Por Isaac Guimarães Jr, Epoch Times
A síndrome do intestino irritável (SII) é um transtorno intestinal funcional caracterizado por alteração no hábito intestinal, associado à dor e/ou desconforto abdominal. É frequentemente acompanhada de inchaço, distensão e alterações na defecação, com alternância de constipação e diarreia. A medicina chinesa considera a síndrome do intestino irritável uma condição relacionada com alterações energéticas envolvendo os intestinos e também em órgãos como os rins, baço e fígado.
Na concepção ocidental essa síndrome não se relaciona com patologias inflamatórias, não sendo evidenciada por nenhum subtrato fisiopatológico causador dessa síndrome. Suas características são as manifestações episódicas vinculadas às refeições, ou em decorrência de uma infecção intestinal, podendo também manifestar-se em períodos de muita tensão emocional.
O intestino delgado tem a importante função de separar substâncias puras e utilizáveis das impuras e turvas que necessitam eliminação. Na medicina chinesa todas as funções “orgânicas” possuem uma correspondência com as nossas funções psíquicas. O intestino delgado além de auxiliar-nos no processo digestivo, possui uma função que atua em nosso psiquismo auxiliando a percepção daquilo que é importante e deve ser assimilado e o que deve ser descartado e eliminado. Dessa forma o intestino delgado é uma víscera que auxilia em nossos processos críticos. Podemos “criticar muito” e lançar muitas coisas fora, assimilando pouco, ou inversamente, podemos absorver tudo, gerando acúmulo de adiposidades, sobrepeso e constipação.
Nos quadros de diarreia devemos observar as manifestações de medo ou inconformidade na qual a pessoa que atravessa o processo não se sente forte ou capaz de lidar com os problemas. Com essa manifestação a pessoa se torna livre para retirar-se e eliminar o conteúdo sem se preocupar com a análise das impressões. Juntamente com esse conteúdo, perde-se muito líquido. Esse líquido governado pelos rins representa a flexibilidade e sabedoria para expandir as fronteiras que nos infundem medo e causam constrição. Nesses casos a administração de líquido como parte do tratamento representa simbolicamente a flexibilidade necessária para transpor os limites do medo. Também nos ensina a deixarmos de lado os apegos, permitindo as situações fluírem e tomarem seu curso natural.
O intestino grosso é uma víscera que realiza a reabsorção de líquidos e eliminação dos detritos sólidos resultantes do processo digestivo. Alguns psicanalistas interpretam a defecação como um ato de doação e generosidade. A constipação pode revelar questões relacionadas com a dificuldade de desprender-se daquilo que possui, com temas relacionados com a avareza. Outra correlação interessante é que o intestino delgado corresponde ao pensamento consciente, analítico e o intestino grosso corresponde ao subconsciente. Então, se no plano físico o intestino grosso pertence ao subconsciente, as fezes correspondem aos conteúdos do subconsciente. Dessa forma podemos perceber o medo de permitir que o conteúdo subconsciente seja percebido conscientemente. Trata-se de uma tentativa de mantê-lo oculto, fechado em nosso interior.
O fígado abriga a nossa alma sensível, que na medicina chinesa e no conhecimento oriental é conhecida como “Hun”. Essa entidade visceral percebe os impulsos provenientes do exterior e organiza a nossa homeostase interna, sendo também responsável pela nossa imunidade tal como um general estrategista. O fígado em bom estado consegue auxiliar o estômago e o baço em suas funções digestivas e também fornecer ao ser humano o sentido de “direção/caminho” a seguir. Quando prejudicamos o nosso fígado perdemos a direção e dessa forma o ser humano preocupa-se, torna-se ansioso e sem a coragem necessária para atravessar as dificuldades da vida.
Os rins regem o metabolismo dos líquidos orgânicos e abrigam a nossa “vontade”. Quando prejudicados pelos nossos hábitos intemperantes, como a falta de equilíbrio entre o trabalho e descanso, atividade sexual excessiva, exposição ao frio, transpiração excessiva, ou devido a alguma doença prolongada, sua energia debilita-se provocando alterações em outros sistemas orgânicos como o sistema digestivo. As emoções que lesam diretamente os rins são o medo e a indecisão. Pessoas que vivem com medo… De perder o emprego, de ser assaltada, de adoecer, enfim… Enfraquecem continuamente a energia renal produzindo sintomas físicos e funcionais com o passar do tempo.
A medicina chinesa considera a síndrome do intestino irritável uma doença crônica psicossomática que necessita uma abordagem energética capaz de produzir não apenas mudanças fisiológicas e funcionais, mas deve atingir o espírito, restaurando os desvios do pensamento e da conduta humana, as verdadeiras causas da enfermidade. O Ling-shu, uma obra canônica da medicina chinesa relacionada a acupuntura diz: “O clínico inferior perturba-se com os sinais e sintomas, o clínico superior vigia a energia e o espírito!”.
Mas como pode uma medicina antiga e milenar ser tão precisa? Diferentemente da medicina ocidental que tem a cada dia aprimorado seus recursos diagnósticos através de modernos equipamentos, a medicina chinesa conta com milênios de observação que inclui: a pulsologia (percepção da energia dos órgãos através do pulso radial); observação das cores da face; dos olhos; da cor, forma e saburra da língua; dos odores emitidos; dos sons produzidos, desde o tom de voz até os ruídos obtidos por meio da palpação e percussão tóraco-abdominal; do questionamento sobre as excreções; hábitos de vida. Enfim, uma avaliação que permita compreender, apreciar o paciente no exato momento em que se encontra diante do terapeuta. Trata-se de uma arte que para ser refinada necessita dedicação, estudo, reflexão e uma longa prática clínica.
Isaac Guimarães Jr Fisioterapeuta
Especialista em Acupuntura com formação em Quiropraxia Clínica e Terapia Manual Ortopédica.
fonte: Epoch Times em Português