Baseado no TCC dos alunos: Caio Pelatieri Goulart, Eduardo Rosolen, Lara Pelatieri Goulart Rosolen
Apesar de o envelhecimento não estar, necessariamente, relacionado às doenças e incapacidades, o idoso, por ser vítima de mecanismos fisiológicos que alteram a sua capacidade física, torna-se um forte candidato a apresentar queixas de lombalgia, tendo uma prevalência de 68% nessa faixa etária, variando de acordo com o estilo de vida, alimentação, meio sociocultural, emocional e familiar (CAILLIET, 2001). Uma das causas principais da lombalgia é a artrite degenerativa ou osteoartrite da coluna vertebral, que se desenvolve gradualmente ao longo do tempo. A dor é causada pela ruptura da cartilagem entre as articulações da coluna vertebral. No início, os sintomas podem ser intermitentes, porém mais tarde podem se transformar em dor mais constante na região lombar, podendo, eventualmente, causar dor ciática também (PICAVET ET AL, 2003). O tratamento para a dor lombar depende da história do paciente e do tipo e severidade da dor (ALTER, 2005). Dentre os diversos tipo de tratamento direcionados a dor lombar crônica, a acupuntura tem sido uma excelente opção para os pacientes idosos devido a sua efetividade na redução da dor e por causar menos efeitos colaterais em relação a terapia medicamentosa e que, em sua maioria, já fazem uso de outros tipos de medicações para outras comorbidades ( WEN, 2005). Para a MTC, as diversas formas de lombalgia têm sua origem na deficiência de Shen Qi ou Qi do Rim e na deficiência nos canais de energia que passam pela região lombar. Estes canais podem sofrer obstrução na circulação de energia, resultando em estagnação de Qi e de Xue (YAMAMURA, 2001).
O Rim é denominado de “Raiz do Qi Pré Celestial” porque estoca a Essência. Ele é quase sempre afetado nas patologias crônicas. Com isso a deficiência do Qi do Rim pode ocasionar alterações energéticas funcionais e orgânicas na região lombar, bem como em toda a coluna vertebral; já que toda condição patológica do Rim segundo o mesmo se manifestará necessariamente como uma deficiência do Yin ou do Yang do Rim. (YAMAMURA, 2001). Sendo assim, os Rins são considerados a base de todas as energias Yin e Yang, da Água e do Fogo, dentro do nosso corpo. Por isso os antigos chamaram os Rins de “casa da Água e do Fogo”. O Rim Yang é a fonte de Yang Qi de todo o corpo, a qual aquece e desenvolve as funções dos Órgãos internos e tecidos. Se ele fracassar na sua função de promover o aquecimento e controlar o Yin, podem ser percebidas algumas alterações típicas como: dores na região lombar, dores nos joelhos, frigidez, infertilidade, impotência e astenia mental (MACIOCIA, 1996). O tratamento por acupuntura consiste no diagnóstico (igualmente baseado em ensinamentos clássicos da Medicina Tradicional Chinesa) e na aplicação de agulhas em pontos definidos do corpo. Chamados de “Pontos de Acupuntura” ou “Acupontos” que se distribuem principalmente sobre linhas chamadas “meridianos chineses” e “canais”, para obter diferentes efeitos terapêuticos conforme o caso tratado (SUSSMANN, 1976).
LOMBALGIA SOB A VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
A MTC, apresenta como objetivo principal, a observação dos fenômenos naturais e como esses fenômenos influenciam o ser humano, dentro do processo de cura e equilíbrio energético proposto pela técnica. (LUPINACCI e CUTOLO, 2011). Pereira (2010) menciona que essa técnica terapêutica busca tratar o indivíduo como um todo, através da interação harmoniosa entre o homem e a natureza e opera na promoção, manutenção e recuperação da saúde. A MTC define que o ser humano é um microcosmo dentro do macrocosmo universal e considera que os princípios que determinam o fluxo de energia através do universo são aplicáveis também ao sistema energético do ser humano.
