CAMILA BATISSOCO GARCIA
Trabalho apresentado ao CETN, para obtenção do título de especialista em acupuntura – Campinas 2015.
1- INTRODUÇÃO
Cerca de um terço dos adultos têm insônia em algum período do ano. Além disso, a maior parte não tem às oito horas de sono necessárias para o descanso do corpo, dormindo menos de sete horas por noite (GOMES, 2014).
Segundo Pinto Jr et al. (2010), a insônia continua sendo uma entidade clinica de difícil diagnóstico, exigindo uma abordagem estratégica adequada e planejamento no atendimento clínico.
Esta doença pode acarretar na diminuição da produtividade da pessoa e no comprometimento da qualidade de vida (GOMES, 2014).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) possui uma visão bastante peculiar do corpo humano (SILVA FILHO e PRADO, 2007). Maciocia (1996) descreve que na Medicina Chinesa, há um relacionamento entre o corpo e a Mente.
A insônia é reconhecida pela OMS como um problema de saúde pública, devido ao impacto negativo à saúde física e mental, capacidade para o trabalho, atividade social e qualidade de vida dos indivíduos, sendo considerado o transtorno do sono mais frequente na população (ROBAINA et al., 2009).
Ter insônia é apresentar dificuldades repetidas para iniciar e/ou manter o sono (insônia inicial e de manutenção), despertar precoce (insônia terminal) ou sono não restaurador, segundo a Classificação Internacional de Distúrbios do Sono (PASSOS et al., 2007).
A insônia tem sido descrita como um queixa, um sintoma, uma perturbação e / ou uma consequencia de outros problemas clínicos, apresentando um conceito amplo (LOAYZA et al., 2001).
Durante a infância as crianças apresentam grandes variações na quantidade de sono. Nos primeiros dias de vida dormem, em média, 16 horas por dia, decrescendo para 14 horas ao final do primeiro mês e no sexto mês de vida costumam dormir cerca de 12 horas por dia. Depois desta idade o tempo de sono da criança diminui 30 minutos ao ano até os cinco anos (MULLER e GUIMARÃES, 2007).
Na fase adulta ocorre uma diminuição progressiva do sono e mudanças do ciclo do sono em função da idade e de fatores externos, onde ocorrem perdas na duração, manutenção e qualidade de sono. O uso de medicações, a dor muscular e/ou articular, ambiente inadequado (barulho em excesso, local quente, muita claridade, colchão ruim) e condições clínicas diferentes são alguns fatores que afetam a qualidade e a quantidade de sono. Os idosos são mais propensos a terem a qualidade do sono afetada (MULLER e GUIMARÃES, 2007).
Para Maciocia (1996), o termo “insônia” é abrangente a vários e diferentes problemas, como a incapacidade de adormecer com facilidade, acordar durante a noite, sono inquieto, acordar muito cedo e apresentar um sono perturbado pela presença de sonhos.
Segundo Kozasa (2010), a insônia pode ter diferentes significados dependendo do quadro clínico apresentado pelo sujeito. De acordo com Silva Filho e Prado (2007), a insônia pode estar relacionada à alguma causa especifica: estressa, dor muscular e/ou articular, depressão, ansiedade, ansiedade, uso de medicamentos, ambiente inadequado.
A insônia por estar relacionada à qualidade ou quantidade de sono sendo uma queixa ou uma parte dos sintomas (de um distúrbio do sono ou de um transtorno mental ou orgânico) ou um diagnóstico de distúrbio do sono (primária ou secundária), indicando a necessidade de um processo de diagnóstico diferencial. (KOZASA, 2010)
A insônia primária é caracterizada pela dificuldade em iniciar e manter o sono e não ter a sensação de um sono reparador, durante um período não inferior a um mês. O início é repentino, que provavelmente coincide com alguma situação de social, estresse ou familiar. (MONTI, 2000). Não possui uma causa bem definida e um fator causal evidente, mas ocorre uma melhora espontânea (SILVA FILHO e PRADO, 2007).
Neste caso o paciente apresenta dificuldades para começar a dormir e acordo seguidamente durante a noite, apresentando um aumento do nível de alerta fisiológico e psicológico, não sendo frequente a queixa única do paciente de ter um sono inquieto e superficial (MONTI, 2000).
O tratamento de insônia primária usualmente combina medidas farmacológicas e não farmacológicas. A medida farmacológica consiste na utilização de fármacos hipnóticos como benzodiazepínicos (hemitartarato de zolpidem, flunitrazepam, midazolam, entre outros) que levam a diminuição do tempo de indução do sono, aumentado a sua duração dando lugar a um sono tranqüilo e reparador (MONTI, 2000).
