Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Cardiologia mais de metade da população portuguesa entre os 18 e os 79 anos apresenta pelo menos dois fatores de risco para a doença cardiovascular: excesso de peso, hipertensão, colesterol muito elevado e tabagismo. Na maioria das vezes estes fatores podem ser controlados pelo próprio doente, noutras é necessário ajuda por meio de medicação e/ou tratamentos complementares.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) pode ajudar na prevenção e recuperação de doentes cardiovasculares por intervenção direta na fisiologia cardíaca ou por ação indireta, intervindo nos fatores de risco.
Na avaliação do doente cardíaco em Medicina Chinesa temos em consideração diversos fatores, como as emoções (tendo em especial atenção aquela que é mais susceptível às suas alterações: a alegria ou euforia), a alimentação, o estilo de vida, as manifestações clínicas e todo o ambiente envolvente no dia-a-dia da pessoa, pelo que todos estes fatores constituem a base da determinação do protocolo de tratamento do doente.
A maioria dos pontos específicos do coração, localizam-se em áreas bem determinadas principalmente nos braços, sendo que os que estimulam as áreas necessárias ao tratamento dos fatores de risco, se encontram espalhados pelo corpo.
A acupuntura tem efeitos de regulação do sistema nervoso autônomo no ser humano, nomeadamente ao nível do sistema vegetativo cardíaco. Existem já estudos realizados, nomeadamente em Portugal, dos efeitos da acupuntura no coração, com registo em exames complementares de diagnóstico, que confirmam que há uma ação normalizadora do funcionamento cardíaco.
Alguns pontos de acupuntura têm efeitos diretos na função cardíaca sendo possível verificar, nos tratamentos de MTC:
- Abrandamento e normalização dos batimentos cardíacos por minuto;
- Melhoria da vascularização global pela vasodilatação que provoca, sendo especialmente importante nas coronárias (vasos que irrigam o coração);
- Melhoria na fluidez do sangue, exercendo efeito anticoagulante, normalmente recorrendo a técnicas adjacentes à acupuntura, como a fitoterapia ou a moxabustão (aqui é necessário considerar a medicação que o doente faz, sabendo que a toma de antiagregantes plaquetários, anticoagulantes ou fibrinolíticos condiciona a utilização destas técnicas, para que não haja o efeito contrário com risco hemorrágico, por exemplo);
- Redução da dor torácica (sabendo que é imprescindível saber distinguir a dor de angina aguda, onde é preciso ter conhecimento profundo dos sinais de alerta, sabendo que nestas situações o doente tem que ser visto em contexto hospitalar da medicina convencional).
No que respeita a fatores de risco, a MTC trata o doente cardíaco promovendo as condições ideias para prevenir episódios agudos, muitas vezes graves:
- Reduz significativamente os níveis de stress. Todos sabemos que os doentes cardíacos são muito susceptíveis a este fator e não devem sofrer com ele;
- Ajuda a na diminuição do colesterol prejudicial às artérias, cujo aumento na corrente sanguínea pode provocar aterosclerose, “entupindo” as artérias e aumentando o risco de enfarte e AVC;
- Regulação da tensão arterial (note-se que é necessário perceber que não é apenas a hipertensão que tem que ser tratada, a hipotensão não pode ser promovida excessivamente pois tensão arterial demasiado baixa também constitui um perigo, por isso é necessário ter conhecimento aprofundado do percurso clínico do doente, e saber que pontos e técnicas devem ou não ser aplicados no seu contexto atual).
Em todos os doentes é importante haver conhecimento do acompanhamento com a medicina convencional, e nos doentes cardíacos este paralelismo é fundamental, devido à fragilidade dos doentes e à medicação que fazem, que muitas vezes, além de ser bastante, requer cuidados particulares.
A cardiologia é uma área muito nobre também para a Medicina Chinesa, que pode ajudar imenso o doente cardíaco, tanto na prevenção como na sua recuperação, e as técnicas adicionais representam uma mais valia tanto no aumento da esperança de vida como na melhoria da qualidade da mesma.
Muito mais haverá a dizer sobre este tema que é tão apaixonante… essa emoção tão própria do coração!!
Paula Gradim – Especialista de Medicina Chinesa
fonte: Bairrada Informação – Portugal