O túnel do carpo é uma estrutura rígida dada suas características anatômicas, e qualquer aumento de pressão no interior comprime o nervo mediano contra o ligamento transverso, gerando uma lesão por compressão ou tração e sintomas neurológicos distais ao punho, denominada síndrome do túnel do carpo.
O túnel do carpo é um canal que tem em média 3 cm de largura, formado pelos ossos do punho que lhe servem de base e um ligamento transverso, que lhe serve de teto. Por esse canal passa o nervo mediano e os tendões responsáveis pela flexão dos dedos.
Síndrome do túnel do carpo é uma neuropatia frequente de prevalência de 1 a 5% na população geral, e é particularmente comum entre as mulheres, estas com risco aumentado entre 40 e 60 anos. A condição tem implicações consideráveis para o trabalho e os custos de saúde.
Os fatores predisponentes incluem a predisposição genética, diabetes mellitus, gravidez, obesidade, hipotireoidismo, acromegalia e infiltração do retináculo flexor na amiloidose primária e hereditária. Também pode ocorrer como consequência do comprometimento do pulso articular na artrite reumatoide ou osteoartrite, ou deformidade relacionada a uma fratura.
Não se sabe se o uso excessivo das mãos pode ser uma das causas da síndrome, mas a maioria dos pacientes relata que os sintomas são agravados pelo uso excessivo das mãos. Desse modo, diz-se que a principal causa da síndrome do túnel do carpo é a lesão por esforço repetitivo, como digitar ou praticar instrumentos musicais.
Os sintomas da síndrome do túnel do carpo são causados pela compressão do nervo mediano no túnel do carpo no punho e são variáveis, mais comumente dor, dormência e parestesia ou formigamento dos dedos inervados pelo nervo mediano, do primeiro ao quarto quirodáctilo. Os sintomas costumam piorar à noite e é comum o despertar noturno.
Outros sintomas menos comuns incluem mão fria, fraqueza e atrofia da região afetada, pele seca, edema ou mudanças de cor. Os sintomas podem reaparecer durante o dia quando as mãos são usadas para o transporte de coisas e em atividades que envolvem maior uso das mãos.
O diagnóstico pode ser feito clinicamente com o teste de Phalen e o sinal de Tinel, e confirmado por ultrassonografia e eletroneuromiografia, onde se observa uma velocidade de condução diminuída do nervo mediano. Iniciar o tratamento ainda nos estágios iniciais é muito importante.
Preconiza-se repouso, imobilização noturna e exercícios de alongamento, além do uso de anti-inflamatórios não esteroides, corticoesteroides e vitamina B. A cirurgia está indicada para liberação do nervo mediano nos casos em que o tratamento conservador não surge efeito satisfatório ao final de oito semanas.
Temos empregado a acupuntura como tratamento adjuvante com bons resultados, embora as últimas revisões sistemáticas tenham demonstrados resultados pouco favoráveis, uma vez que poucos são os ensaios clínicos randomizados e com amostragem numerosa.
Pesquisas mostram que o tratamento com acupuntura pode ajudar na recuperação do paciente por agir em sítios cerebrais conhecidos por reduzir a sensibilidade à dor e estresse, liberar substâncias com propriedades anti nociceptivas e regular o sistema límbico.
Encontramos artigos comparando o tratamento com prednisolona durante quatro semanas e com acupuntura duas vezes por semana, pelo mesmo período, e os dados analisados mostraram que não houve diferença no resultado final. Quando a comparação foi feita entre o tratamento com imobilização, vitamina B e falsa acupuntura, e o tratamento feito com imobilização e sessões de acupuntura duas vezes na semana, este apresentou melhores resultados ao fim de quatro semanas.
Uma comparação foi feita entre um grupo que usou ibuprofeno por 10 dias e um grupo tratado com acupuntura por quatro semanas, e este apresentou melhora significativa tanto clínica quanto no eletrodiagnóstico, além de nenhum efeito colateral. Alguns pacientes que usaram ibuprofeno apresentaram sintomas gastrointestinais.
Cabe ressaltar que todos os trabalhos foram feitos com pacientes diagnosticados com síndrome do túnel do carpo leve a moderada, nenhum com indicação cirúrgica. Mais estudos se fazem necessários com maior amostragem e maior rigor científico para corroborar os resultados que já observamos na prática clínica.
Temos tratado pacientes com síndrome do túnel do carpo e nenhum deles evoluiu para o tratamento cirúrgico, alguns apresentaram remissão total dos sintomas e outros permanecem com sintomas leves controlados com exercícios de alongamento e cuidados específicos para não sobrecarregar as mãos durante o trabalho. Todos os pacientes referem não ter mais a necessidade de usar medicação anti-inflamatória e analgésica com o decorrer do tratamento com acupuntura.
As sessões são feitas duas vezes por semana no início do tratamento, passando a semanais de acordo com a evolução do quadro para melhor. A prescrição dos pontos é individualizada de acordo com o diagnóstico da Medicina Tradicional Chinesa e a ocorrência de outras queixas, e a duração total do tratamento varia de acordo com os mesmos critérios.
Autor: Lourdes Soares
fonte: PEBMED