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Transtorno de Humor Bipolar: visão ocidental e oriental

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Fabíola Patrícia Machado Sanches
Sandra da Costa Guimarães de Azevedo

O TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR NA VISÃO OCIDENTAL

O Transtorno de Humor Bipolar é uma doença caracterizada pela alternância do humor, ora apresentando períodos de euforia (mania), ora períodos de depressão, com períodos intercalados de estabilidade. Outra característica é a forma repetitiva com que o portador de Transtorno de Humor Bipolar apresenta grandes oscilações no seu estado de humor. Tal característica, ao fazer com que a percepção e o senso crítico fiquem prejudicados, ou mesmo ausentes, impede que muitos portadores percebam estas alterações.

Os principais sintomas que podem surgir no episódio de euforia (mania) são: humor eufórico ou irritável, aceleração do pensamento e fala, gastos excessivos, otimismo exagerado, prodigalidade, agitação, insônia, falta de senso crítico, idéias de grandiosidade, impulsividade, etc.

Já no episódio de depressão os principais sintomas são: desânimo, alteração do apetite, insônia ou hipersônia, agitação ou retardo psicomotor, isolamento social e familiar, pessimismo, pensamentos recorrentes de morte, etc.

Ainda que concomitantes, os tratamentos medicamentoso e psicológico são os únicos atualmente aplicados no âmbito do serviço público de saúde mental.

Tipologia: O Transtorno de Humor Bipolar tipo I geralmente é o mais grave apresentando episódios eufóricos e depressivos concomitantemente, seguidos de períodos de normalidade.

No Transtorno de Humor Bipolar tipo II ocorrem episódios depressivos e hipomaníacos, sendo este último de menor duração e frequência do que a fase depressiva. Os episódios eufóricos e hipomaníacos se diferenciam na intensidade de cada um, sendo o episódio eufórico mais grave e prejudicial. Muitas vezes, os episódios hipomaníacos, podem passar despercebidos, dificultando assim o diagnóstico.

Tratamento: O tratamento medicamentoso mais utilizado é o Lítio, devido a sua eficácia nos sintomas eufóricos e depressivos, faz-se necessário monitoramento com exames laboratoriais, a fim de acompanhar o nível terapêutico e a toxicidade, de forma estabelecer a quantidade a ser ministrada para cada paciente. Pode-se associar, ao uso de Lítio, medicamentos tais como Haloperidol, Respiridona, Olanzapina, Ziprasidona e Quetiapina caso o paciente apresente sintomas psicóticos como alucinações visuais e auditivas.

Alguns anticonvulsivos, Carbamazepina, Valproato de Sódio, Lamotrigina e Topiramato, podem ser usados se o paciente apresentar ciclagens rápidas com quadro de irritabilidade.

O tratamento medicamentoso deve ser associado ao acompanhamento multidisciplinar, envolvendo Psiquiatria, Psicologia, Terapia Ocupacional, Assistência Social e Enfermagem, por oferecerem ao paciente melhor qualidade de vida, enfocando uma reabilitação psicossocial.

O TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR NA VISÃO ORIENTAL

A Medicina Chinesa considera a integração entre corpo e mente, sendo o Qi a base dos processos fisiológicos, mentais e emocionais.

De acordo com CAMPIGLIA (2004), os distúrbios mentais ocorrem devido a alteração do Coração geralmente, causadas por vento, fogo ou fleuma, produzindo sofrimento e dano emocional.

Estes distúrbios são chamados de síndromes Dian Kuang e envolvem doenças psiquiátricas como: Transtorno de Humor Bipolar, Esquizofrenia, Depressão, estados psicóticos ou paranóicos.

Nesta perspectiva, podemos dizer que o tipo Dian é o pólo depressivo, com características Yin, onde há apatia, embotamento afetivo, ocorrendo obstrução do fluxo de Qi. Enquanto que o tipo Kuang é o pólo eufórico, predominando excesso de atividade psicomotora, com sinais e sintomas Yang, ocorrendo uma explosão de ânimo devido a alteração da mente pelo fogo.

As síndromes Dian podem transformar-se em Kuang, sendo o oposto verdadeiro, isto devido a padrões de excesso ou deficiência. Nas síndromes Dian, quando há excesso ocorre a obstrução de Qi do fígado e quando há deficiência ocorre deficiência do coração e do baço. Já nas síndromes Kuang, o padrão de excesso é apresentado quando ocorre a mucosidade-fogo sobe e obstrui a mente, já na deficiência apresenta-se quando o fogo consome o Yin.