A MTC considera a região lombar, assim como toda a coluna vertebral, dependente do Shen Qi, cuja tradução é Energia dos Rins e quando existe uma deficiência de Qi, surge a condição básica para que haja alterações energéticas, funcionais e orgânicas na região (YAMAMURA, 2004, p.115). No entanto, Mehret et al. (2010) menciona que a lombalgia, na visão da MTC, pode ser descrita como uma síndrome de obstrução dolorosa, ou síndrome Bi, o que se caracteriza por sensibilidade ou formigamento dos músculos, tendões e articulações, causados por invasão de uma energia perversa como vento, frio ou umidade. Essa invasão resulta na obstrução de Qi e Xue dos meridianos. Para Ferreira (2009), a lombalgia pode ser desencadeada por fatores externos e internos. Fatores externos são mudanças bruscas de clima, frio, umidade, vento, calor e traumatismos, que resultam em estagnação de sangue, bloqueando a passagem de Qi e Xue pelos meridianos da região lombar. Fatores internos são as emoções, fadiga física, excesso de atividade sexual e deficiência energética do corpo devido à idade avançada. Nestes casos, a essência energética é deficitária, podendo chegar à exaustão e a uma deficiência do Qi e do Xue, impedindo que os músculos e os tendões apresentem uma nutrição apropriada, o que resulta em uma fadiga tecidual mais rápida ao nível da região lombar. A área inferior das costas é intensamente influenciada pelos Meridianos da Bexiga e do Rim.
Como todo órgão Yin, o Rim apresenta um aspecto Yin e outro Yang, esses dois aspectos adquirem um significado diferente para o Rim, pois é o alicerce do Yin e do Yang para todos os outros órgãos (MACIOCIA, 2007). A deficiência de Energia do Rim, a estagnação de energia e sangue no trajeto de qualquer um dos canais de energia anteriormente citados, resultam, em primeiro momento, alterações energéticas e, em seguida, funcionais. Persistindo a deficiência, surgem as alterações orgânicas, com desestruturação osteoligamentar, com processo inflamatório, dor lombar, etc (INADA, 2006).
Para a MTC o Rim controla os ossos, assim a deficiência de Essência do Rim que surge com o avançar da idade, excesso de trabalho com posturas viciosas, má alimentação que leva ao desequilíbrio na relação cálcio e fósforo, alterações hormonais decorrentes de síndrome de menopausa, explicam o aparecimento precoce do processo degenerativo das articulações diversas, além do surgimento de osteopenia, osteoporose e espondiloses. A deficiência de Essência do Rim provoca também a degeneração da estrutura óssea do corpo vertebral, bem como das articulações facetarias. Segundo a MTC o Rim controla a água e com a deficiência de Essência do mesmo, os discos intervertebrais sofrem desidratação, achatamento e degeneração e como consequência os espaços intervertebrais diminuem e os forames também diminuem de diâmetro devido às aproximações dos corpos vertebrais. O anel fibroso do disco intervertebral rompe e a herniação do núcleo pulposo libera substâncias algogênicas e provoca uma irritação nas terminações nervosas ali existentes que resultam em dor, além de causar um efeito compressivo mecânico sobre as raízes nervosas e a mesma é agravada pelo processo inflamatório com edema local, que aumenta ainda mais a compressão e a dor. (INADA, 2006).
YNSA
A craniopuntura de Yamamoto, conhecida como YNSA (do inglês – Yamamoto new scalp acupucnture) foi desenvolvida por Toshikatsu Yamamoto no início dos anos 70. Consiste de um microssistema, ou seja, pontos na região do crânio que quando punturados estimulam áreas corporais distantes, auxiliando no tratamento de patologias, principalmente as de cunho doloroso e neurológico (YAMAMOTO,2007).
Os pontos básicos (A, B, C, D) têm por função tratar áreas anatômicas do corpo que estão diretamente relacionadas com a doença ou disfunção. Posteriormente foram desenvolvidos os pontos sensoriais (olho, nariz, boca e ouvidos), cerebrais (cérebro, cerebelo e gânglios da base) e os pontos Y (que correspondem aos Zang Fu da Medicina Tradicional Chinesa) e as áreas diagnósticas (cervical e abdominal), (FEELY,2005). Atualmente a YNSA tem sido mais difundida e utilizada no tratamento das dores crônicas e agudas e nos distúrbios funcionais das patologias neurológicas (BOUCINHAS,2002). Na prática clínica observa-se que no tratamento das dores agudas e cronicas podese ter uma resolução total da dor e aumento da amplitude de movimento em apenas uma sessão e, em alguns casos, com apenas uma agulha. A melhora referida pelos pacientes com patologias crônicas na primeira sessão é sem dúvida muito interessante para a motivação e continuidade do tratamento (YAMAMOTO, 2007). O método estimula a neuroplasticidade do cérebro – capacidade do cérebro para continuar aprendendo e se adaptando ao longo da vida inteira de uma pessoa; o resultado é que áreas saudáveis do cérebro são estimuladas a assumir funções anteriormente exercidas por áreas danificadas (por exemplo, movimento das extremidades).
