Tratamentos cuidam desde artrose e displasia a problemas gástricos, entre outros
RIO — A vira-latas Mel pode se considerar uma sobrevivente. Há pouco mais de um ano ela foi atropelada por um carro e teve uma fratura de coluna que rompeu sua medula. O resultado foi uma enorme perda de massa muscular, assim como a perda do movimento das patinhas traseiras. Passou por duas cirurgias e viu seu dono abrir mão dela por não ter condições de pagar o tratamento adequado.
Quem vê Mel hoje, prestes a fazer 5 anos e toda serelepe, não acredita que ela passou por tamanho sofrimento. Depois que teve alta da cirurgia começou o tratamento com acupuntura e fisioterapia, ambos uma vez por semana. Agora, as sessões acontecem a cada 15 dias, com exercícios diários em casa.
— O andar que ela tem hoje é medular, não coordenado, mas a Mel é praticamente independente. Só depende da gente para urinar porque perdeu o tônus da bexiga. Ela até tem uma cadeirinha de rodas, mas quase não usa, pois não se adaptou tão bem. Prefere andar sozinha — conta a fisioterapeuta veterinária da cadelinha, Daniela Borga, que praticamente adotou Mel junto com outra colega veterinária.
Mel é mais um pet da legião de bichinhos que se tornaram pacientes da chamada medicina veterinária holística ou medicina integrativa. São práticas que avaliam o animal como um todo e que propõem terapias alternativas que vão proporcionar qualidade de vida e não apenas tratar uma patologia pontual. Essa é a proposta da Vetchi Medicina Veterinária Holística.
— Somos um coletivo de veterinárias holísticas, com propósito de uma abordagem integrativa e uso de terapias mais naturais no tratamento dos pacientes, que são avaliados como um todo. Os objetivos são tanto a cura quanto a prevenção de desequilíbrios no organismo e a promoção da saúde — explica a idealizadora do grupo, a médica veterinária Bia Hassan.
Entre as terapias utilizadas estão acupuntura, homeopatia, nutrição, fisioterapia, ozonioterapia, florais e reiki. Os atendimentos são feitos em domicílio para maior conforto dos pets, ou ainda no Instituto de Especialidades em Medicina Veterinária (Iemev), em Botafogo. Bia deixa claro que a medicina holística não é contra a alopatia, apenas evita os excessos e, quando possível, retarda a necessidade de seu uso.
— A terapia holística retarda a necessidade do uso de antibióticos e anti-inflamatórios. Mas é claro que quando o animal está numa crise ou com um problema mais grave e precisa ser internado a gente faz uso da alopatia — ressalta.
É o caso da gatinha Ísis, de presumidos 2 anos. Ela é portadora do vírus da FIV (imunodeficiência felina, também chamada de “Aids Felina”) e da FeLV (leucemia felina), ambas ainda sem cura.
— Às vezes a doença evolui para um quadro mais grave, mas por enquanto estamos conseguindo manejar com homeopatia, ainda sem precisar de antibióticos — diz Bia.
A veterinária explica que, com este tratamento, o corpo é estimulado pelos medicamentos a desenvolver uma resposta orgânica e natural para sua recuperação. Entre os componentes estão substâncias vegetais, minerais e animais, de forma ultradiluída. O dono de Ísis, Marcelo Nogueira, conta que, em seis meses de acompanhamento, os resultados são grandes.
— Ela melhorou muito da parte respiratória e não teve os efeitos colaterais que apresentava com os antibióticos — diz ele, que junto com sua mulher foi “escolhido” pela gatinha durante uma festa no Jockey. — Estávamos jantando e ela deitou do lado dos nossos pés. E conquistou todo munto.
Atuação de forma combinada
A fisioterapia — que é o tratamento mais comum de reabilitação e trata problemas como artrite, displasia e hérnias — tem seus efeitos potencializados quando combinada com opções alternativas. O pug Bam já é um “senhor” de 13 anos, e carrega consigo alguns problemas típicos da idade, como uma incômoda artrose na coluna e uma cistite crônica. No fim do ano passado o cãozinho teve um derrame e iniciou um tratamento com fisioterapia e hidroesteira no Club Pet. A fisiatra Flávia Fontaine conta que Bam faz um tratamento intensivo três vezes na semana.
— Estamos trabalhando na analgesia, na regeneração dos tecidos e no fortalecimento da sua musculatura, já que o derrame afetou o lado direito dele — explica.
Segundo o dono Alberto Sobreira, Bam vem progredindo bem, e o objetivo é que, assim que estiver mais restabelecido, viaje com a família para Madri, cidade onde vão morar:
— Estamos fazendo tudo para melhorar a qualidade de vida dele, pois é um membro da família. Mudamos a alimentação, e agora ele só come ração diet, além de carne moída e peito de frango. Ele era muito guloso, mas já conseguiu perder peso, o que é fundamental para o sucesso dos tratamentos.
Outra atividade que agrada aos hóspedes de quatro patas do local é a musicoterapia, realizada com os cães do Day Care.
