Artigo baseado no TCC de pós-graduação em Acupuntura das alunas Bruna P. C. da Cruz e Emanuelle C. Ferraz.
Osteoartrose ou doença degenerativa da articulação é a forma mais comum de artrite e artrose. Afeta frequentemente indivíduos a partir da meia-idade e acomete pescoço, coluna lombar, joelhos, quadris, e articulações dos dedos, principalmente das mãos. Quase 70% das pessoas acima de 70 anos, tem evidência radiográfica desta doença, mas somente metade desenvolve sintomas. Pode acontecer em articulações traumatizadas previamente de modo prolongado e excessivo, por infecções, ou mesmo por processos inflamatórios e crônicos.
Os sintomas são: dor, fraqueza nos membros, limitação da função articulatória, perda do movimento, rigidez, formigamento em membros inferiores, limitação da amplitude circulatória, espasmo e atrofia muscular, dor e sensibilidade a palpação e mobilização.
Para a MTC a artrose se dá devido à invasão de fatores patogênicos e consequentemente dando origem ao bloqueio do QI (energia) e XUE (sangue) nos canais energéticos, umidade calor ou umidade frio nas articulações, assim como déficit da energia YIN do RIM. Na medicina chinesa o Rim está relacionado ao elemento água. A principal função do rim é guardar a essência pré-natal (Jing) proveniente dos pais e dos antepassados. O rim também é responsável pelo crescimento, reprodução, desenvolvimento, formação óssea e dentaria, produção da matriz medular, formação da massa encefálica. Abriga a vontade, sendo a base do YIN e YANG de todo corpo. De acordo com os cinco elementos, o rim governa a água e controla os ossos. Qualquer desequilíbrio energético envolvendo este elemento pode levar a um prejuízo da integridade óssea. Ou seja, uma deterioração ou fraqueza óssea pode ser relacionada a uma deficiência da energia do Rim. Outra relação patológica importante envolvendo a energia do rim é em relação à cronicidade das doenças, pois, o rim quase sempre é afetado nas doenças crônicas (MACIOCIA,2007).
Este estudo avaliou o tratamento de artrose com técnicas de acupuntura em dois grupos diferentes, com 10 voluntários, sendo 5 em cada grupo. Tratou um grupo com recurso de ação energética dos pontos e moxabustão; e o outro grupo de voluntários tratou apenas com auriculoterapia chinesa. O estudo prospectivo, randomizado e controlado foi através de um tratamento com pacientes voluntários que apresentaram um quadro de artrose que fosse crônico, porém em fase aguda e que de acordo com uma avaliação feita com parâmetros da medicina tradicional chinesa os colaboradores para esta pesquisa teriam como diagnóstico energético, a deficiência do yin do rim. Foram tratados dois grupos de voluntários: grupo A e grupo B, sendo grupos de cidades diferentes. Grupo A com 5 voluntários de Campinas, (SP) e grupo B com 5 voluntários de Extrema, (MG), com faixa etária acima de 50 anos, sexo masculino e feminino.
Foram realizadas 5 sessões, uma por semana, com duração de 40 minutos cada sessão, durante em 1 mês. Para cada grupo foi proposto um tratamento. Ao grupo A foi proposto o tratamento com a técnica de auriculoterapia chinesa e para o grupo B, tratamento com acupuntura e moxabustão.
O GRUPO A utilizou a técnica de auriculoterapia chinesa. Os pontos utilizados foram: shenmen, rim, fígado, pulmão, sistema nervoso central (SNC), hélix 1, vesícula biliar e baço. Os voluntários permaneceram com as sementes de mostarda nos pontos auriculares por uma semana. O lado da orelha foi alternado a cada sessão e os pacientes orientados para pressioná-las durante o dia a dia.
PONTOS AURICULARES:
Shenmen (fossa triangular): primeiro ponto utilizado em qualquer tratamento auricular, acalma a mente, indicado também para analgesia e dores de toda a natureza.
Rim (concha de cimba): tem influência positiva sobre a essência pré-natal e sobre o yin e yang de todo corpo, favorece o ciclo das águas.
Fígado (hélix): equilibra a livre circulação de energia e sangue.
Pulmão (concha cava): influência na dispersão e descendência dos fluidos do corpo equilibra a via das águas.
SNC – Sistema Nervoso Central (anti-hélix): regula o sistema neurovegetativo, relaxando a musculatura lisa.
Hélix1 (entre a cruz superior da antihélix e o tubérculo – no hélix): dores em região dos quatro membros, artrites.