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada com um total de 10 indivíduos, de ambos os sexos, com idade maior que 60 anos, apresentando como diagnóstico nosológico a lombalgia crônica, ou seja, dores na região lombar por um período superior a três meses e diagnóstico energético de Estagnação de Qi na região Lombar. Antes do tratamento foi explicado aos pacientes o objetivo e como funciona a escala visual analógica (EVA). Explicava-se para o paciente que a dor atual dele no momento teria que ser enquadrada em uma escala numérica de zero a dez, sendo que zero se apresentaria em um quadro sem dor nenhuma e dez em um quadro de dor muito elevada, muito forte. Após o paciente identificar o seu “grau de dor”, era aplicado a agulha do lado onde após palpação temporal do paciente, ele relatava mais dor. Conforme o paciente relatava o lado de dominância da dor, era realizada a inserção da agulha. Primeiramente se localizava o ponto D através de palpação com a caneta de estimulação de acuponto. O ponto D se localiza entre o limite anterior dos cabelos na região temporal e uma linha imaginaria que vai do canto do olho até o ápice da orelha. Após a referência do paciente do local de maior intensidade de dor, era inserida a agulha de forma oblíqua a aproximadamente de 10 a 15 graus. Após inserção, pedia-se para o paciente realizar uma movimentação que exacerbava o quadro de dor. Caso o paciente referisse ainda algum desconforto, a agulha era reposicionada até o paciente relatar melhora do quadro de dor e a agulha era mantida por 30 minutos. Após a sessão o paciente novamente realizava a avaliação com a EVA para se conseguir obter o resultado mais fidedigno para o alivio da sintomatologia.
RESULTADOS:
Com a mensuração da EVA no início e final do tratamento, todos os pacientes, sem exceção, apresentaram melhora do seu quadro álgico. Importante enfatizar que, mesmo com a realização do tratamento por acupuntura com a técnica de YNSA, os pacientes foram orientados a manter seu estilo de vida normal, juntamente com o uso de suas medicações de uso continuo, fossem elas analgésicos, antidepressivos ou corticóides, que não foram suspensas durante a realização do estudo em questão. De uma maneira geral, a melhora foi detectada sensivelmente em todos os pacientes analisados e, portanto, comprova mais uma vez a efetividade do tratamento com a técnica YNSA para pacientes com dor lombar crônica.
A durabilidade do efeito de analgesia para os quadros álgicos de dor lombar, também foram constatados após a avaliação da quarta semana. Em sua maioria os pacientes relatavam um pequeno desconforto local. Esse desconforto não era relatado como dor e sim como um incômodo local que não limitava suas atividades de vida diária e pratica.
Ao questionarmos sobre como se sentiam após o tratamento com a YNSA, todos os pacientes referiram melhora da dor.
CONCLUSÃO
A técnica YNSA como forma de tratamento do sintoma dor se mostrou efetiva e proporcionou aos pacientes um quadro de analgesia e com isso melhora sentida por eles no quadro de dor lombar.
Também se chegou à conclusão de que o período em que os pacientes foram observados após o tratamento com a craniopuntura de Yamamoto, durante as 4 semanas, foi relatado uma melhora significativa do quadro de dor lombar, portanto, o período avaliado para a pesquisa, a aplicação da técnica YNSA e mais especificamente, a punção do ponto “D” se mostrou com grande eficiência no controle e intervenção da dor lombar nesses pacientes.
É importante ressaltar que a durabilidade dos efeitos analgésicos da técnica YNSA sobre o ponto D para diminuição da dor lombar só foi constatada durante o período de 4 semanas, o que não descarta a possibilidade desses mesmos pacientes voltarem a sentir a dor lombar após o período de avaliação.
Com relação ao maior número de pacientes do sexo feminino com prevalência de dor lombar crônica se chega à conclusão que devido aos desgastes fisiológicos como: ser progenitora (doação de JING), manutenção da gravidez, alterações hormonais e maior carga diária de trabalho, são possibilidades que interferem muito no quadro de dor lombar dessas pacientes.
Analisando os resultados obtidos observa-se que esta técnica proporcionou aos voluntários redução maior do quadro álgico, assim como com em relação ao grau de funcionalidade que se manteve com os melhores resultados após a avaliação.
Com os resultados obtidos sugere-se que, em futuros estudos passem a ser analisado um maior número de pacientes e que os mesmos sejam acompanhados durante um período de tempo maior, para que após o retorno às atividades de vida diárias e funcionais possa ser acompanhada a evolução do quadro clínico, para se obter respostas sobre a melhora total dos sintomas ou possíveis recidivas.
Autor do artigo: Profa. Ma. Luciana Mendes Vinagre