“Praticamente, todas as síndromes mais importantes que incluem insônia, ansiedade, mania, depressão, histeria, e psicose, têm como base alterações do Shen, do coração e do fígado” (CAMPIGLIA, 2004, p.143).

Segundo MACIOCIA (1996), para explicar os problemas emocionais se faz necessário discutir o conceito de Mente (Shen) que é o tipo mais sutil e imaterial de Qi e apresenta dois aspectos importantes:

a) Shen que significa Mente: é a atividade dos sentidos e órgãos dos sentidos, inteligência, pensamento, insight, afetos, consciência, memória e sono, as quais são regidas pelo coração.

b) Shen que significa Espírito: são os cinco aspectos mentais, espirituais e emocionais, sendo que cada um destes está relacionado a um órgão especifico, Shen é representado pelo Coração; a Alma etérea, pelo Fígado; a Alma Corpórea, pelo Pulmão, a Força de Vontade, pelo Rim e, o Intelecto, pelo Baço.

O Shen é uma das substâncias fundamentais de nosso corpo e faz integração com outras substâncias fundamentais que são: Qi (energia vital no oriente e energia psíquica no ocidente) e o Jing ou Essência.

A formação do Shen se dá através do Jing materno e paterno para formar a vida. Após o nascimento o Jing, que também é chamado de Essência pré-natal, é armazenado nos Rins.

“Estes Três Tesouros representam três diferentes estados de condensação do Qi: a Essência é a mais densa, o Qi o mais rarefeito e a mente a mais sutil e não substancial. A atividade da Mente conta com a Essência e o Qi como suas bases fundamentais. Daí a Essência ser chamada de “base do corpo e raiz da Mente”. Portanto, se a Essência e o Qi forem fortes e prósperos, a Mente será feliz, equilibrada e alerta. Se a Essência e o Qi forem esgotados, a Mente irá sofrer e pode se tornar infeliz, deprimida, ansiosa ou obscurecida.” (MACIOCIA, 1996, p. 202)

Sendo assim, o estado do Shen irá diretamente afetar o Qi enfraquecendo, o Jing e em longo prazo afetará o Yin.

O Shen está ligado diretamente ao Coração sendo este chamado de “Palácio do Shen” e Imperador dos outros órgãos. Isto significa que além das atividades mentais (pensamento, sabedoria, memória, consciência, cognição, sono, inteligência, idéias), o Coração é responsável também pelo tato, visão, paladar, audição e olfato.

Se o Coração estiver em deficiência o Shen estará perturbado ou fraco, ocasionando o Distúrbio do Shen. De forma contrária, se o Coração está forte o Shen será sadio. Então, se durante a noite o Shen não encontra sua morada num Coração tranquilo irá vagar e não irá repousar ou descansar. Ao contrário, se o Coração está forte, tranquilo, o Shen estará forte.

As emoções precisam ser equilibradas, pois isto é essencial, do contrário, irá perturbar o Shen, a Alma Etérea e a Alma Corpórea e este processo, em longo prazo, atinge os órgãos internos, Qi e Xue. Por exemplo, o estresse emocional afeta o Fígado e se o Yin do Fígado estiver alterado irá gerar Ascensão do Yang do Fígado o que deixa a pessoa sempre irritadiça. Outro exemplo, se o Xue do Fígado estiver em deficiência surge o medo e, pelo contrário, se houver excesso, há raiva.

Nas doenças mentais o desequilíbrio geralmente ocorre no Coração. Quando o Qi do Coração estiver em deficiência surgirá tristeza e, pelo contrário, se estiver em excesso, surgirá a euforia.

Na perspectiva dos Cinco Elementos cada emoção corresponde a um órgão e afeta o Coração diretamente, o Rim (Água) se relaciona com o Medo, o Fígado (Madeira) com a Reatividade, o Coração (Fogo) com a Alegria, Baço/Pâncreas (Terra) com a preocupação e o Pulmão (Metal) com a tristeza. Cada uma destas emoções se estiver em desequilíbrio afetará o órgão com o qual se relaciona e, consequentemente, com o Coração. Se tal desequilíbrio for excessivo e prolongado, torna-se causa de distúrbios psíquicos.

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