— Durante o dia, além de atividades físicas e estímulos mentais, é importante ter momentos de relaxamento. Há cães cuja energia é tão grande que não conseguem conter a própria excitação — conta a sócia Fabiana Elkind Velmovitsky.
Ela explica que, após o almoço, é a hora da musicoterapia, que ajuda a relaxar com músicas calmas, lúdicas e bem suaves. Ao mesmo tempo, a terapia desenvolve a audição e a concentração.
— Muito além do mero som, nessa hora do dia os cães já sabem que é o momento do relax e do soninho, e já vão escolhendo o lugar que preferem, nas caminhas ou ao lado da professora. Quando acaba a aula, ainda ficam bem relaxados por um bom tempo, quando então retomam as atividades físicas — diz.
Um tratamento que faz parte da medicina tradicional chinesa, a acupuntura já se popularizou entre os brasileiros. Portanto, foi natural que a terapia se estendesse também para os animais de estimação. A acupuntura ajuda a aliviar dores, diminuir o estresse, combater inflamações, regular o funcionamento gástrico e melhorar a imunidade, além de dezenas de outros benefícios. O lhasa apso Loopy faz acupuntura há pelo menos dois dos seus 15 anos.
— Ele sofria de graves distúrbios gástricos, alterações no fígado e problemas na coluna. Hoje ele está tão bem que as sessões acontecem apenas de 15 em 15 dias — relata o dono, Lúcio Machado.
O estresse, mal que tanto acomete os seres humanos, também afeta os bichinhos. Para resolver esses casos, os florais entram em cena para atuar no equilíbrio energético e emocional e no bem-estar do paciente. As essências florais são extratos líquidos sutis preparados a partir de flores silvestres. A terapeuta floral Marcia Rissato, formada pela Bach Foundation e pelo Nelsons World, criou uma linha específica para pets, que também utiliza em sua gatinha Doce, uma maine coon, de 2 anos.
— Os florais de Bach são indicados para situações de emergência no dia a dia do animal de estimação ou quando ele precisa de ajuda em um problema emocional ou comportamental, como medo de barulho alto, comum em fogos ou trovões. E também depois de choque ou trauma, adaptação à perda de um companheiro ou a um novo ambiente, e em demonstrações persistentes de agitação ou forte ansiedade — diz ela, que recomenda os florais para cães, gatos, coelhos, répteis, pássaros e até peixes.
A cura por meio de água e luzes
A prática tem mostrado que a água é, de fato, um excelente recurso para a reabilitação e condicionamento dos animais. No Club Pet, uma alternativa de tratamento é a hidroesteira, indicada para cães e gatos que necessitam de condicionamento físico, seja por obesidade, doença ou apenas por uma questão estética. Além disso, segundo a sócia Fabiana Velmovitsky, a atividade tem excelentes resultados no tratamento de displasia, pós-cirúrgico e para dificuldades motoras.
— Isso porque é possível estabelecer um programa de treinamento próprio, na intensidade e duração adequadas para cada animal — diz ela, que também recomenda a natação canina. — A atividade é ótima para animais com problemas de quadril, ligamentos ou que já passaram por algum tratamento cirúrgico.
A dachshund Wendy, de 8 anos, começou o tratamento em janeiro. Ela tem artrose nas patas dianteiras e na cervical, além de estar precisando perder peso.
— A mãe da Wendy teve hiperadrenocorticismo, que é uma doença genética. Estamos fazendo um trabalho preventivo para evitar ao máximo que ela também possa desenvolver o mesmo mal. Para isso, ela faz a hidroesteira, acupuntura e teve toda sua alimentação reformulada — explica a dona, Renata Pinto.
E já que o assunto é água, é preciso lembrar que alguns animais não são muito fãs de banho. Para minimizar o estresse causado por esse momento, a terapeuta Naiara Sobral começou a incluir técnicas como reiki e cromoterapia nos pacotes de banho da Pet Sweet, marca criada por ela com o conceito de spa animal. O atendimento é voltado para cães e gatos e oferece um apanhado de técnicas que alinham cuidados e serviços de higienização com foco no bem-estar.
— O reiki é uma terapia holística que trabalha com energização, realinhando os canais de energia e restabelecendo a saúde física e emocional. Qualquer ser vivo pode recebê-lo, até plantas — ressalta Naiara. — Já a cromoterapia ajuda a estimular o fluxo de energia e tem a luz como agente de tratamento.
A agitada Zaha, por exemplo, fica tranquila e não emite qualquer latido enquanto recebe reiki de Naiara Sobral. A terapeuta explica que a aplicação das terapias holísticas pode ser durante ou após o banho do animal, que também tem um diferencial. É dado na casa onde o pet vive, sem uso de soprador nem guia de contenção. Focinheira, só se for extremante necessário. O reiki e a cromoterapia estão nos pacotes de banho e de tosa, mas podem ser contratados em separado.
— O atendimento é feito após a formulação de uma série de perguntas a respeito da vida do pet, como cirurgias a que foi submetido, idade, alergias e características. Se o tutor autorizar e o cão tiver necessidade, aplico o reiki e a cromoterapia. Faço tudo com carinho para que o animal se sinta o menos incomodado possível, sem medo — diz.
fonte: O Globo