As medidas não farmacológicas incluem higiene do sono (aconselhamento do paciente a praticar exercícios exclusivamente na parte da manhã, evitar álcool e bebidas que contém cafeína, nicotina, comer refeição acompanhada da ingestão de água limitada durante a noite, providenciar que colchão, cama e ambiente estejam em temperaturas agradáveis, regularizar a hora de deitar e levantes e usar o quarto somente para dormir e manter a atividade sexual.), terapia de conduta (engloba o relaxamento, como as terapias de relaxamento, meditação transcendental (“meditação consciente”), ioga, biorretroalimentação e controle de estímulos) (MONTI, 2000) e terapia cognitiva (tem o objetivo de eliminar atitudes errôneas e crenças relacionadas ao sono, como a falsa expectativa do tempo necessário do sono, a amplificação das consequências e uma concepção inadequada das causas da insônia) (SOARES, 2006).
Já a insônia crônica apresenta longa duração e são observados sintomas cognitivos e alterações do humor (irritabilidade), redução da memória e concentração, redução do desempenho profissional e acadêmico (SILVA FILHO e PRADO, 2007). Nesta fase o paciente não apresenta a sensação de bem- estar ao longo do dia, caracterizando a alteração do estado de ânimo e motivação (MONTI, 2000). Cerca de 5% da população em geral sofre de insônia crônica, enquanto 20% a 40% podem apresentar sintomas de insônia de forma intermitente (SOARES, 2006).
Em todas as fases da vida adulta pode-se observar comumente a insônia. Entre os adultos, as mulheres apresentam risco significativamente maior para quadros de insônia, sendo cerca de 30% a 80% mais freqüente entre mulheres do que entre os homens (SOARES, 2006).
2- OBJETIVO
O objetivo do trabalho foi avaliar o desempenho e os resultados da utilização da técnica de Auriculoterapia Francesa no tratamento da insônia.
3- METODOLODIA
3.1 MATERIAIS UTILIZADOS
Foram utilizados os seguintes materiais:
Para a entrevista do paciente: ficha de avaliação;
Para assepsia do pavilhão auricular: algodão, álcool 70% e pinça;
Para localização dos pontos: apalpador de pressão e mapa auricular com a localização das regiões auriculares contendo os pontos a serem tratados (NETO, 2013).
Para estimular os pontos: agulhas sistêmicas 0,20mm x 15mm e agulha semi permanente de implante (todas as agulhas de uso individual e descartável);
Esparadrato: para fixar as agulhas semi-permanentes de implante.
3.2 ENTREVISTA COM A PACIENTE
3.2.1 Características da paciente
M.A.B.G, sexo feminino, com 57 anos, aposentada, relatando ter dificuldade de dormir. Já faz uso de medicação psicotrópica (Rivotril 0,25mg) toda noite ao se deitar.
Relata sono leve, conseguindo dormir no máximo 6 horas por dia, sonha bastante, muitas vezes perde o sono e não consegue voltar a dormir. É bastante ansiosa, extremamente ativa e relata que tem estado bastante preocupada, angustiada e triste devido à problemas de saúde na família.
3.2.2 Protocolo
As sessões foram realizadas durante 30 dias, duas vezes a cada 7 dias, no período de 01 novembro de 2014 a 01 dezembro de 2014, seguindo a ficha de avaliação.
De acordo com a avaliação da paciente os pontos escolhidos e utilizados durante as sessões estão descritos abaixo:
1- Ponto olho: utilizado para distúrbios de ansiedade, insônia e para sonhos;
2- Ponto trago anterior: utilizado para distúrbios do sono;
3- Ponto O`: utilizado para problemas de sono e memória;
4- Pulmão: utilizado para sintomas de angústia e ansiedade;
5- Ponto Ombro: utilizado para acúmulo de responsabilidade;
6- Medular: Utilizado para distúrbios do sono;
Em cada sessão (realizada as terças e quintas) foram utilizadas agulhas sistêmicas que permaceciam na orelha durante 20 minutos. As quintas – feiras a paciente saia da sessão com agulha semi permancente no ponto do olho e sementes de mostarda nos outros pontos para que a estimulação dos pontos permacesse durante o intervalo entre as semanas.
4- RESULTADOS
Na primeira semana de tratamento a paciente relatou uma melhora leve na qualidade do sono referindo dormir melhor, um período mais longo nas primeiras noites (3 horas de sono) e com presença de muitos sonhos. Na segunda semana houve relato de melhora em relação aos sonhos, conseguiu dormir mais rápido, durante 5 horas. Na terceira semana referiu sentir-se mais descansada quando acordava, mas devido a alguns problemas perdeu o sono durante a noite algumas vezes, porém conseguiu retornar em pouco tempo, dormindo cerca de 6 horas. Na quarta semana paciente referiu ter tido uma melhora significativa com relação ao sono comparado ao da semana anterior. Conseguiu dormir durante 8 horas e percebeu que houve diminuição significativa de sonhos durante a noite, acordando bastante descansada, conforme evidenciado na Tabela 1.
Tabela 1. Evolução do tratamento para insônia | 1ª semana | 2ª semana | 3ª semana | 4ª semana |
Qualidade do sono | R | M | B | O |
Horas de sono | R | M | B | O |
Sonhos | M | M | R | P |
Orientado por profa. Luciana Mendes Vinagre, adaptado por profa. Brena Montanha.