é sempre dominante. Mas essa dominância se altera ao longo do dia, um Nadi tem a tendência de ser mais ascendente e por um maior período do que o outro. Assim como, na MTC, existe a grande circulação de energia, onde, durante as 24 horas do dia, um determinado meridiano vai predominar durante 2 horas – horário mais fácil para sua tonificação.
Existem Doze Meridianos Principais de energia que circulam sobre e por todo o corpo; a maioria deles está relacionada com um órgão específico que atravessam. Os pontos terminais desses Meridianos localizam-se nos dedos dos pés e das mãos, e são conhecidos como pontos SEI, ou para MTC, TING. Os pontos Ting são muito importantes pois é por eles que a energia muda de polaridade nos Meridianos. Os ásanas de cerramento de mãos e flexão dos dedos dos pés, bem como flexão e rotação dos tornozelos e punhos ajudam a normalizar as funções dos órgãos internos relacionados com os Doze Meridianos.
Imagem Figura: Pontos Sei (TING) dos pés e das mãos. |
CONCLUSÃO: Os resultados apresentados pelos autores descritos nesse trabalho permitiram concluir que, tanto o Hatha Yoga quanto a Acupuntura se utilizam de energia, para o bem estar do indivíduo.
Concluiu-se que Prana e Qi são fontes de energia que percorrem o corpo humano seja pelos Nadis ou pelos Meridianos e, que a obstrução deles pode desencadear enfermidades físicas, internas ou externas no ser humano. As emoções, estilo de vida sedentário, má alimentação, stress, preocupações excessivas, mágoas, não permitem que o Qi ou Prana circulem livremente pelos canais sutis de energia causando um desequilíbrio no ser humano. A Acupuntura e o Hatha Yoga comprovaram ser muito eficientes nos desbloqueio desses canais. Comprovou-se, também, a correlação dos Meridianos de Acupuntura com os principais Nadis do Hatha Yoga bem como os benefícios de suas técnicas para a harmonização do indivíduo.