Vesícula biliar (concha cimba): promove o movimento das energias.
Baço (concha cava): mantém sangue dentro dos vasos, equilíbrio da energia do pós-natal.
O GRUPO B utilizou a acupuntura sistêmica com as técnicas de ação energética dos pontos com aplicação da agulha em posição neutra, por 20 minutos e moxabustão na região dorsal com a técnica em varredura por 10 minutos. Foram utilizados os pontos: R1, R3, R7, F3, B11, VB34, IG4.
PONTOS UTILIZADOS E A AÇÃO ENERGÉTICA DOS PONTOS:
R1: (Na planta do pé entre os ossos 2º e 3º metatarso, cerca de um terço anterior do pé.) – Tonifica yin, acalma yang e o fogo fígado e coração, acalma o shen e ativa os sentidos (olfato);
R3: (Na linha da proeminência do maléolo medial, numa depressão entre o maléolo medial e o tendão de Aquiles.) – Tonifica QI e quando utiliza moxabustão tonifica o yang do rim.
R7: (2cun acima da proeminência do maléolo medial, frente ao tendão de Aquiles.) – Tonifica yang do rim e QI, elimina umidade e junto com IG4 (intestino grosso) provoca sudorese;
F3: (Na depressão entre o 1º e o 2º metatarso próximo às bases metatarsais.) – Mestre dos tendões, acalma o shen, tonifica QI, alivia estagnação do fígado, promove fluxo suave do QI, circula xué, evita invasão do Baco pâncreas, estomago por QI do fígado, alivia estagnação de QI e xué (no tórax e nas mamas).
B11: (1,5 cun lateral a linha mediana posterior, na altura da borda inferior do processo espinhoso da 1ª vértebra torácica.) – Mestre dos ossos e atuam em todas as patologias ósseas.
VB34: (Na depressão anterior e inferior da cabeça da fíbula.) – Mestre da medula e promove o livre fluxo suave do QI no fígado.
IG4: (No lado radial, entre o 1º e o 2º osso metacarpal.) – Interrompe a dor, dispersa vento e calor, alivia espasmos junto com (R7 e F3), beneficia os olhos, nariz, orelha, boca. Acalma a mente, domina o QI rebelde do estomago, pulmão e do fígado.
Ainda no GRUPO B também foi aplicada a técnica de moxabustão indireta com a extremidade acesa do bastão a uma distância de 2 cm. da superfície do corpo, realizando movimento em varredura na região dorsal, de vai e vem na horizontal, sobre o trajeto do meridiano, por aproximadamente 10 minutos. Esta técnica apresenta indicações como: deficiência de QI, tonificar yang, circular o QI e o xue nos meridianos, doenças degenerativas, patologias crônicas, lombalgias por frio, lesões em desportistas, patologias de frio, umidade e vento, paralisia facial, distúrbios respiratórios e prevenção de doenças.
RESULTADOS
O quadro abaixo mostra o resultado evolutivo da dor referente ao GRUPO A que foi submetido a técnica de auriculoterapia. Observa-se que foram realizadas 5 sessões e foi possível avaliar a diferença do nível de dor em alguns voluntários, conforme as sessões foram realizadas. Voluntários que seguiam as orientações obtiveram melhora significativa do quadro de dor.
O quadro a seguir mostra a evolução do GRUPO B e nota-se que todos os voluntários conforme as sessões foram sendo realizadas, obtiveram melhora significativa do quadro de dor, sentiram se bem com o uso da técnica de moxabustão referindo alivio nas dores durante as semanas que as aplicações eram realizadas, mesmo observando que 2 voluntários não seguiam as orientações, foi possível notar melhora do quadro de dor dos mesmos.
CONCLUSÃO:
Este estudo mostrou que a dor crônica da osteoartrose em pouco tempo será um caso de saúde pública, pois afeta 70% da população mundial. A Medicina Tradicional Chinesa não classifica as doenças de forma tão restrita como faz a medicina ocidental. Para a MTC não existe uma doença, mas sim uma desarmonia ou desequilíbrio energético do indivíduo que necessita de um tratamento geral, visando seu equilíbrio como um todo. O objetivo da pesquisa foi analisar a evolução de cada tratamento proposto de acordo com a melhora relatada pelos voluntários através de uma escala de pesquisa (EVN). E de acordo com os resultados apresentados foi possível notar melhora do quadro de dor dos pacientes voluntário, mostrando dessa forma que a MTC e suas técnicas são de grande importância na redução dos quadros álgicos.
Autora do Artigo: Carla Ceppo